Review – Cult of the Lamb
Cult of the Lamb é um dos jogos mais viciantes de 2022
Cult of the Lamb pode ser descrito como uma mistura entre o mundo fofinho de Animal Crossing com um universo repleto de violência gráfica em que demônios brincam com o destino dos habitantes. Nesse contexto inusitado, o jogador assume o papel de um cordeiro que, próximo a ser sacrificado em nome de quatro deuses antigos, é salvo por uma entidade misteriosa conhecida como Aquele que Espera.
No entanto, a salvação tem um preço: o protagonista é forçado a assumir o comando da Coroa Vermelha e agora tem a missão de resgatar aquele que o salvou. Para isso, ele vai ter que combater os quatro inimigos monstruosos que quase o aniquilaram e construir um culto demoníaco centrado em seu misterioso ajudante.
Esse é o palco de uma aventura que se divide entre momentos de exploração repletos de ação e o gerenciamento de uma comunidade que precisa comer, dormir e fazer um ou outro sacrifício eventual para assegurar sua sobrevivência. Assim como a temática de Cult of the Lamb, o gameplay também é baseado em uma mistura que aparentemente não deveria funcionar, mas traz resultados muito positivos.
Mate e faça seu culto crescer
Como comandante de sua própria seita em Cult of the Lamb, a maior parte de seu tempo vai ser passada em labirintos repletos de inimigos com quatro temáticas distintas. Seu objetivo é sobreviver a quatro minichefes em cada área, cada um responsável por desbloquear um selo de proteção que, quando rompido, rende um confronto direto com um dos deuses antigos.
Essa parte do jogo é bastante marcada por elementos aleatórios: a arma e a habilidade especial são decididas somente no começo de cada run, e a disposição de salas também vai mudar a cada nova tentativa. O que permanece fixo é o fato de que os combates são bastante ágeis e marcados por inimigos com padrões fáceis de identificar — o segredo para a vitória é sempre ficar atento a seus movimentos e saber qual adversário deve ser priorizado.
Felizmente, o caráter aleatório do jogo não se torna frustrante: em minha experiência, por mais que eu pegasse uma arma que não fosse minha preferencial, todas as opções disponíveis se mostravam funcionais. Durante a exploração também é possível obter upgrades (que duram até o final da run) na forma de cartas de tarot encontradas em baús ou junto a um personagem específico.
As escolhas variam entre garantir mais pontos de vista ou fazer com que seu ataque envenene os inimigos, somente para citar alguns dos exemplos. A quantidade de cartas disponíveis aumenta conforme o jogador avança na aventura, com novos exemplos podendo ser encontrados em comerciantes ou obtidos ao completar missões secundárias.
O ponto mais positivo da exploração de Cult of the Lamb é o fato de que tudo acontece de forma extremamente rápida. O game exige um investimento médio de 6 a 10 minutos para completar cada um de seus labirintos, o que garante não somente uma evolução rápida da história quanto a certeza de que seus objetivos sempre estão próximos. Isso também diminui as frustrações resultantes das inevitáveis mortes (que resultam na perda de alguns recursos coletados), já que você nunca está realmente longe de uma nova chance de conquistar seus objetivos.
A parte que não me agradou muito durante os combates foi o fato de que o jogo parece ter alguns slowdowns inevitáveis durante os momentos em que a tela está repleta de elementos. Da mesma forma, algumas das câmeras “dramáticas” usadas em momentos de conflito acabam tirando o foco do personagem principal, o que torna mais fácil ser atingido por um inimigo por acidente.
Cult of the Lamb é sobre cultivar medo e lealdade
Quando você não está explorando os labirintos e enfrentando criaturas demoníacas, é hora de cuidar de seu culto. Nesse momento o game ganha características de um gerenciador de cidades mais tradicional, mas bastante simplificado: além de construir estruturas, você deve gerenciar a fome de seus seguidores a limpeza do lugar, além de garantir que a fé de todos está em um nível adequado.
Falhe em fazer isso e seu culto vai entrar em desordem, com traidores que espalham mentiras sobre o verdadeiro deus e que morrem de doenças que se espalham rapidamente. Felizmente evitar isso é uma tarefa relativamente fácil, já que novas estruturas são desbloqueadas em ritmo frequente e é possível automatizar muitas tarefas em questão de pouco tempo.
Na prática, a maior ameaça que seu culto sofre acaba sendo a negligência e alguns bugs pontuais. Contanto que você se assegure de dar uma passada para ver como as coisas estão após cada etapa de exploração, não há motivos para se preocupar — a não ser que você se descubra sem alguns dos recursos básicos necessários para manter tudo em funcionamento.
O que distingue a parte de gerenciamento de Cult of the Lamb de outros jogos são justamente os elementos demoníacos que o jogo tem. A fé de seus seguidores é um recurso que, quando acumulado, pode ser usado para pesquisar novos rituais e aumentar o poder dos itens aleatórios encontrados durante os momentos de ação.
