Digimon Survive – Review

Digimon Survive é uma novela visual com temas surpreendentes e combate fraco

Antes de iniciar qualquer review sobre Digimon Survive, é preciso deixar claro que o game é, acima de tudo, uma novela visual. Isso significa que, ao contrário de outros títulos estrelados pelas criaturas, seu foco é quase que exclusivamente narrativo, embora ele traga um sistema de batalhas com características táticas.

Saber disso é importante até para não ser enganado pelo material de divulgação usado pela Bandai Namco para promover o jogo. Não que a empresa esconda a verdadeira natureza do título desenvolvido pela HYDE, Inc., mas certos trailers dão a entender que o jogo é muito mais pautado pelos combates do que acontece na realidade.

Esclarecido esse ponto, podemos partir para a premissa do jogo: em meio a um passeio escolar, o protagonista Takuma Momozuka é transportado junto com seus amigos para um mundo misterioso. Lá, ele se depara com uma série de criaturas que parecem se dividir entre rostos amigáveis e agressivos e, junto de seus colegas, precisa encontrar meios de permanecer vivo e voltar para casa.

Digimon Survive explora um lado mais sombrio da série

Embora a premissa básica de Digimon Survive lembre muito a animação da série, que fez sucesso nos anos 2000 no Brasil, ela traz um tom bastante diferente. Os personagens reconhecem desde o primeiro instante a gravidade da situação em que estão e não a tratam como algo leve — embora alguns momentos mais descontraídos surjam de vez em quando.

Caso você já tenha jogado algum visual novel, sabe bem o que esperar do ritmo do game, que é focado essencialmente em diálogos. Enquanto há algumas escolhas sobre o caminho a seguir e como lidar com certos personagens, não há um controle muito direto sobre o que seu personagem vai falar, só uma forma de dar direcionamento geral a suas ações.

Digimon Survive

Infelizmente, a história de Digimon Survive demora um pouco a engrenar e seus primeiros capítulos chegam a ter uma exposição quase excessiva. No entanto, vale a pena insistir um pouco e passar pela fase de introduções de personagens — a partir do momento em que isso acaba, o game engrena uma marcha mais rápida e logo começa a apresentar trechos mais interessantes e chocantes.

Enquanto todas as crianças protagonistas do jogo possuem uma criatura que lhes serve como companheira, o mundo apresentado é essencialmente hostil a eles. Isso é representado tanto na forma de inimigos que tramam abertamente para sacrificar o grupo quanto por forças mais ocultas e misteriosas, que só se revelam em detalhes nos momentos avançados da trama.

Digimon Survive

A partir do momento em que personagens começam a morrer, você percebe que Digimon Survive é um game que tem a ousadia de subverter o que se espera do universo da série. Enquanto a morte em si não é o ponto central do roteiro, os temas que circulam ao redor dela revelam uma história que surpreende pela maturidade e, assim que engrena, carrega o jogo com facilidade até seu fim.

Lado de combate do jogo deixa a dever

Enquanto os diálogos são a parte central de Digimon Survive, ele também conta com alguns combates que surgem em momentos-chave de sua trama. Também é possível participar de batalhas livres em todos os capítulos, que são usadas tanto para subir o nível de sua equipe quanto para recrutar monstros adicionais — em um sistema que parece uma versão simplificada do recrutamento de criaturas da série Persona.

As batalhas acontecem de forma estratégia, em um sistema por turnos bastante semelhante ao de títulos como Final Fantasy Tactics. No entanto, não espere encontrar aqui uma grande profundidade: enquanto o sistema de evoluções das criaturas traz um caráter de planejamento às batalhas, todas elas são bastante diretas e não exigem grandes planos para serem vencidas.

Digimon Survive

O que mais acabou chamando atenção nesse sentido não foi o desafio ou variedade de opções estratégicas, mas sim os saltos artificiais de dificuldade. Em um momento próximo ao quarto capítulo do jogo, uma decisão que tomei me levou a enfrentar com poucas unidades um inimigo poderoso.

Enquanto na primeira tentativa fui derrotado, o mesmo continuou a acontecer mesmo após dedicar um longo tempo a capturar e treinar minhas criaturas. Mesmo estando com personagens com mais de 20 níveis acima do chefe, continuei sendo derrotado por ele com facilidade.

A única forma de vencê-lo foi alterar o nível de dificuldade do jogo e, logo depois disso, passei facilmente por todos os desafios posteriores com grande facilidade, retornando ao nível normal — fruto do desnível de poderes que meu grupo passou a apresentar. Embora momentos em que esse tipo de artificialidade se torna tão evidente não voltaram a surgir, a lembrança negativa que essa ocasião deixou permanece até agora.

Digimon Survive é um ótimo jogo de um gênero de nicho

Enquanto os sistemas de combate de Digimon Survive deixam a dever, é importante lembrar que ele é, essencialmente, um visual novel. Isso significa que 80% de seu tempo é dedicado a acompanhar diálogos e à evolução de relacionamentos, enquanto o resto do tempo parece simplesmente cumprir a obrigação de oferecer algo mais interativo para os jogadores.

Digimon Survive

Dito isso, o game consegue ser muito bem-sucedido dentro de sua proposta, mesmo trazendo um começo um tanto lento. Com personagens fáceis de se identificar e temas interessantes, o game é uma bela história narrativa que ganha força conforme se desenvolve e estimula novas jogatinas — que são necessárias para ver o final real.

No entanto, isso não muda o fato de que Digimon Survive é essencialmente um jogo de nicho, que pode acabar não agradando quem procura uma experiência mais dinâmica. Em compensação, quem já está acostumado com visual novels e procura por uma nova experiência capaz de render dezenas de horas de diversão não vai se arrepender em investir no game.

Digimon Survive foi lançado no dia 28 de julho de 2022 com versões para Nintendo Switch, PlayStation, Xbox e PC. A versão analisada foi a do Switch a partir de um código cedido pela Bandai Namco.

Nota: 80 pelas reviravoltas surpreendentes