Review – CHORUS

CHORUS é uma opera espacial repleta de ação que peca pela história confusa

Em um futuro distante, a humanidade dominou as viagens espaciais, mas ainda está longe de conseguir viver em paz. Incentivada por uma forte crença religiosa, a força conhecida como O Círculo expande cada vez mais seus domínios pelo universo e usa poderes de domínio mental para acabar com qualquer disputa — mas também com o livre arbítrio e com as vidas daqueles que se opõem a seu controle.

Nesse contexto, você assume o papel de Nara, uma lutadora de elite do Círculo que decidiu abandoná-lo após um evento traumático. Sete anos após tomar a decisão que mudou sua vida, ela vive escondida em meio a uma colônia mineradora, onde encontrou uma comunidade e a tranquilidade que sempre procurou.

Mas é claro que isso não duraria muito: em contínuo processo de expansão, as forças de seus antigos aliados se aproximam e colocam em risco tudo o que ela conquistou. Para defender seus novos companheiros, ela é obrigada a voltar para os campos de batalha — e, para isso, deve voltar a controlar Forsaken, nave com consciência própria que é parte essencial de seu próprio ser.

Opera espacial de mundo aberto

É com esse termo que consigo descrever CHORUS, primeiro jogo desenvolvido pela Deep Silver Fishlabs, jogo interno da publicadora. Enquanto no começo parece que teremos uma experiência mais próxima a Ace Combat, mas no espaço, logo os elementos fantasiosos do jogo se assentam e percebemos que a experiência será bastante diferente.

O que diferencia o game de outros títulos semelhantes é o fato de Nara, a protagonista, poder contar com a ajuda de diversos “Ritos” — poderes que aprendeu com a ajuda do Círculo. Embora tenha se desconectado deles nos sete anos que passou longe de seus antigos aliados, ela se vê forçada a recuperá-los para se tornar uma lutadora completa.

CHORUS

Isso significa que o jogador vai ter à disposição poderes que não somente garantem uma grande variedade nos combates, como fazem da protagonista poderosa a ponto de parecer injusto. No começo só contamos com a capacidade de ler lembranças deixadas por outros personagens, mas, em questão de horas, é possível invocar tempestades elétricas, se teletransportar para trás dos inimigos e até mesmo se transformar em um raio de energia imparável.

Os sistemas de progressão do jogo também incluem armas que se tornam mais poderosas conforme as usamos (ou compramos modelos mais novos), o que também acontece com os poderes. Em outras palavras, quanto mais você joga, mais será capaz de derrotar esquadrões de inimigos em questões de poucos minutos.

Durante um tempo, o grande poder de Nara é balanceado pela inserção de oponentes com características que exigem certo aprendizado. No entanto, a variedade acaba se mostrando limitada rapidamente, e nem mesmo a inserção de naves gigantescas (que tem mais tamanho do que capacidade destrutiva) impede a sensação de que CHORUS é, essencialmente, um game bastante fácil em sua dificuldade normal.

Ao fim da aventura, seu desafio acaba sendo mais os ambientes limitados em que certas lutas acontecem do que os adversários em si. Felizmente, o chefe final acaba sendo uma exceção a essa regra: mesmo com diversos upgrades (resultantes da investigação extensa de missões secundárias), ele se mostrou desafiador e — confesso — me fez querer jogar o controle na parede de frustração.

CHORUS

CHORUS peca pela história confusa

Enquanto mecanicamente CHORUS me convenceu completamente e acabou com qualquer medo que pudesse ter ao iniciar a campanha, infelizmente a história é um tanto problemática. Você até consegue entender as linhas gerais do que está acontecendo, mas o game adora inserir termos confusos e personagens que não sabemos de onde surgiram de forma crescente.

A impressão que dá é que os desenvolvedores parecem assumir que o jogador tem conhecimento prévio de uma grande saga de livros relacionada ao universo de CHORUS, onde seus elementos básicos e personagens principais já foram desenvolvidos. O problema é: essa série não existe, o que nos deixa sem entender muitos dos elementos principais do jogo e a ligação entre as figuras que habitam seu universo.

Após mais de 10 horas com o game (que terminei em 19,9 horas), eu acreditava que já sabia qual era a missão de Nara e quais seus principais aliados. Tudo mudou quando não somente um antigo aliado (que nunca havia sido mencionado anteriormente) entrou em cena, como se revelou essencial para a derrocada do Círculo — mesmo que, poucos minutos antes, o roteiro tenha dado a entender que ele tinha morrido há muito tempo.

A impressão que dá é que, na tentativa de criar um universo rico e capaz de contar muitas histórias futuras (para quais o jogo dá claras brechas), a Deep Silver Fishlabs se esqueceu de que tinha que fazer algo coerente. O resultado é um universo que tem suas partes interessantes, mas que poderia se aproveitar de um pouco mais de edição e revisões.

Você pode até estar não se perguntando isso, mas acho importante comentar: CHORUS não é um vilão, ou uma localização dentro do jogo, mas sim um conceito. Dentro do universo do game, ele define aquilo que seria o “equilíbrio perfeito”, conceito que traz muita importância dentro da aventura — mas que, assim como outros elementos, demora demais para ser explicado e é apresentado de uma forma um tanto confusa.

CHORUS

Parte técnica impecável

Algo em que CHORUS chama atenção é em sua parte técnica, especialmente no que diz respeito à direção de arte. O game não é necessariamente um Triplo A com gráficos estupendos, mas consegue conciliar uma boa qualidade visual com um desempenho ótimo — mesmo no já antigo Xbox One X, ele consegue trazer uma boa resolução e taxas de quadro bastante altas.

Enquanto consegui me divertir jogando no console, foi no PC onde realmente me conectei com o game. Os efeitos de Ray Tracing (adicionados com uma atualização) surgem de forma discreta, mas o suporte ao DLSS garante uma alta taxa de quadros por segundo que se mostram essenciais nos confrontos espaciais.

Entre um ponto e outro do cenário (que volta e meia exige algumas viagens um tanto longas), CHORUS surpreende com chuvas de meteoros, planetas gigantescos e diversos efeitos de iluminação. Pode ser só ilusão, mas o game transmite muito bem a sensação de que somos somente uma pequena partícula viajando por um universo gigantesco (com um poder capaz de destruir planetas, mas isso não vem ao caso).

CHORUS

CHORUS é um ótimo projeto inicial

Enquanto CHORUS traz diversos espaços para melhorias — que incluem um sistema de missões secundárias menos repetitivas —, ele é um jogo bastante divertido, especialmente quando levamos em consideração que esse se trata do primeiro trabalho da Deep Siver Fishlabs. Com um sistema de ação bem feito e um desempenho ótimo, o game funciona bem e dá espaço de sobra para uma sequência ainda melhor.

CHORUS já está disponível com versões para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC.

Nota: 7,5 de 10 vezes em que a história não fez muito sentido