Review – Trek to Yomi

Trek to Yomi acerta na apresentação, mas falha como jogo

Desenvolvido por Leonard Menchiari em parceria com o estúdio Wild Flying Hog, Trek to Yomi é um jogo que evocou diversas comparações com o trabalho do diretor Akira Kurosawa. Isso se deve tanto à temática do jogo — que evoca ideias de nobreza samurai, aliadas a uma tragédia aparentemente inevitável — quanto à sua apresentação visual.

Trek to Yomi é, acima de tudo, um jogo cinematográfico. Não no sentido de tirar o controle das mãos do jogador o tempo todo e fingir que é cinema, mas sim naquele em que a câmera se torna um elemento de narrativa forte: os ângulos e movimentos adotados ajudam a dar dramaticidade e fluxo à ação, garantindo uma experiência que, se não atinge níveis técnicos comparáveis à uma produção Triplo A, é sem dúvida uma das mais bonitas entre aquelas lançadas em 2022.

Ao mesmo tempo, todo o cuidado no quesito visual parece ter passado batido em relação à natureza de Trek to Yomi como um jogo. Mesmo sendo um game relativamente curto, com aproximadamente 5 horas de duração, ele consegue se provar curto e repetitivo, não sabendo ser tão atrativo do ponto de vista mecânico quanto é no visual.

Uma jornada de redenção

Trek to Yomi conta a história do samurai Hiroki, que tem sua infância marcada pela invasão de sua cidade por um grupo de bandidos. Isso ocorre em meio a um treinamento e, ignorando os conselhos de seu mestre de ficar onde está e proteger as pessoas a seu redor, o protagonista decide enfrentar os criminosos por conta própria.

A decisão funciona até o momento em que, se deparando com o líder dos invasores, Hiroki descobre que suas habilidades são insuficientes. Prestes a morrer, o jovem é resgatado por seu mestre, que paga pelos erros de seu discípulo com sua própria vida — situação que serve como última lição da nobreza e compromisso que um samurai deve demonstrar.

Anos depois, Hiroki assumiu a responsabilidade pela segurança de sua vila e, diante de uma nova invasão inimiga, toma a decisão de responder a ela de forma ativa. Seus esforços falham e o protagonista acaba às portas da morte — agora, somente uma bem-sucedida jornada pelo pós vida onde será preciso confrontar fantasmas do passado conseguirá fazer com que o protagonista consiga cumprir suas promessas com seu antigo mestre.

Trek to Yomi

Exploração leve e foco no combate

Toda essa jornada é feita por cenários que misturam muitos trechos lineares (repletos de combates) e áreas com exploração leve, nas quais optar por caminhos secundários garantem acesso a upgrades (como mais vida e vigor) e itens colecionáveis. Enquanto o jogo não possui um sistema de evolução de personagens, aos poucos ele vai destravando novos golpes e acesso a equipamentos como kunais, um arco e flecha e um canhão manual.

No entanto, as habilidades destravadas não trazem exatamente um senso de evolução: enquanto Trek to Yomi dura aproximadamente 5 horas, ele explora toda a variedade de inimigos em menos de 20% desse tempo — ou seja, você tem tempo mais do que suficiente para se acostumar com eles, acabando com qualquer nível de desafio que eles podiam trazer, especialmente durante encontros individuais.

Trek to Yomi

Também não colabora o fato de que não demora muito para que o jogo revele uma habilidade que, além de ser bastante efetiva, também é fácil de executar. Com ela desbloqueada, não faz muito sentido apostar nas combinações de golpes mais complexas que o game apresenta: além de menos poderosas, elas também expõem o personagem principal a mais riscos e possibilidades de morte.

Assim, o que acaba trazendo certa variedade a Trek to Yomi acaba sendo os conflitos com chefes, muitos deles com características sobrenaturais. Foram neles que me vi mais “travado” em meu avanço do jogo e realmente obrigado a usar ao máximo as habilidades fornecidas. No entanto, eles surgem em número limitado, e não compensam os longos trechos passados enfrentando sempre a mesma pouca variedade de inimigos.

Trek to Yomi

Trek to Yomi sobre em estilo, mas falta em substância

Como jogo, Trek to Yomi não consegue alcançar todo seu potencial graças ao que parece ser o efeito de uma maior preocupação com sua forma do que com seu conteúdo. Se os desenvolvedores cumprem bem o objetivo de fazer uma homenagem às obras de Kurosawa, eles falham em tornar a experiência satisfatória como o game.

O resultado é um título que, embora curto, é exaustivo ao final de sua aventura. Depois de passar poucas horas enfrentando onda após onda de inimigos exatamente iguais, me acabei desejando que o jogo explorasse mais de elementos que surgem nele de forma breve, como os quebra-cabeças e momentos de fuga.

Trek to Yomi

Na prática, Trek to Yomi cai naquela categoria de título que não é exatamente bom, mas também não é exatamente ruim, ocupando um espaço intermediário entre as categorias. Como uma experiência do Xbox Game Pass, por exemplo, ele vale o tempo e recompensa os jogadores com belos visuais e um estilo de apresentação competente. No entanto, em qualquer outro contexto, ele parece uma experiência melhor deixada de lado, diante de tantas outras opções mais competentes.

Nota: 6 de 10 inimigos repetidos que enfrentei

Trek to Yomi já está disponível em versões para PC (a qual jogamos), PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series X|S.