Review – Through the Darkest of Times

Through the Dark of Times é uma visão crua e realista do domínio de Hitler

Enfrentar nazistas em jogos não é algo novo — na verdade, é uma das coisas mais antigas que se faz e as bases do gênero FPS foram construídas em cima disso, na forma de Wolfenstein 3D. No entanto, poucas vezes o verdadeiro terror do que a ascensão deles ao poder na Alemanha foi registrada de forma tão eficiente quanto em Through the Darkest of Times, da Paintbucket Games.

Enquanto a representação tradicional de nazistas, tanto em games quanto em séries e filmes, geralmente os mostra como entidades temíveis, mas derrotáveis, o adventure traz um caminho mais “humano” — mas não “humanizador” dessa ideologia temerária. Aqui, o jogador assume o papel do líder de uma célula de resistência ao regime, que opera desde a ascensão de Hitler ao poder até a rendição alemã na Segunda Guerra Mundial.

Desde o começo, fica claro que essa não é uma experiência sobre fazer grandes feitos heroicos ou mudar o curso da história e acabar com o regime antes que ele perpetue sua destruição. E é justamente esse o maior valor de Through the Darkest of Times: através de suas vinhetas que reproduzem eventos reais, ele serve muito mais como um retrato histórico de um período sombrio — que, infelizmente, encontra ecos na ascensão atual da extrema-direita mundial — do que como um “game” nos moldes tradicionais.

Viva para lutar outro dia

Aqui não há uma grande missão para cumprir ou um jeito de chegar à vitória — o final, com a derrota de Hitler e o extermínio de milhões de vidas, já é conhecido. O que você pode fazer é, em meio à repressão e à loucura da morte sistemática do que é considerado “diferente”, é encontrar um pouco de sanidade em meio ao terror da guerra.

Em Through the Darkest of Times, importam mais as pequenas “vitórias morais” e as lições aprendidas com elas do que entender e dominar as mecânicas de jogo — processo fácil, visto a simplicidade dos sistemas em jogo. É preciso saber se apegar às pequenas vitórias e definir objetivos, sabendo que eles refletem o que uma pessoa real poderia fazer — alguém sozinho nunca conseguira vencer um exército, mas poderia ter uma pequena esperança no sucesso de garantir a segurança de um vizinho perseguido.

Mas já que referenciei tanto a parte mecânica, vamos a ela: a partir de uma representação do mapa de Berlim, o jogador escolhe algumas missões e associa os membros da Resistência (de 3 a 5) em cada uma delas. Algumas têm pré-requisitos (como ter dinheiro ou certo item) e todas têm um certo grau de risco, que aumenta ou diminui dependendo das características de cada membro.

Mesmo quando uma missão é bem-sucedida, ela geralmente traz alguma punição, cujos resultados nem sempre são imediatos. Há um sistema que indica a visibilidade de cada membro: quanto mais alta, maiores as chances de que ele seja preso, machucado ou até mesmo morto durante uma missão futura. Para evitar isso, é preciso conciliar sua necessidade de angariar recursos (dinheiro, moral e seguidores) com a de se esconder para garantir a segurança de seu grupo.

Venha pela história

Enquanto tudo isso inicialmente parece desafiante e, confesso, um pouco confuso, logo a parte mecânica de Through the Darkest of Times passa a ser aquilo que você atura para chegar ao mais legal, que são as vinhetas de história e as breves. Isso porque é muito fácil “manipular” o game para obter os resultados desejados, o que torna as decisões feitas não algo carregado de um peso com consequências temíveis, mas sim algo que você faz para “cumprir tabela” e atingir objetivos específicos.

Mais uma lição de história interativa do que um game com desafios tradicionais, Through the Darkest of Time lembra que o “monstro” não é necessariamente a figura estranha que surgiu “do nada”, mas sim seu vizinho que vira o rosto para o outro lado ou aquele conhecido que “vai na onda” e deixa se dominar pelo ódio. A mensagem central é que a luta contra o que há de mais sombrio no homem deve ser perpétua, para evitarmos que ideologias assassinas e o ódio tomem conta e perpetuem novas barbaridades — lição que, no momento atual, parece que não foi muito bem aprendida em escala mundial.

Nota: 7 de 10 bombardeios noturnos

Texto por Felipe Gugelmin