Review – Eiyuden Chronicles: Rising

Uma boa entrada enquanto o prato principal não chega

Em 2020, Yoshitaka Murayama decidiu voltar ao mundo dos games lançando um projeto no Kickstarter. Conhecido como o criador e diretor dos três primeiros jogos da franquia Suikoden (publicados pela Konami), ele decidiu criar uma campanha para financiar um projeto que seria um sucessor espiritual de seu antigo trabalho.

O processo de financiamento foi bem-sucedido, levantando aproximadamente US$ 4,5 milhões e chamando a atenção da 505 Games, que decidiu investir para tornar o projeto resultante ainda maior. Esse jogo não é Eiyuden Chronicles: Rising, mas promete se relacionar diretamente ao título que chegou às lojas no dia 10 de maio quando finalmente for concluído em algum momento de 2023.

Na prática, Rising é uma recompensa criada como forma de incentivar o desenvolvimento de Eiyuden Chronicles: Hundred Huroes, que promete trazer um estilo de jogo e personagens completamente diferente. O game já disponível para PC, Xbox, PlayStation e Nintendo Switch é um game que mistura elementos leves de RPG com ação em tempo real que dá os primeiros relances do universo e da grande trama política que promete ser apresentada no jogo futuro.

Em busca de aventuras

Eiyuden Chronicles: Rising tem como cenário a cidade de New Nevaeh, um lugar pacífico que começa a chamar a atenção de aventureiros após um grande terremoto revelar a existência de ruínas antigas na próxima. Você assume o controle de CJ, uma caçadora de tesouros que tem como objetivo encontrar uma lente rara capaz de conceder poderes mágicos que sirva para sua família como prova de suas habilidades.

Eiyuden Chronicles: Rising

No entanto, participar da caçada aos tesouros não é nada simples: como forma de assegurar o bem-estar da cidade, a prefeita local estabeleceu um sistema de licenças extremamente caras. Como alternativa ao pagamento salgado, aventureiros interessados podem realizar tarefas para a população local e ganhar selos que servem como um atestado da boa-vontade e capacidade de um aventureiro.

Esse cenário dá o tom central de Eiyuden Chronicles: Rising que é, em essência, um jogo sobre realizar uma série de pequenas tarefas enquanto avança aos poucos pela aventura principal. Cada novo marco de história é acompanhado por uma nova onda de missões, que garantem desde dinheiro até o acesso a novos equipamentos e melhorias para o arsenal de CJ.

Eiyuden Chronicles: Rising é cheio de recompensas

Apesar de repetitivo, o processo é prazeroso devido à generosidade e velocidade das recompensas. Em uma única visita a um dos cinco labirintos do jogo é possível completar diversas missões recebidas na cidade, o que gera uma onda de recompensas generosas assim que o jogador volta para New Nevaeh para recuperar suas energias e investir em novos upgrades.

Caso você seja como eu e não se aguente em completar todas as tarefas assim que possível, isso faz com que Eiyuden seja um jogo bastante fácil. Adotando um sistema de combate com visão lateral semelhante aos Castlevania dirigidos por Koji Igarashi, o game permite a realização de combos (que se tornam mais complexos e longos conforme upgrades são liberados) e ataques conjuntos entre os três personagens liberáveis — cada um deles associado a um botão do controle.

Eiyuden Chronicles: Rising

Desde o começo é difícil chamar os combates de desafiantes, mas basta investir em alguns poucos upgrades para que você passe rapidamente por todos eles com dois ou três golpes desferidos em sequência. Isso não muda nem mesmo quando o modo difícil é desbloqueado (algo que acontece após terminar o jogo) já que, no mesmo momento, o jogador ganha acesso a um amuleto que torna todos os ataques 100% críticos.

Ao mesmo tempo que a baixa dificuldade garante que repetir os mesmos cinco labirintos diversas vezes não se torne algo maçante, ela faz com que não seja preciso explorar a fundo os sistemas do game. Eiyuden Chronicles: Rising possui todo um sistema de acessórios que aumentam ou diminuem ataques com diferentes tipos de elementos, que funcionam em um ciclo de força e fraqueza, que não vale muito à pena esperar — quando mesmo um ataque “com desvantagem” despacha um inimigo em questão de segundos, não há porque se preocupar muito com sua efetividade.

Dessa forma, os ataques elementais do título acabam tendo mais importância em seu sistema de progressão: durante a primeira metade da aventura, você terá que lidar com uma série de pilares que limitam sua exploração e avanço na aventura. A conquista de equipamentos capazes de quebrá-los se prova um dos motivadores da trama, que é facilmente resolvido — assim que um pilar é quebrado, ele nunca mais vai ressurgir nos mapas do jogo.

Eiyuden Chronicles: Rising

Os momentos de desafio surgem nos confrontos contra chefes, que exigem uma dose maior de observação e estratégia do que os confrontos comuns. No entanto, a maioria deles ainda pode ser passado na base da “força bruta”, embora nem sempre essa seja uma decisão inteligente. Outro ponto de desafio envolve coletar os diferentes ingredientes para fazer os upgrades disponibilizados pelo jogo — processo que envolve mais paciência do que habilidade e envolve lidar com dezenas de pequenas melhorias para cada personagem.

Personagens cativantes

Enquanto Eiyuden Chronicles: Rising não brilha com seu combate ou exploração — que, não se enganem, funcionam bem, mas não são sensacionais —, ele acerta em cheio no desenvolvimento de personagens. A decisão por oferecer um grupo compacto — formado pela protagonista CJ e seus companheiros Garoo e Isha — permite que cada um tenha suas personalidades e missões bem desenvolvidas durante a curta duração da aventura.

Eiyuden Chronicles: Rising

O mesmo pode ser decidido pelo pequeno elenco de coadjuvantes, que surgem tanto na forma de vendedores quanto de figuras importantes na administração de New Nevaeh. Ao final do jogo você acaba conhecendo bem cada um deles e ganhando uma certa simpatia pela cidade, que também se mostra uma espécie de personagem em si mesma.

Não vou entregar detalhes da história, mas gostei da maneira como as coisas são desenvolvidas e deixam indícios de algo maior que está por vir em Eiyuden Chronicles: Hundred Heroes. A sensação é que o arco principal se encerra bem, ao mesmo tempo que dá elementos de sobra para uma nova aventura de CJ e seus amigos — que devem se unir a algumas dezenas de outros personagens em uma aventura futura.

Uma dose curta e satisfatória de aventura

Apesar de ter diversas críticas ao baixo nível de dificuldade de Eyiuden Chronicles: Rising, confesso que foi muito gostoso dedicar meu tempo ao jogo. A aventura é relativamente curta (aproximadamente 15 horas) e serve bem tanto como o prenúncio de uma história maior quanto como uma experiência fechada em si própria.

Esse não é o melhor RPG de ação que você vai encontrar atualmente, tampouco é um Metroidvania especialmente competente, mas tem qualidade de sobra pelo preço que cobra. Caso você tenha uma assinatura do Game Pass para PC ou Xbox, vale a pena dedicar o espaço de download necessário para conferi-lo antes do “prato principal” que chega no ano que vem.

Eiyuden Chronicles: Rising está disponível para Nintendo Switch, PC, Xbox One, Xbox Series X|S, PlayStation 4 e PlayStation 5. A versão analisada foi a do PC com base em um código oferecido pela 505 Games.

Nota: 7,5 de vezes que repeti cada um dos dungeons