Review – Fading Afternoon
A Máfia é uma das organizações criminosas mais conhecidas pelo mundo afora. Diferente das gangues, os mafiosos se tratam como familiares – tios, sobrinhos, afilhados e padrinhos. O que muita gente não sabe é que, apesar de vincularmos seu significado ao italiano, com a Cosa Nostra e à trilogia de O Poderoso Chefão, a palavra tem suas raízes no árabe mahyas, que significa “alarde agressivo” ou marfud, que significa “rejeitado” (basicamente o que os mafiosos costumam fazer: tiro, porrada e bomba, sendo párias da sociedade) . E mesmo com toda essa volta ao mundo, uma das Máfias mais retratadas na cultura pop contemporânea é também uma das mais violentas – a Yakuza.
Lançado há poucos dias pela desenvolvedora indie by yeo (que particularmente tem uma quedinha pelo tema, bastando ver seus títulos anteriores – The Friends of Ringo Ishikawa e Arrest of a Stone Buddha), Fading Afternoon é um beat’em up que nos transporta para esse mundo intenso, agressivo e controverso que é a vida de um Yakuza.
Usando toda uma aparência pixelada (alô, fãs da crocância em tempos modernos!) muito bem detalhada, apesar das limitações que a própria estética dispõe, você estará na pele de de Seiji Maruyama, um Yakuza cinquentão que acabou de ser liberado do xilindró, após alguns anos atrás das grades. Braço direito do Oyabun (o Pai), Maruyama está de volta ao mundo dos normais, mas muita coisa mudou nessa temporada de reclusão no sistema carcerário – e é aí que está o grande lance.
A idade chega para todos
Ao contrário dos diversos outros jogos que retratavam a Yakuza como pano de fundo, em que grande parte das vezes você está no comando de um cara jovem, atlético e com muita vontade de descer a mão nos rivais, Maruyama já não está mais na tenra idade, a prisão deu uma mexida no seu psicológico e até um simples goró pode te deixar mais doido que o Batman (não tente encher a cara e tentar resolver as coisas com a galera em pé de guerra, a expressão popular “trocando as pernas” nunca fez tanto sentido).
Justamente por ser esse homem com mais vivência das coisas que a opção “ficar de boas na lagoa” existe e tá lá (você pode ficar o dia todo sentado à beira do rio, pescando), assim como também tem a opção “quebre tudo e ganhe seu trocado” (o aluguel tá caro, a comida tá cara, a arma tá cara, até as roupas estão caras… notou alguma semelhança com os dias atuais?).
Outro fator que pode agradar (ou não) o/a jogador/a é que, da mesma forma que quando você sai da prisão (nunca estive, só ouvi falar) é necessário reaprender tudo de novo, em Fading Afternoon a coisa não é muito diferente.
Os comandos não são muito intuitivos – arrisco a dizer que eu tomei uma sova em diversos momentos, e como o save é automático, não tem como dar loading e voltar para onde se estava antes. Errou? Errou! E isso vale pra tudo, não apenas os comandos de luta, mas os mais simples, como acender um cigarro e jogar o paletó por trás do ombro (sim, eu perdi meu paletó, aos 5 minutos de jogo).
O que pode ser frustrante e repetitivo, na verdade, acaba se valendo com o tempo – treino, treino e treino. Sim, os primeiros momentos de jogo é um grande tutorial, para entender exatamente o que fazer e quando fazer (mas o paletó, esse eu perdi de verdade, não teve jeito), incluindo a movimentação pelos locais e como fazer a leitura do mapa.
It’s all that jazz – com uma pitada de pop
Como boa apreciadora de citypop (aquele subgênero de música pop japonesa dos anos 70 e 80 que acabou voltando à cena graças às mixagens de YouTube como novos micro-gêneros: o vaporwave e o future funk), a trilha sonora de Fading Afternoon é deliciosa, com pitadas de jazz, soul e pop.
Toda a aura urbana noir dos anos 90 casa muito bem com a direção de arte aplicada ao jogo. Elementos e detalhes não passam despercebidos, como o passar do tempo com as estações, ou mesmo o anoitecer e clarear do dia, e coisas cotidianas, como sua barba crescer e você não fazer a barba (eu não faço, mas tenho amigos que fazem). Mesmo sendo um jogo em pixel art, esses pontos (com o perdão do trocadilho) são relevantes e muito bem-vindos.
Em cada transição de mapa, há um carinho na arte e na sonorização do jogo. Não é porque você está indo de um ponto a outro da cidade que a música será a mesma, os NPCs serão os mesmos, ou que a luz do dia será a mesma.
Fading Afternoon apresenta muitos caminhos – e muitos finais
Segundo a by Yeo e a Masamune, agência de relações públicas responsável pela localização do jogo em PT-BR e da distribuição no Brasil, as camadas do jogo são tantas que, além das diversas interações pelo mapa e as infinitas possibilidades, graças à liberdade e necessidade de exploração para realmente entender a essência do jogo, cada ação gera uma reação, e some-se a isso o fator “múltiplos finais”.
Mas, um aviso para o pessoal que costuma fazer TODOS os finais: é preciso jogar a campanha inteira novamente, não apenas abrindo mão de uma ou outra escolha. Nesse caso, o fator replay é bem agradável, já que a sabedoria dos comandos o/a jogador/a já tem, agora é só ir para a rua e dar a cara a bater – que piadinha horrível.
Caso você não tenha gostado dos rumos tomados na sua campanha e gostaria de reiniciar a aventura, não há problema: é só resetar aos moldes dos bons e velhos filmes do Akira Kurosawa – com muito harakiri, sangue voando e honra derramada.
Fading Afternoon está disponível para PC (via Steam) e Nintendo Switch.
Fading Afternoon: Fading Afternoon é um beat’em up que nos transporta para um mundo intenso, agressivo e controverso que é a vida de um Yakuza. Com uma aura urbana noir dos anos 90 o jogo apresenta uma história de drama em forma de jogo. – convidadogeeks
Texto por Thais Rosante