Review – Sea of Stars

Segundo game produzido pela Sabotage Studios, Sea of Stars surge com a intenção de retomar uma espécie de experiência que, se não foi abandonada, se tornou mais rara nos dias atuais. Depois de apostar em um jogo de ação e plataforma com The Messenger, no título o pequeno estúdio desenvolveu uma espécie de RPG que poderia muito bem ter sido lançado durante a geração 16-Bits.

Nele acompanhamos a história de Zale e Valerie, dois jovens que nasceram com poderes especiais que os destinaram a virar Guerreiros dos Solstício. Eles são os únicos capazes de criar o que é chamado de Magia do Eclipse, capaz de derrotar as criações poderosas e aparentemente imortais de um alquimista conhecido como The Fleshmancer.

No game, acompanhamos os anos de treinamento da dupla e o momento em que eles saem em sua primeira missão com seu antigo amigo Garl. Nessa jornada, vamos resolver diversos problemas que não são necessariamente relacionados à missão principal, ao mesmo tempo em que encontramos novos aliados e nos deparamos com algumas reviravoltas.

Sea of Stars tem ideias retrô, mas execução moderna

O que fica claro em Sea of Stars é que, apesar de ter ambições retrô, o jogo não tem medo de usar a tecnologia moderna a seu favor. Isso se reflete em gráficos pixelizados muito bonitos e em ambientes com uma liberdade de exploração que simplesmente não seria possível em plataformas de 16-bits — e que considero o ponto-alto da experiência.

Não demora muito até descobrirmos que é possível escalar, nadar e passar por diferentes trechos e caminhos com uma liberdade impressionante. Enquanto mais para frente passar por alguns obstáculos exige o uso de itens específicos, a exploração nunca se torna algo limitado ou chato de fazer.

Review - Sea of Stars
Imagem: Divulgação/Sabotage Studios

Muito disso se deve à presença de vários quebra-cabeças ambientais, muitos deles ligados a alguns dos inimigos presentes no jogo. Se em alguns lugares a morte de adversários ajuda a derrubar barreiras, em outros é precioso pressionar botões no tempo certo ou usar as habilidades de Sol e Lua de Zale e Valerie para prosseguir.

Outro aspecto que chama a atenção positivamente é o sistema de combates. Enquanto Sea of Stars claramente é inspirado pelas ideias de Chrono Trigger, ele não tenta simplesmente repeti-las — o que é bom, mas de vez em quando sinto que o título acaba errando um pouco a mão ao tentar modificar ideias do passado.

Os combates acontecem em turnos bem divididos entre os momentos nos quais seu grupo ataca e aqueles destinados aos inimigos. Quando é sua vez de agir, você pode decidir livremente a ordem de seus ataques, o que está relacionado de forma direta à maneira como os adversários agem.

Na hora em que eles vão usar algum ataque mais forte, surge em cima de sua cabeça uma série de ícones e um contador de tempo, que indica em quantos turnos a habilidade vai ser acionada. Caso você consiga fazer a combinação de comandos (que podem envolver magias) no intervalo indicado, seu adversário vai ter seu ataque anulado.

Review - Sea of Stars
Imagem: Divulgação/Sabotage Studios

Isso garante uma fatia mais estratégica para as batalhas, já que muitas vezes é preciso saber priorizar um entre diversos adversários que têm contadores acima de suas cabeças. Também ajuda nisso o fato de que o acesso às magias é um tanto limitado, e só há como recarregar os recursos necessários para ativá-las fazendo ataques básicos ou usando itens — que surgem de forma um tanto limitada.

Sea of Stars também traz um sistema de ataques em duplas e trios que, para mim, é a parte que menos funciona. Isso porque sua ativação depende de encher uma barra que está vazia no começo de cada batalha e só se enche ao acertar golpes normais. Com isso, os melhores especiais acabam virando coisas raras e o sistema só se torna realmente útil nas batalhas com chefes.

O jogo também conta com um sistema de ritmo no qual apertar o botão de ataque no tempo certo causa um dano adicional ao adversário. Para completar, também há um sistema em que elementos são deixados no campo de batalha a cada golpe ou magia acertado, e o jogador pode usá-los para reforçar ataques diferentes ou causar efeitos elementais a golpes comuns.

Vale a pena?

Apesar de os sistemas de exploração e combate darem uma boa sustentação para Sea of Stars, sinto que o game pecou em sua parte central. Apesar de a Sabotage Studios ter construído um mundo bonito e com elementos interessantes, ela falhou em contar uma história que se mostrasse envolvente.

Muito disso é consequência do fato de que o jogo tem diversos personagens, mas nenhum deles é realmente desenvolvido — talvez com exceção de Garls. Zale e Valerie, por exemplo, são protagonistas com personalidades intercambiáveis, ao ponto em que, se tirarmos os nomes deles das caixas de diálogos, é praticamente impossível saber quem está falando.

Review - Sea of Stars
Imagem: Divulgação/Sabotage Studios

O mesmo problema afeta diversos antagonistas e companheiros, que têm personalidades pouco desenvolvidas e que podem ser resumidos a uma única linha. Para um jogo que tenta se embasar tanto em reviravoltas, essa é uma falha grave: quando uma pessoa muda sua lealdade, por exemplo, isso não tem muito efeito quando não sabemos nada sobre ela, nem tivemos a chance de desenvolver uma relação de afeto.

Também não ajuda que Sea of Stars tente tratar de temas como mundos paralelos e viagens no tempo sem dar espaço para a trama respirar. Na maior parte do tempo, senti que as coisas aconteciam “porque sim”, e me vi forçado a simplesmente aceitar os caminhos que a narrativa estava seguindo, mesmo que ela não parece seguir uma ordem muito lógica.

Review - Sea of Stars
Imagem: Divulgação/Sabotage Studios

No fim das contas, sinto que o jogo foi bem-sucedido em fugir dos clichês dos RPGs japoneses do passado, mas tentou ser ambicioso demais para a capacidade narrativa de seus criadores. Pelo menos a adaptação em português ajuda a entender a trama (apesar de alguns tropeços pontuais) e o gameplay sustenta a jogatina no momento em que o roteiro e os personagens falham.

Sea of Stars está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch. O jogo também pode ser adquirido através da loja no nosso parceiro, Nuuvem.

Sea of Stars: Sea of Stars: quem gosta de RPGs clássicos vai encontrar muita coisa para gostar no novo jogo da Sabotage Studios. Embora ele falhe em criar personagens bem desenvolvidos, a empresa construir sistemas de gameplay bastante sólidos e que ajudam a sustentar a experiência. Quem sabe em uma segunda tentativa o estúdio consegue criar uma narrativa mais forte e condizente com suas ambições. Felipe Gugelmin

7.5
von 10
2023-10-16T13:46:23-0300