Review – The Last of Us Part II

Uma narrativa sobre violências e retribuições

Todo mundo já ouviu algum dizer sobre os malefícios de uma vingança. Seja a frase de um personagem tragicômico da série mexicana que muitos brasileiros cansaram de ouvir ou até mesmo com o clássico autor inglês com seus amores violentos e fins igualmente violentos. Esse tipo de narrativa é uma desculpa fácil para tirar protagonistas de locais seguros e exigirem uma narrativa de redenção pessoal. Com uma visão de um cenário maior sobre esse tipo de histórias, a Naughty Dog cria uma experiência marcante que apenas a interação dos videogames poderia oferecer.

The Last of Us Part II se passa sete anos após o primeiro jogo, com Ellie e Joel estabelecidos na comunidade de Jackson. Após esbarrar com um grupo de sobreviventes, os resultados desse intersecção de caminhos faça com que Ellie viaje até Seattle em busca da retribuição. Apesar de ser bem complicado, essa será uma review sem spoilers, com um foco em abordar as possíveis intenções do jogo.

A jogabilidade de The Last of Us Part II é uma versão amplamente melhorada do game anterior. Aqui, a personagem tem novas opções para passar pelos ambientes, seja eles infestados de infectados e clickers, como também outras facções de sobreviventes. Com a natureza mais presente, as técnicas de se esgueirar ficaram um pouco mais fáceis, ainda mais com a adição do comando que permite se rastejar, minimizando ainda mais a chance de ser visto. A dificuldade, porém, além de ficar por conta da escassez de suprimentos também está no aprimoramento da inteligência artificial de inimigos. Agora, os oponentes adotam estratégias de patrulhas e rastreamento mais eficazes, tentando minimizar alguns pontos cegos. Outra coisa que este jogo permite é passar incólume pelas cenas, matando o mínimo possível, até porque a violência é muito mais gráfica em The Last of Us Part II.

Como parte das intenções do estúdio, as consequências dos atos do jogador são escancaradas a todo momento. A capacidade destrutiva de tiros ou a animação de golpes com lâminas é tão destrutiva que faz pensar se há realmente uma necessidade de continuar fazendo isso. O problema em si está no fato de que essas ações são, muitas vezes, o único caminho possível para avançar no jogo. A história mesmo chega a pontos de tentar chocar cada vez mais que cria momentos que dessensibilizam o jogador a ponto de que todos os próximos atos de violência sejam só mais uma ferramenta ilustrativa das mecânicas de combate, ao invés de tentar acompanhar o peso necessário para narrativa.

The Last of Us Part II vai até a origem da palavra vingança, com seu significado de “tomar posse sobre algo”, para demonstrar como vidas são entregues  a um propósito sem volta, sendo guiados para uma espiral que vai cada vez mais fundo. Apesar da obviedade desse tema, a narrativa prefere se explicar com sutilezas nas falas de alguns personagens, demonstrando que há uma profundidade que vai além das intenções e alcança o estado de espírito de cada momento que guia as pessoas a cometerem atos que vão resultar no arrependimento e amargor. Nota 9/10

Kaio Augusto

Uma pilha gigante de referências. Perdido entre produções orientais e ocidentais, seja nos games, música,literatura, cinema ou quadrinhos. Gasta horas pensando em aventuras de RPG de mesa, teorias malucas ou apenas o que fazer em seguida.