Review – Superliminal

Um jogo de puzzle onde a perspectiva é tudo

Jogos para fritar a cabeça sempre foi um prazer a parte, fugir de toda a correria, tiroteio e missão atrás da outra, é sempre bom mudar os ares e botar a cabeça para funcionar com raciocínios lógicos. Portal 2 foi um dos primeiros títulos que me trouxe desafios interessantes. Diversos puzzles inteligentes, uma história intrigante e sem contar o cooperativo fantástico.

Infelizmente, a série não possui um novo jogo em vista e já vai fazer 10 anos desde o lançamento do segundo jogo. Para compensar o vácuo que o excelente título da Valve deixou, muitos outros games buscaram oferecer puzzles em primeira pessoa, como Q.U.B.E. 1 & 2, The Talos Principle, The Witness e outros, cada um com sua proposta única. Superliminal é um vagão que chega nesse mesmo trem do gênero.

Se ainda não ficou claro, Superliminal é um jogo de puzzle em primeira pessoa. Porém, ao invés de criar portais ou mexer com lasers, você trabalhará com a perspectiva. É algo bem confuso explicar em palavras, mas tentarei.

Superliminal coloca o jogador em um sonho. Ao adormecer por volta das 3h da manhã, você fecha os olhos enquanto passa uma propaganda sobre um programa de terapia por sonhos do Dr. Pierce. Depois disso, estará em um ambiente estranho, apenas para descobrir que ficou preso em um sonho – um sonho onde percepção é realidade.

O enredo de Superliminal é bastante confuso no início. Inicialmente, o jogo fará você questionar sobre muitas coisas. Dito isso, a evolução do enredo acontece com uma voz do Dr. Pierce comentando as coisas ao seu redor, deixando você confuso boa parte da jornada. Porém, ao contrário de outros títulos do gênero, o final é bastante explicativo e, apesar das bizarrices, tudo fará sentido de certa forma.

Mas a verdadeira graça de Superliminal está nos puzzles que são muito bons – no início.

Superliminal review: Great concept, poor execution - Polygon

Superliminal trabalha a percepção do jogador. A ideia central é que se você está vendo um objeto daquela distância e o pega, ele será daquele tamanho. Ou seja, digamos que você esteja em um corredor. No final dele há uma bola. De longe, a bola é pequena. Se você a pegá-la dessa distância, ela será um item pequeno em suas mãos. Da mesma forma, ao se aproximar, a bola cresce de tamanho e, ao pegar, e “andar com ela por aí”, a tornará gigante. Falando parece algo maluco, mas ao jogar e entender a premissa, fará “sentido”.

Além desse tipo de puzzle de percepção, há alguns em que você deve enxergar um desenho por um certo ângulo e, ao formá-lo, se tornará em um objeto real. Outra mecânica ainda é a clonagem. Após um determinado momento da campanha, você poderá clonar objetos para solucionar os puzzles. Sem entrar muito em spoilers, as mecânicas são basicamente essas.

O real problema de Superliminal é o pouco uso dessas mecânicas e a sua duração. Em sua primeira jornada, mesmo se você “travar” em alguns puzzles, levará no máximo três horas para finalizá-lo. A diversão após isso será buscar pelos troféus que exigem algumas ações específicas, além de terminar o jogo em menos de 30 minutos.

Não há problema em o jogo ser curto – o que acontece é que as mecânicas de percepção vão ficando sem muita criatividade ao longo do gameplay e a introdução dessas outras funções, como a clonagem, são usadas muito pouco. É como se tivessem sido inseridas apenas para dizer que há uma variedade além de ficar mudando o tamanho dos objetos.

Eu detesto ficar comparando jogos, pois acredito que cada um possui sua própria proposta. Dito isso, não consigo pensar em outra coisa a não ser uma breve comparação com Portal 2. No jogo da Valve, lá pela metade da campanha, somos introduzidos aos diferentes tipos de gel que causam efeitos como “deslizar rapidamente” ou “quicar pelas paredes”. São mecânicas sólidas, que você usa em vários puzzles e inclusive com a arma de criar portais. Superliminal faltou algo nesse sentido.

A mecânica de clonar objetos não chega perto de ser algo inovador ou interessante – e ainda por cima, não é mesclada de forma natural à mecânica da percepção.

Superliminal review | Rock Paper Shotgun

No fim, Superliminal é um bom jogo, mas fica a sensação de que poderia ter sido muito mais. Mais puzzles, mais mecânicas, mais gameplay e mais desafio. O potencial existe, foi bem aproveitado nos puzzles existentes (inclusive é uma ótima sensação quando você descobre a solução sozinho), mas infelizmente no fim você fica com um ar de “acabou?”.

Apesar desse tom negativo nos últimos parágrafos, quero deixar claro uma coisa aos amantes de puzzles, principalmente em primeira pessoa: joguem Superliminal. A mecânica de percepção é inovadora e genial, enquanto que os puzzles são bem construídos. Mas tenha em mente que a duração é curta e há um potencial que poderia ter sido mais explorado. Quem sabe em uma sequência.

A trilha sonora encaixa de maneira fantástica com o tom do jogo, um jazz suave, muitas vezes só um piano de fundo, torna o jogo desestressante, apesar de você começar a passar certa raiva ao ficar preso em algum dos puzzles.

É curioso observar também que o jogo traz uma mecânica de mapas customizados que serão criados pelos jogadores e outros pelos próprios desenvolvedores, o que manterá o jogo vivo por um bom tempo mesmo depois dos jogadores o terminarem.

Superliminal é um jogo de puzzle que desafiará a sua percepção. Possui desafios inteligentes, mas ao mesmo tempo conta com mecânicas bastante simples e uma duração curta. Em no máximo três horas você finalizará o título pela primeira vez, sendo que o que resta após isso é aprimorar seu tempo em puzzles que você já sabe a resposta.

NOTA: 7/10 vezes que fiquei preso em um puzzle, mas aproveitei a música

Otto

Um rapaz que fez do hobby um trabalho. Sempre interessado em aprender e conhecer mais. Gamer desde criança e aficionado por Board games. Altas madrugadas jogando e trabalhando incansavelmente.