Review – Trials Rising

Divertido, frustrante e desafiador, Trials Rising é mais um acerto da franquia Trials

Você acelera e empina sua moto, saltando no momento em que a primeira roda perde o contato com a rampa. No ar, você projeta sua roda dianteira para baixo, afim de manter a estabilidade. Os dois pneus encontram o chão ao mesmo tempo e você avança a toda velocidade. Uma música grunge se mistura com o barulho do motor da moto. Ao pular de um buraco, você erra o tempo e a física te castiga, lançando sua moto para um lado e você para o outro. Frustrado com mais um erro, você aperta o botão de reiniciar e está mais uma vez na pista, certo de que, dessa vez, vai conseguir completá-la.

Essa cena se repete inúmeras vezes durante as horas investidas em Trials Rising, o mais novo jogo da série Trials. O conceito da série é simples. Você controla uma moto, em um ambiente 2.5D, e se aventura em diversas pistas, superando os mais absurdos dos obstáculos. Para passar das fases, é necessário bater um tempo preestabelecido. É possível seguir para o próximo estágio com uma medalha de bronze, de prata ou de ouro, dependendo de quão rápido você foi. Quanto mais rápido, mais experiência, o que possibilita acessar novas pistas.
O jogo é dividido em Ligas, cada Liga abriga uma série de pistas novas, cada uma mais desafiadora que a outra. De início, as pistas são fáceis e não oferecem um grande desafio para os veteranos da série. Entretanto, para novatos, algumas delas podem apresentar um nível de dificuldade considerável. Pensando nisso, a já tradicional University of Trials visa ensinar aos jogadores inexperientes as manobras mais complexas, necessárias para progredir nos estágios mais difíceis do jogo. Aqui, Trial consegue um ótimo acerto. Além de uma explicação detalhada e de fácil compreensão, que possibilita o aprendizado rápido do novato, o tutorial consegue ser extremamente divertido. Não foi incomum, durante o tempo que eu jogava o game, voltar ao tutorial para ver se conseguia melhorar meu tempo, tamanha a diversão que o tutorial proporcionou.
No começo, apenas a primeira Liga está desbloqueada. Para liberar mais pistas, é necessário atingir um determinado número de “Pontos de Fama”, que servem como pontos de experiência. Esses Pontos de Fama liberam finais em estádio, uma série de 3 corridas com oito corredores simultâneos, onde o objetivo é ganhar as 3 baterias. Ao ganhar a final, a próxima liga é liberada. Os sete corredores que competem com seu piloto, ao contrário dos três fantasmas que estão presentes nas pistas usuais, são uma ótima adição as finais, dando um tom especial a ocasião. Entretanto, a falta de criatividade na caracterização da pista é desanimadora, visto a quantidade de ótimas localizações que as pistas comuns exibem. É virtualmente impossível distinguir um estádio de final do outro, o que enfraquece a ideia de ser uma corrida especial. Nada é memorável nessas finais.
Nas primeiras ligas, o progresso é fluído e a quantidade de Pontos de Fama adquiridos ao percorrer todas as pistas é o suficiente para desbloquear a próxima liga. Entretanto, a medida que a dificuldade das ligas aumenta, os Pontos de Fama necessários para acessar as finais de estádio se tornam cada vez mais altos, exigindo a realização de mais e mais contratos. Os “contratos” do jogo servem como missões, oferecendo objetivos extras em cada pista em troca de Pontos de Fama. Existem diversos tipos de contratos, cada um com seus próprios objetivos. Para cumprir alguns contratos, basta bater o tempo preestabelecido de um oponente da máquina. Outros, já exigem mais coisas, como um limite máximo de erros por partida ou uma quantidade específica de manobras a serem realizadas.
Trial é um jogo notoriamente desafiador, mas, dessa vez, a Ubisoft exagerou. Não é a dificuldade das pistas em si que torna o jogo frustrante, mas sim a quantidade de Pontos de Fama necessários para ganhar acesso a novas fases. O número começa a ficar ridiculamente alto nas últimas ligas e, para piorar tudo, só melhorar seu tempo em uma pista não é nem de perto o bastante. É necessário cumprir contratos, esses sim com muitos Pontos de Fama como recompensa, mas que exigem manobras específicas de difícil realização ou corridas perfeitas, sem qualquer erro. Constantemente, o progresso do jogo é interrompido pois o jogador não consegue realizar os contratos vigentes tamanha a dificuldade.
Apesar disso, o design de fase de Trials é excelente, com localizações incríveis como uma corrida na Torre Eiffel, em um avião em movimento, na prisão de Alcatraz e em um estúdio de cinema, onde a equipe de efeitos especiais trabalha em um filme no espaço. Vivas e desafiadoras, as pistas muitas vezes exigem a estratégia do erro e acerto, para entender como certa parte deve ser passada. É muito recompensador quando, após minutos de erros, você finalmente descobre um caminho secundário, que torna sua vida muito mais fácil.
O mapa do mundo, onde estão localizados as pistas, é confuso, especialmente nas últimas ligas. Não há qualquer divisão clara de qual pista pertence a qual liga e, a medida que mais estágios começam a ser adicionados ao jogo fica difícil saber qual pista pertence a qual liga. O fato de não haver um mecanismo para escolher uma pista específica também atrapalha muito o jogador que quer melhorar seu tempo em uma fase particular. A navegação do jogo não é impossível, mas não é nem um pouco intuitiva.
Há um sistema de loot boxes em Trials Rising, mas ele em nenhum momento se torna o sistema predatório presentes em outros jogos. Os itens obtidos são apenas visuais, que não interferem na jogabilidade. A customização do piloto e da moto todavia brilham na aba da comunidade. Inúmeras são as opções de roupas e trajes feitos pelos fãs, de uniformes de futebol a roupas de grifes. A qualidade dos itens editados por fãs é assustadora e seus preços estão longe de ser absurdos, sempre vendidos por uma moeda própria de Trials. Não há dinheiro real envolvido. Algumas vezes encontrei uma de minhas peças de roupa  com falhas, como cores diferentes ou texturas faltando. Porém, foi só desequipar e equipar o item novamente que o problema era resolvido.
As músicas presente em Trials Rising são boas e, nas primeiras horas, animam. Entretanto, para a quantidade de horas que o jogo te pede de dedicação, a playlist é pequena demais. Em certo ponto do jogo, tinha a plena certeza de que haviam apenas 5 músicas no game. Não demorou muito para eu desligar as canções e ligar meu Spotify.
Com tudo isso em mente, é possível afirmar que Trials Rising mantém o excelente nível da série Trials, sendo o mais difícil até presente data, mas também um dos mais divertidos. Com a física excelente, fases ótimas e um alto grau de customização, Trials Rising não quer que você seja o mais rápido piloto e sim, o mais habilidoso. Frustrante em determinados momentos, mesmo com seus defeitos, você sempre vai respirar fundo, pegar o controle lançado no sofá alguns segundos atrás e afirmar mais uma vez “Só vou tentar mais essa e aí eu paro”. Nota 8/10 dando grau na moto com corte de giro.
Texto por Daniel Vila Nova

Daniel Vila Nova

Fã de literatura, vai de Machado de Assis a Turma da Mônica em uma única sentença. Jogador de RPG, tem todos os consoles da Sony mas jura que não é Sonysta. Adora filmes ruins.