Review – Resident Evil 7: Biohazard

Um retorno às raízes do survival horror

Muito se especulou desde o anúncio do sétimo game da série Resident Evil, principalmente a partir da mudança de uma das principais características presentes na franquia, a perspectiva de terceira para primeira pessoa. Com uma nova perspectiva, ambientação e personagens inéditos, o novo título deixa de lado o foco na ação, propondo um retorno às raízes do famigerado survival horror que conquistou seus fãs nos anos 90.

A história de Resident Evil 7 segue a cronologia da franquia, acontecendo nos dias atuais, após os eventos do sexto jogo. Ethan Winters é um protagonista inofensivo e vulnerável, já que não possui nenhum tipo de treinamento militar, que se vê numa situação desesperadora quando sua esposa Mia, antes desaparecida, envia uma mensagem sinistra revelando que ainda está viva. Tais acontecimentos funcionam como uma espécie de gatilho para que Ethan vá procurar por Mia na propriedade dos Bakers, no interior de Dulvey, Louisiana.

A propriedade dos Bakers, como já vista na demo jogável previamente lançada, é um local estranho e misterioso. A área que temos acesso no jogo final é muito maior do que a área apresentada na demo, o que nos faz entender o porque de ser chamada de mansão o tempo todo. A ambientação do game é extramente cativante e, tal qual a mansão do primeiro RE, faz com que o jogador hesite o tempo todo sobre qual caminho seguir, qual porta adentrar. Tanto os jardins e as áreas externas quanto cada canto ou corredor presente na casa, absolutamente tudo nos causa estranhamento e nos faz sentir um temor constante. A perspectiva em primeira pessoa certamente foi essencial  para desenvolver a atmosfera de horror do game, uma vez que a jogabilidade tornou-se muito mais íntima e intensa.

Os zumbis se tornaram parte do passado, o que faz sentido, se levarmos em conta toda a história da saga. Os inimigos mais difíceis agora presentes são quase humanos, ou pelo menos, é o aspecto que têm por fora, o que é muito mais interessante e imprevisível. Embora ainda existam criaturas deformadas a serem combatidas, os chamados Mofados (que se assemelham muito ao boss Tyrant do primeiro game), a família Baker preenche perfeitamente as necessidades de um jogo de horror.

É uma família distorcida, completamente lunática e capaz de fazer coisas extremamente medonhas. Em grande parte, a caracterização excelente de cada um dos membros desta família é o que torna a narrativa tão boa, o que por vezes compensa os buracos que são deixados no enredo. Os jumpscares também estão presentes, mas só são eficazes graças à atmosfera de terror psicológico que permeia o game.

RE 7 nos fornece poucos recursos e nos faz sentir indefesos. Os primeiros jogos da série nos obrigavam a gerir de forma minuciosa os recursos e contar as balas. A escassez ajuda a intensificar a sensação de desespero quando estamos a enfrentar algo horrendo, mas ao mesmo tempo, é preciso não entrar em pânico e acertar todas as balas (de preferência na cabeça) para não desperdiçar os recursos. Quando as balas acabam, resta o tradicional canivete, que é uma arma demorada e arriscada, já que nos obriga a ficar muito próximo do alvo.

Raramente temos oportunidade para descansar da intensidade da experiência, mas quando finalmente encontramos uma safe room com um gravador (que serve para salvar o progresso) e um baú (armazenamento de itens) parece que chegamos ao paraíso. A própria sonoridade da salas seguras dão uma sensação de alívio, o que remete novamente aos jogos mais antigos da franquia. Eventualmente, o jogo vai nos dando pequenas ajudas para não ficarmos tão indefesos.

Há mochilas que nos permitem transportar mais itens e esteroides ou injeções que aumentam permanentemente a vida, a velocidade de recarregar a arma e a estabilidade da mira, mas em nenhum momento o game se transforma num jogo de ação, ainda que mais próximo do final tenhamos várias armas ao nosso dispor.

The Bakers!

Os puzzles também voltaram a ser um dos principais destaques. Há puzzles simples de resolver, enquanto outros atrasaram um pouco pois não são tão triviais. Existem sempre pistas para encontrar determinados tesouros, mas o jogador deve estar sempre atento para encontrá-las. Alguns dos puzzles terão que ser resolvidos para prosseguir, enquanto que outros são opcionais. Alguns opcionais estão mais escondidos, mas vale a pena explorar bem todos os cantos de todos os lugares possíveis, pois é uma forma de encontrar mais suplementos.

Um dos triunfos de Resident Evil 7 é nos deixar num estado de tensão o tempo todo.  No entanto, já mais no final do jogo, o grau de terror diminui. Em parte, a experiência começa a tornar-se familiar e começamos a saber o que esperar ou que se esconde no próximo corredor. Por outro lado, a culpa também está na aparição excessiva do mesmo tipo de inimigo. No entanto, cada vez mais próximos do fim, o ritmo fica ainda mais extasiante e muitas descobertas são feitas, principalmente com relação à conexão deste game com o restante da saga. E, diga-se de passagem, há diversos e incríveis easter eggs para serem encontrados.

Resident Evil 7 deve ser encarado como um novo início para série que aproveita os elementos fundamentais que em 1996 tornaram o primeiro jogo num sucesso. À primeira vista, parece um jogo completamente diferente com uma nova perspectiva, mas era disto que a série estava precisando. Com uma ambientação e sonoridade incríveis e incontáveis momentos de tensão e mistério, além de boss fights inesperadas e um belo plot twist, RE 7 é o melhor jogo da série dos últimos anos e merece atenção caso você procure um bom jogo de terror.

Resident Evil 7 já está disponível para PS4, Xbox One e PC. 

Letícia Motta

Huge nerd. Apaixonada por eSports, JRPG's e ficção científica. Passa as horas vagas nos videogames e PC.