New Tales from the Borderlands

New Tales from The Borderlands decepciona e não empolga

New Tales from the Borderlands é um game que sempre teve uma tarefa bastante difícil: ser o sucessor de um dos melhores projetos da história da Telltale. Lançado entre 2014 e 2015, o jogo dividido por episódios foi uma das melhores narrativas do universo criado pela Gearbox, apresentando personagens marcantes e um roteiro com uma evolução e piadas mais refinados do que Borderlands havia apresentado até então.

Conforme mostra a sequência lançado no final de outubro deste ano, muito do que o jogo original acertou foi justamente em permitir que uma equipe externa explorasse o universo da série. Agora nas mãos da própria Gearbox, o jogo mais recente mostra as mesmas falhas narrativas e problemas de humor que os títulos da série principal trazem — em resumo, ele não é um adventure muito bom.

Mas vamos aos fatos: New Tales from the Borderlands se passa pouco após os eventos de Borderlands 3, mostrando os habitantes do planeta Promethea tendo que lidar com uma nova invasão de uma grande corporação. Agora é vez da Tediore decidir explorar o planeta em busca de um artefato antigo que pode mudar o destino do universo para muito pior.

Nesse cenário, o jogador é apresentado à cientista Anu, a seu irmão Octavio (que só quer saber de ficar famoso) e a Fran, a dona de uma loja de iogurte congelado que tem sérios problemas para gerenciar sua raiva. Enquanto os três começam suas jornadas sozinhos, logo eles são unidos pelo destino em uma trama que os coloca no caminho da Tediore — e somente trabalhando juntos eles vão conseguir sair vivos de uma grande confusão.

New Tales from the Borderlands parece forçado

New Tales from the Borderlands funciona de forma bastante semelhante ao de um adventure da Telltale. Isso significa que ele é uma experiência essencial linear, na qual os jogadores devem escolher opções de diálogo que levam a trama para diferentes rumos, bem como fazer uma série de quick time events — que, se você falhar, podem resultar em uma tela de Game Over.

Em momentos específicos, o jogo oferece algumas áreas com dimensões limitadas nas quais é possível conversar com outros personagens, encontrar segredos e participar de mini-games pontuais. Nelas também é possível usar algumas mecânicas adicionais (como analisar o perfil de pessoas com o relógio de Octavio), mas as opções disponíveis acabam sendo bem limitadas. Ao final do primeiro dos cinco episódios, o jogador já entende como o game vai funcionar durante toda a sua duração.

New Tales from the Borderlands

Ao jogar New Tales from the Borderlands, a impressão é que a equipe de desenvolvimento tentou imitar ao máximo o trabalho da Telltale, mas não entendeu bem o que funcionou nele. Embora a história inteira esteja disponível desde o lançamento do game, ele ainda tem uma estrutura dividida em capítulos, com direito a uma abertura e encerramento específico para cada um dele.

Curiosamente, apesar de não ter sido lançado em partes, o game traz alguns defeitos bastante típicos de jogos feitos dessa maneira. Mecânicas e coadjuvantes que parecem muito importantes no primeiro capítulo simplesmente somem nos demais, ou voltam somente para “marcar presença”, sem nunca realmente serem desenvolvidos.

New Tales from the Borderlands

Com isso, a impressão que fica é a de que faltou planejamento para a equipe do jogo, mais do que uma mudança de rumo durante o processo de desenvolvimento. Isso gera uma experiência bastante desigual: enquanto no começo New Tales from the Borderlands parece um game disposto a apostar em diversas ideias e mecânicas diferentes, a partir de seu segundo capítulo ele segue um caminho bastante previsível e limitado.

New Tales from the Borderlands não sabe bem o que é o humor

No entanto, o pior defeito do jogo é o fato de ele simplesmente não ser engraçado. E, nesse sentido, ele mantém muito do DNA de Borderlands e do time da Gearbox. Enquanto a Telltale soube pegar o que funcionava na série e encaixar esses elementos em um contexto mais refinado, isso não acontece na sequência.

O resultado é um game que tenta o tempo todo fazer graça, mas falha por optar por um caminho forçado na maior parte do tempo. Sim, houve muitos momentos em que o game me gerou sorrisos e, em pelo menos duas situações dei algumas gargalhadas. No entanto, no geral o roteiro só me deixou desconfortável e um pouco cansado por suas repetições e ideias forçadas.

New Tales from the Borderlands

Como o game depende essencialmente de seu roteiro, não vou entrar em spoilers sobre momentos específicos da trama. No entanto, posso afirmar que poucas das piadas envolvendo tacos realmente funcionam, e as críticas que o game tenta fazer ao capitalismo soam vazias e cínicas a maior parte do tempo.

A sensação geral que fica é a diretriz geral da Gearbox era que New Tales from the Borderlands tinha que ser engraçado, por mais que isso prejudicasse o desenvolvimento de sua trama e de seus personagens. No entanto, parece que boa parte da equipe responsável pelas piadas não sabia como criá-las, e se baseou em um artigo da Wikipédia para descobrir como elas funcionam em teoria.

Também fica a impressão que cada capítulo da trama foi desenvolvida por uma equipe, principalmente a parte final. Enquanto o jogo não se leva muito a sério a maior parte do tempo, o ato final ganha camadas dramáticas e momentos de seriedade inesperados, que destoam muito do tom do que veio antes. Ao final, temos mais uma trama sobre o poder da amizade e do amor que, se consegue amarrar seus diversos fios, deixa um gosto de frustração.

Uma experiência frustrante

Cheguei a New Tales from the Borderlands repleto de expectativas de encontrar nele a sequência de um dos adventures que mais gostei até hoje. Infelizmente, saio dele decepcionado por um roteiro pouco envolvente, que só é salvo pelo fato de que alguns de seus personagens funcionam bem — apesar dos pesares, Fran conseguiu me conquistar com sua raiva incontida.

New Tales from the Borderlands

O principal defeito do jogo é justamente o fato de que, em vez de desenvolver bem sua história, ele decide perder a maior parte do tempo com piadas (que não funcionam na maior parte do tempo). O pior é ver que tinha potencial ali: além de o jogo ser tecnicamente bem feito, ele também tem momentos de qualidade, mas eles surgem de forma tão pontual que acabam não conseguindo sustentar a trama em geral.

Em resumo, recomendo o game somente para quem é um fã hardcore da série e não se incomoda com o tipo de humor peculiar dos demais jogos da Gearbox. Para quem não se encaixa nessa categoria, ou simplesmente procura por um game de maior qualidade, o Tales from the Borderlands de 2014 continua sendo a melhor escolha.

New Tales from the Borderlands está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC. Jogamos o game no PlayStation 5 com um código cedido pela 2K.

Nota: 6/10 piadas que acabaram funcionando bem