Saber quando usar cada um deles é essencial para manter o equilíbrio de seu culto: se você reviver um seguidor, isso pode causar descontentamento, que pode ser compensado pela promoção de uma luta entre seus companheiros — ou no sacrifício de um membro do culto que está velho demais para ser produtivo ou está causando problemas com os demais.
O lado sobrenatural é bastante divertido especialmente pela parte cosmética: ver uma ovelha fofinha chorando lágrimas de sangue ou bichinhos bonitos explodindo em bolhas de sangue nunca fica velho. A ideia não é necessariamente nova (Happy Tree Friends fez isso na época em que o Flash ainda existia), mas a maneira como ela é aplicada no game funciona super bem e tem elementos suficientes para alimentar bastante pautas baseadas no pânico moral.
Aliados ajudam a quebrar a rotina
Enquanto você não está matando inimigos e fazendo seu culto crescer, também pode participar de algumas atividades secundárias espalhadas pelo mundo de Cult of the Lamb. Durante suas aventuras, o jogador vai inevitavelmente encontrar algumas figuras dispostas a ajudá-lo que ocupam lugares específicos do mapa mundial, que se abre conforme você as encontra em labirintos.
Além de oferecer novos itens para você aprimorar seu arsenal e ter mais opções para enfeitar seu culto, eles também oferecem alguns minigames. Entre as opções disponíveis está um jogo de pesca bastante simples e uma competição de dados que começa fácil, mas que se torna particularmente complicado conforme novos adversários surgem.
Você também vai encontrar um culto a cogumelos que libera novas habilidades lisérgicas e uma criatura que ama tanto ouro a ponto de ter banhado todos os seus seguidores e aliados com ele. Para completar, é possível interagir com um marinheiro em busca de águas tranquilas e com uma figura misteriosa e pouco confiável que só surge nos momentos mais sombrios da noite.
As atividades paralelas funcionam bem para quebrar o ritmo das atividades centrais do jogo, mas tem como principal qualidade enriquecer seu universo. É bastante interessante saber que, além do culto e dos deuses antigos, o universo construído pela Massive Monster também é habitado por outras criaturas que são afetadas de forma mais indireta pelas ações do protagonista.
Cult of the Lamb sofre com bugs
A parte mais frustrante de minha experiência com Cult of the Lamb foram os bugs que, se não chegaram a quebrar a experiência, se tornaram bastante notáveis e frequentes a partir de certo ponto. Em mais de uma ocasião o jogo (em sua versão para Steam) travou durante atividades ou impediu que meus seguidores retomassem suas atividades após a realização de um sermão.
No entanto, o principal bug que encarei estava relacionado a missões de seguidores. De vez em quando um dos membros de seu culto vai propor algum tipo de tarefa que, se cumprida, vai render uma boa quantidade de pontos de fé. No entanto, se você negar a fazer o que ele está pedindo ou não conseguir cumprir o objetivo, esses pontos são perdidos — nada muito complicado, a não ser pelo fato de que, muitas vezes, a missão aceita era considerada mal sucedida logo em seguida.
Minha experiência também foi marcada por rituais que não surtiam os resultados esperados e por seguidores que “esqueciam” as tarefas atribuídas a eles, exigindo que eu fizesse o microgerenciamento de algumas áreas mais vezes do que o esperado. Felizmente, embora chatos e marcantes, os bugs parecem algo que pode ser resolvido com facilidade e não prejudicam a qualidade do game como um todo.
Cult of the Lamb vai dominar sua mente
Apesar de ter alguns problemas, Cult of the Lamb é facilmente um dos games mais viciantes que experimentei em 2022. Em pouco mais de três dias dediquei 17 horas à aventura, e já estou pensando em recomeçá-la para investir em um novo culto e para destravar as poucas conquistas que ainda faltam.
O ponto no qual o jogo mais acerta é em sua velocidade: a cada nova run você sempre descobre alguma arma nova, desbloqueia uma nova estrutura ou simplesmente vê seu culto crescer e destravar outras situações dinâmicas. Quando uma parte do game parece prestar a enjoar, um novo NPC ou subchefe garante o frescor da experiência e a vontade de jogar só mais um pouquinho.
Caso você goste de criaturas fofas, um gameplay envolvente e uma boa dose de sátira satânica, não há porque pensar duas vezes antes de encarar o título. Só tente não fazer isso quando aquele parente mais religioso ou conservador estiver fazendo uma visita.
Cult of the Lamb chega no dia 11 de agosto no PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch. A versão analisada foi a do PC a partir de um código cedido pela Devolver Digital.
Nota: 9 dos sacrifícios que fiz para entidades sombrias