Review – Dicefolk

Antes de começar esse texto, caro leitor ou leitora, acho interessante deixar claro dois pontos muito importantes pelos quais eu passei ao jogar Dicefolk:

Ao contrário do que muitos imaginam ou ainda hoje pregam, jogos independentes NÃO SÃO FÁCEIS. O pessoal está tão acostumado a consumir títulos AAA, que contam com equipes imensas por trás das operações, que quando se deparam com um título mais underground, tem o costume de comentar “ah, mas esse indie aí é fraquinho, em 10 horas jogadas você já fecha ele”, mas se esquecem que foram 10 horas bem suadas (ou vividas) curtindo aquele indie;

Em 2008, durante a Internacional Roguelike Development Conference de 2008 (sim, existe uma Conferência Internacional de Desenvolvimento de Roguelike, como a própria tradução diz), foram definidos 8 determinações que dividem os caminhos do que é um Roguelike (ambientes criados aleatoriamente/morte permanente/combate baseado em turnos/movimentos baseados em grande/complexidade com diversos tipos de soluções/gerenciamento de recursos/ações que podem ser realizadas a qualquer momento/hack ‘n slash) e o que é um Roguelite (que nada mais é do que uma forma mais amena do Roguelike, sem especificamente atender à essas 8 características). 

Dito tudo isso, bora falar mais sobre a coprodução entre os premiados estúdios Leap Game Studios e Tiny Ghoul. Juntos, concentraram-se na criação de jogos que misturam gêneros para criar uma experiência diferenciada para os jogadores. Alguns dos games em que o time trabalhou anteriormente incluem Tunche, Arrog, Tell Me Why, City of Love, Might Quest Mobile, Homo Machina, Beat Street e Un Pas Fragile.

Agora vem a dúvida de quem está do outro lado da tela: por que eu trouxe todas essas informações antes mesmo da análise do jogo? 

Bom, Dicefolk é um RogueLITE tático, mas de “lite” ele não tem nada!

Temos que pegar – isso eu sei

A humanidade está à beira da extinção, e de acordo com textos antigos, as Quimeras (bestas mágicas com poderes especiais) se voltaram contra os humanos por Salem, um feiticeiro com más intenções que agora dorme profundamente em seu covil. No entanto, os Dicefolk, um grupo de nômades, conseguiram sobreviver graças ao seu poder de controlar a vontade de todos os seres vivos com a ajuda de dados mágicos que apenas eles sabem manejar.

O jogo começa quando Alea, uma simpática heroína dos Dados, percebe que pode usar esse poder para lutar contra Salem ao se aliar às Quimeras. Equipada com um antigo talismã que parece influenciar a vontade das Quimeras de desobedecer Salem, ela embarca na missão para matar Salem e libertar a sua terra das suas garras.

Ou seja: você, na pele de uma escolhida, terá a chance de sair capturando feras incríveis e batalhar contra um mal maior que está assolando o mundo (nada que já não tenha sido visto anteriormente em outras sagas famosas, como Pokémon ou Monster Rancher). Segundo a desenvolvedora, mais de 100 animais, entre coisinhas fofas e bichos estranhíssimos, estão disponíveis para recrutar e comandar. 

A grande sacada aqui começa desde o início do gameplay, quando é necessário decidir qual caminho trilhar, de acordo com os atributos do talismã escolhido. Sim, você PODE escolher entre 4 diferentes características de mapa (como capacidade ofensiva ou velocidade), chamados Biomas. Mas não significa que eles estarão ao seu dispor logo no início da aventura, o que fará você jogar várias e várias rodadas, mesmo morrendo e voltando tudo de novo.

Outra parte que deixa o gameplay mais leve e divertido é a possibilidade de encontrar um mapa diferente a cada nova incursão. Assim, o jogador não precisa estabelecer uma mecânica fixa, podendo variar de acordo com o que as possibilidades podem trazer. Incluindo várias tentativas, vários acertos e, consequentemente, vários erros – e mortes também.

Uns dias você vive, outros você morre, né…

Morrer como parte da jornada

Um dos diferenciais citados lá no começo da matéria é justamente a questão do “morreu-perdeu” que os Roguelites possuem. Para quem é iniciante no modo de jogo e acha que o Game Over marca o fim de tudo, pode se enganar (de uma forma mais otimista).

Sabendo como as demais Quimeras se comportam em campo e já montando algumas estratégias simples (como combos com características próprias), e até mesmo itens que podem ser disponibilizados em lojas ou ao vencer batalhas (como dados e fichas), já vai dando para traçar a forma de conduzir as partidas e deixá-las mais dinâmicas. É claro que, no começo do jogo, você vai precisar ler muito e quebrar a cabeça para entender algumas mecânicas, mas nada que 30 a 40 minutos de gameplay já não ajudem.

A boa notícia é que o jogo em si não tem tempo corrido, contagem ou nada que determine a sua vez ou a do oponente. Na verdade, quem decide isso é você mesmo, incluindo quando seu personagem ou o inimigo ataca e defende (o que facilita bastante a estratégia) e, na dúvida de quando uma Quimera for atacar ou defender, o recurso do mouseover em cima da criatura estará sempre à disposição. 

A má notícia (se é que podemos falar dessa forma) é que essa facilidade do mouseover só ocorre dentro do campo de batalha. Caso você esteja no mapa e clique acidentalmente em um novo combate, você será obrigado a lutar, mesmo que suas Quimeras estejam quase morrendo. Nesse aspecto, você terá que se acostumar com os ícones e saber quando for a melhor hora de passar por estes caminhos.

Clicou no combate acidentalmente? É, vai ter que lutar :/

Em Dicefolk tudo é muito lindo…ou quase

A mecânica do jogo é diferente, os mapas vão mudando ao longo do caminho, várias Quimeras à disposição para montar o time. Mas e o visual? Bem, esse foi um fator que me deixou um pouco incomodada e eu vou explicar o porquê.

O design do jogo lembra muito um álbum de figurinhas misturado com elementos arcaicos, como aqueles desenhos gravados em pedras que as civilizações antigas costumavam fazer. Até aí, não há nenhum problema, até você começar a prestar atenção nas Quimeras (sim, as “donas do jogo”). Passa um pouco da sensação de que distribuíram a tarefa de Design Character (ou seja, quem vai desenhar os personagens) para muitos artistas diferentes, cada um com um estilo próprio de desenho e até mesmo escolha das cores.

Se você não se importar com esse mísero detalhe, então sua jogatina será bem longa, principalmente ao se deixar levar pela trilha sonora muito bem composta e orquestrada. Tanto os efeitos sonoros como a própria música de fundo te deixam mais imerso, seja no momento da batalha ou mesmo na hora de andar pelo mapa (mas toma cuidado onde for clicar, ok?).

“Exuberante, né?” Er…

Agradecimentos à Good Shepherd Entertainment pela cópia cedida gentilmente para degustação. Dicefolk já está disponível para PC.

Texto por Thais Rosante