Crítica – IT: Capítulo 2

Sequência repete os elementos do primeiro filme sem apresentar nenhuma novidade

 

27 anos após os eventos do primeiro filme, o Clube dos Perdedores se reúne mais uma vez na cidade assombrada de Derry para pôr fim ao mal que lá habita: Pennywise, o Palhaço.

IT: A Coisa, livro de Stephen King que serve como base para a duologia de Andy Muschietti, tem mais de mil páginas na edição brasileira. O enredo pula entre dois períodos da vida do Clube dos Perdedores, quando eles eram crianças e quando adultos. Em sua adaptação, Muschietti optou por separar os dois períodos, abordando a infância das personagens no primeiro longa e a vida adulta no segundo capítulo.

Se essa decisão permite ao diretor explorar cada período de maneira mais detalhada, ela também demonstra a sagacidade de Stephen King ao escrever o livro com os dois períodos se entrelaçando até o final. O segundo capítulo de IT parece um longo terceiro ato, que sem muito a dizer, repete os elementos do primeiro sem o mesmo sucesso.

Bill Hader (Richie Tozier) rouba a cena do filme, sendo capaz de misturar com excelência suas piadas com os demônios internos da personagem, no arco dramático mais interessante, e menos explorado do longa. James Ransone (Eddie Kaspbrak) compõe uma ótima dupla com Hader e serve como ótima escada para o ator de Barry brilhar. O restante do elenco não tem muito com o que trabalhar, mas realiza uma performance sólida com o que lhes foi dado. É notável, entretanto, a semelhança física do elenco adulto com o elenco adolescente.

Apostando nos efeitos visuais, a figura do Pennywise (Bill Skarsgård) acaba em segundo plano, dando mais destaques as ilusões produzidas pelo palhaço do que ao próprio Pennywise. A constante exposição aos monstros torna a experiência pouco aterrorizante, e o filme se assemelha mais a um thriller sobrenatural do que a um filme de terror.

As crianças reaparecem em flashbacks durante o longa e repetem a conclusão de arcos dramáticos já fechados no primeiro filme, superando traumas que, teoricamente, foram resolvidos no capítulo um. O crescimento dos atores mirins é perceptível, porém o carisma do elenco adolescente supera qualquer incômodo causado pelo envelhecimento repentino.

O longa é bem fiel ao livro, mas opta por não explorar a fundo a origem cósmica de Pennywise, deixando apenas algumas pistas e referências que serão entendidas apenas pelos que já conhecem a história. Outro apelo aos fãs é a presença de Stephen King, que faz uma simpática aparição especial no meio do filme. O filme constantemente brinca com a fama de King, fazendo piada com o fato do autor não saber escrever finais. Entretanto, após a quarta piada sobre isso, as referências passam a soar autoindulgentes e se tornam previsíveis e cansativas.

IT: Capítulo Dois está longe de ser um filme ruim, mas o longa é redundante e desnecessariamente longo. Como a comparação com a primeira parte é impossível de se escapar, o que fica é o sentimento de desapontamento. Incapaz de trazer novidades a mesa, a sensação que fica é que não havia necessidade de uma segunda parte, e para um filme que faz questão de brincar com as falhas de Stephen King, chega a ser tragicômico um final tão decepcionante quanto esse.

Daniel Vila Nova

Fã de literatura, vai de Machado de Assis a Turma da Mônica em uma única sentença. Jogador de RPG, tem todos os consoles da Sony mas jura que não é Sonysta. Adora filmes ruins.