Review – Card Shark (Nintendo Switch)

Em algum momento da sua vida, você deve ter jogado algum jogo de carta, seja em jogos de tabuleiro, UNO ou jogos tradicionais de baralho como Pôquer, Blackjack e o famoso clássico brasileiro: Truco. Diversos destes jogos citados já tiveram suas recriações em games eletrônicos, porém, Card Shark – novo título desenvolvido pela Nerial e publicado pela Devolver Digital – não é mais um jogo de baralho, mas sim sobre a arte de trapacear.

Card Shark se passa na Europa do século XVIII, com foco na França sob o reinado de Luis XV. Você controla um jovem mudo, criado pela dona de uma taverna na pequena cidade de Pau. Incapaz de falar e servindo clientes durante toda a sua vida, um dia as coisas tomam um rumo dramático após o protagonista conhecer o Conde de Saint-Germain, que está investigando um mistério sobre “As Doze Garrafas de Leite”, uma conspiração que poderia abalar a França em seu âmago.

Neste primeiro encontro com o Conde, você aprende suas primeiras técnicas para trapacear e favorecê-lo nos jogos que ocorrem na taverna, até uma terrível tragédia e o rumo tomar caminhos totalmente diferentes. Ao longo dessa aventura você encontrará figuras mundialmente conhecidas, como o filósofo Voltaire, o escritor Casanova, o pintor Clément Belle e muitos outros.

Trapaceie com classe

O foco de Card Shark é o puro aprendizado e aplicação de trapaças em jogos de baralho, mais especificamente o pôquer. Estes truques variam desde um sinal através de um modo específico de se levantar uma taça de vinho, até o método mais complexo de embaralhar e separar as cartas para então distribuir as mais fortes para seu parceiro e assim faturar uma grana relativamente fácil.

Digo relativamente devido ao fato de que, quanto mais você avançar na história de Card Shark, mais complicado as trapaças se tornam. Antes de iniciar cada fase selecionada no jogo, o Conde lhe ensina novos métodos para conseguir enganar os oponentes na mesa. Inicialmente, cada truque funciona sozinho e para estas fases específicas, mas ao avançar no jogo estas técnicas são unidas e se tornam cada vez mais complexas.

Após o aprendizado na arte da trapaça, chega o momento de faturar: você precisa ser rápido, pois há um medidor de desconfiança do seu oponente e, quanto mais ele subir, mais arriscado será para você. Logo, pode ser válido você deixá-lo vencer com apostas baixas para diminuir sua desconfiança, ou pode decidir que o melhor a fazer no momento é deixar a mesa e manter sua segurança.

Os comandos funcionam através do movimento dos analógicos no controle e, no caso do Nintendo Switch, é possível jogar na própria tela através de toques e deslizes para as direções necessárias para realizar os truques. Devo dizer que alguns deles são bem mais fáceis no touch da tela do que com o analógico do controle — ou seja, é muito importante praticar.

Perdi a conta de quantas vezes eu tinha que refazer um truque porque não estava entendendo como ele funcionava, e, se não fosse o treino, eu teria ido a falência. Vale mencionar que sempre dá para pausar e respirar um pouco para se acalmar, seja no treino ou contra o oponente.

Prática leva a perfeição

Algo que pode causar muita confusão, principalmente se você avançar muito rápido na história, serão os truques se acumularem rapidamente, chegando a um ponto em que é difícil acompanhá-los. Ao aprender uma nova técnica com o Conde, você tem a possibilidade de praticá-la pelo tempo que quiser, seja ela um novo jeito de embaralhar, separar ou até mesmo distribuir uma carta.

É de extrema recomendação usar essa opção, principalmente quando um truque se acumula com outros dois, exigindo muita concentração e memória. No entanto, a Nerial incluiu em Card Shark níveis de dificuldade e até mesmo um sistema de dicas para tornar o jogo mais acessível e assim todos poderem apreciá-lo.

Após avançar em certos pontos da história, você terá a opção de revisitar lugares específicos para aplicar os truques aprendidos a sua escolha e angariar fundos para o seu bolso. Isso cria literalmente uma fonte de renda infinita, basta não ser pego e trapacear da melhor maneira possível.

Belíssimas pinturas

A arte de Card Shark foi feita por Nicolai Troshinsky – artista da Nerial – e tem grande inspiração em pinturas barrocas e rococós, aparentando ser pinturas a óleo de época, tratadas digitalmente para evitar que fiquem muito estáticas.

É um cenário mais bonito que o outro, desde docas lotadas por barcos, até lugares famosos como o Palácio de Versalhes. Apesar de o foco ser nas cartas e nos truques, é sempre válido dar uma pausa para apreciar uma bela pintura se exibindo bem na sua frente, acompanhado de uma trilha de gênero “barroco” e “clássico” que era amplamente popular e apreciado pelas classes altas da época.

Card Shark inova e cativa

Card Shark é, certamente, uma ótima surpresa para 2022. O jogo traz uma jogabilidade única, com um tema inovador e uma história deveras intrigante. Apesar de gostar bastante do jogo, ele apresenta um problema que pode ser incômodo para alguns jogadores: as instruções.

Para aprender novas técnicas, o Conde lhe dá instruções e até mesmo explica como funcionam tais truques e, mesmo com o jogo estando localizado em português, tive algumas dificuldades no aprendizado de uma trapaça ou outra. Ao mesmo tempo que esse fator pode ser preocupante, a opção de escolher a dificuldade pode fazer com que isso não seja um obstáculo tão grande para alguns jogadores.

Apesar disso, Card Shark é um ótimo jogo para experimentar, seja você fã de baralho ou não. Quem sabe ele pode até despertar a vontade de aprender seus truques na vida real? Alguns certamente são possíveis de serem realizados, contanto que você tenha o talento e a dedicação para praticar bastante.

Card Shark já está disponível para PC e Nintendo Switch.

NOTA: 8/10 vezes que tive que repetir o truque no treinamento até entender.