Review – Demolidor 2ª Temporada

Hell’s Kitchen é pequena demais para tantos problemas

A segunda temporada de Demolidor começou muito antes de sua estreia no Netflix. O hype envolvido na adição da figura do Justiceiro (do qual falaremos bastante por aqui) foi algo que deixou os fãs muito animados. É engraçado o quanto os dois heróis se assemelham, em termos de multimídia, afinal os dois tiveram péssimas adaptações para outras mídias. Lembro que na época eu havia ficado um pouco desgostoso com a escolha de John Bernthal para o papel, talvez fosse por saber que Tom Hardy tinha interesse no papel. Agora, com 13 episódios assistidos como um sedento que sente a primeira gota d’água tocar os lábios, percebo o quanto estava sendo ingênuo em minha birra infantil. Vamos ao que interessa.

A segunda temporada começa no ponto em que a primeira nos havia situado, Matt Murdock assumiu de vez a identidade do ‘Demônio de Hell’s Kitchen’ e continua com seu emprego de advogado. Por hora podemos ver que a vida de vigilante não é benéfica para os que desejam a sobriedade do trabalho comum. A cidade vive um momento de estranheza, após Wilson Fisk ter dizimado as gangues e ter sido preso. Os criminosos começam à pensar como retornar seu domínio, porém um assassino com táticas militares aparece para iniciar um massacre. Esta figura fica conhecida como ‘Punisher’, por ter como alvo apenas membros de gangue.

Se isso não fosse problema o suficiente para Matt resolver, sua ex-namorada da faculdade aparece na cidade. A grega Elektra Natchios chega dizendo que tem problemas para resolver e que isso envolve a Yakuza, que o Demolidor pensou ter expulsado na última temporada. São, sem dúvidas, muitos problemas para apenas um herói.

É incrível ver como um roteiro pode ser bem trabalhado quando algumas peças principais já estão estabelecidas, isso abre espaço para novos fatores serem bem apresentados nesta jornada. Não há necessidade alguma de acrescentar muitos detalhes em figuras como Matt, Karen ou Foggy. E isso, em momento algum, é algo ruim, afinal é colocado diante de nossos olhos uma figura que rouba os holofotes. A figura de Frank Castle aparece inicialmente como uma espécie de bicho-papão dos caras maus, sendo rodeado por uma aura de mistério. Quando é colocado em foco, o personagem carrega junto consigo uma trama que vai desdobrando ao longo de toda a segunda temporada.

A origem do personagem é um pouco diferente dos quadrinhos, mas essas mudanças deixam a figura do ‘Punisher’ muito mais crível. Além do mistério de sua origem, ele também carrega um forte questionamento moral sobre justiça. São os lados de uma mesma moeda suja, por um lado Demolidor com seu ideal de bater nos vilões até que eles aprendam e de outro Frank com seu método prático de “depois de mim, eles não poderão ser maus, porque estarão mortos”. Essa briga de ideais de moralidade se refletem automaticamente na outra linha de roteiro colocada nesta temporada.

Elektra surge como uma personagem problemática, que me peguei por diversas vezes reclamando do quão irritantemente invasiva era sua presença em certos momentos. O cúmulo é uma cena em que a personagem indiretamente atrapalha o julgamento em que Matt estava trabalhando. Porém existe uma evolução, mesmo que lenta, é possível começar à enxergar um aprofundamento. As duas linhas narrativas quase não se conversam, mas são desenvolvidas com maestria ao longo desta temporadas.

Talvez o período menor de tempo entre as temporada tenha afetado o desenvolvimento de algumas coisas, como algumas coreografias de combate sem muita empolgação nos primeiros episódios e alguns efeitos especiais ruins em cenas de sangue. Mas isso em nada ofusca o poder da Netflix de trazer uma boa narrativa e ainda por cima ser fiel ao quadrinhos quanto à certos personagens. No fim, a segunda temporada de Demolidor deixa ansioso por mais, mais Demolidor, mais Elektra e principalmente, mais Punisher.

Kaio Augusto

Uma pilha gigante de referências. Perdido entre produções orientais e ocidentais, seja nos games, música,literatura, cinema ou quadrinhos. Gasta horas pensando em aventuras de RPG de mesa, teorias malucas ou apenas o que fazer em seguida.