Review – Fragments of Him

Quem foi que disse que jogos não nos fazem chorar?

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Fragments of Him é o mais novo game da SassyBot studio que traz uma premissa bastante interessante: quando um jovem rapaz morre de repente, sua família e seus amigos devem lidar com esse trágico acontecimento. À eles resta resgatar os fragmentos dos momentos vividos ao seu lado. Quais foram seus últimos pensamentos, quais foram os momentos em que ele mudou suas vidas e como será a vida destes agora sem ele?

O jovem rapaz é Will e, a partir do início do game, acompanhamos suas vivências como meros espectadores. Não somos ninguém de sua família e nem de seu círculo de amizades, mas completos estranhos sem uma presença física. Acompanhamos os personagens controlando-os ou mesmo apenas vagando pelos cenários como fantasmas, mas não conseguimos intervir nos eventos, apenas temos a missão de buscar pontos de interesse que, ao serem ativados, dão sequência aos eventos do game.

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Logo de cara já acompanhamos de perto um dia na vida do jovem Will. Ele acorda, desliga o despertador, escova os dentes e arruma-se para o trabalho. Will tem uma vida boa, sonha em casar-se, ter uma família e uma carreira de sucesso, nada muito diferente do que muitos almejam.

No entanto, não é apenas isso que nos aproxima de Will, não são apenas os desejos que compartilhamos com ele, mas seus anseios, suas reflexões. Nesse momento, ele divaga sobre o seu relacionamento atual, sobre seus futuros planos, dúvidas, ambições e seus sentimentos, sendo praticamente impossível não se enxergar em Will. Logo em seguida, ele sai de carro para ir ao trabalho e, tragicamente, sofre um acidente e morre.

A partir daí o game nos leva a recuperar seus fragmentos, afinal, é muito pouco o que sabemos sobre Will. Somos levados a conhecer as pessoas que fizeram parte de sua vida, alguns de seus familiares e amigos, em momentos de sua infância, adolescência e vida adulta. Os eventos do game relembram momentos que fazem parte da memória dessas pessoas, é como se elas estivessem compartilhando essas memórias conosco, narrando os fatos.

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As cores, muitas vezes acinzentadas, próximas de um tom de sépia, não apenas recriam os momentos passados, mas, principalmente, criam uma sensação mais sombria, uma atmosfera carregada de tristeza. No entanto, em outros momentos, há uma maior variação de cores claras, mais limpas e ”vivas”. Os objetos também são importantes para o desenrolar da história, nos fornecendo mais informações acerca da vida de Will e das pessoas próximas a ele. Em algumas poucas ocasiões, nos são oferecidas algumas opções de diálogo, mas nada que interfira no game como uma escolha.

A narrativa em Fragments of Him é poderosa e nos faz refletir a cada segundo sobre a vida de Will e sobre a nossa própria vida. Ela também nos aproxima dele, faz com que a sua morte, que no início parecia apenas um trágico fato, ganhe um significado mais real. Ao longo do game, nós nos tornamos muito mais do que espectadores, nos tornamos cúmplices. A cada momento relembrado por seus entes queridos, nos sentimos mais íntimos de Will e, ao mesmo tempo, mais íntimos de nós mesmos.

Ao longo do jogo, foram muitas as vezes em que me peguei refletindo sobre a brevidade da vida, sobre sonhos não realizados, sobre tudo aquilo que nunca disse a quem eu queria dizer, sobre momentos que se passaram e que não voltam mais e, além de tudo, sobre relacionamentos e perdas.

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As memórias dos familiares e amigos do jovem não são apenas memórias felizes, pelo contrário, existem muitas memórias ruins, que parecem pesar ainda mais em seus sofrimentos. No entanto, é encantador como, a cada memória, nós compreendemos a importância que Will teve para cada um deles, compreendemos sua dor e, posteriormente, a superação que encontraram juntos.

‘’O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós’’. Will teve sua vida interrompida, mas fez o suficiente daquilo que seus entes queridos fizeram dele. E nós? O que estamos fazendo de nossas vidas?

Fragments of Him é um game com uma proposta mais intimista e um enredo incrível, que, apesar de ser curto (dá pra ser zerado em torno de 2 horas, dependendo do ritmo do jogador), é capaz de criar uma ótima experiência de empatia e identificação, muito embora não consiga escapar de alguns clichês, como a trilha sonora simplista que não impressiona muito, se resumindo a sons mais tristes de piano. No mais, o game cumpre a proposta de emocionar e de transmitir uma bela mensagem sobre amor, perda, aceitação, superação e, sobretudo, sobre a vida.

Fragments of Him já está disponível para PC (Steam) e será lançado para Xbox One e PS4 no segundo semestre de 2016.

Letícia Motta

Huge nerd. Apaixonada por eSports, JRPG's e ficção científica. Passa as horas vagas nos videogames e PC.