Review – Metaphor: ReFantazio

Embora há décadas a Atlus seja conhecida por seus RPGs profundos (e bastante difíceis), ela atingiu um novo nível de popularidade após o lançamento de Persona 5, em 2017. O jogo, que mistura demônios com tarefas escolares e amizades, trouxe à companhia japonesa um nível de popularidade sem precedentes — que ela explorou em vários spin-offs nos últimos anos.

Ela até mesmo trouxe a “fórmula” mais moderna da série para Persona 3, que recebeu um remake elogiado no começo de 2024. Até mesmo por isso, eram grandes as expectativas para Metaphor: ReFantazio, primeira franquia inédita dela em muito tempo, que trazia consigo a promessa de explorar um novo mundo de fantasia.

Liderando o projeto está o Studio Zero, formado por Katsura Hashino, Shigenori Soejima, Yuichiro Tanaka e vários outros nomes responsáveis pelo incremento de sucesso de Persona. O resultado é um game que, se tem muitas similaridades com a série mais famosa do estúdio, traz diferenças suficientes para ter uma personalidade própria marcante.

Metaphor: ReFantazio é uma corrida pelo trono

Logo na cena de abertura do RPG, somos apresentados a um reino de magia cujo rei acaba assassinado por Louis, o membro mais habilidoso e famoso de seu exército. A missão do protagonista, que age em nome do príncipe — que foi amaldiçoado pelo agente do vilão anos atrás, sendo escondido do mundo em seguida — é se vingar e evitar que ele tome o trono.

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Para cumprir esse objetivo, ele decide se infiltrar no exército imperial, esperando por uma chance de se aproximar do famoso general — que não nega o crime, e até mesmo se orgulha dele. No entanto, no momento em que isso acontece somos apresentados ao tema central do game: uma corrida pelo trono.

Mesmo morto, o monarca de Euchronia ainda é capaz de usar uma magia poderosa, que determina que, em alguns meses, será a vontade popular que vai definir seu sucessor. Junto a esse anúncio, surge nos céus um rosto imenso que “vigia” a situação atual, bem como diversas pedras que representam fisicamente os rostos de quem está mais próximo do trono.

Sabendo que pode se aproveitar da situação para proveito próprio, a Igreja do Santismo decide transformar a situação em um grande torneio. A ideia é que os competidores pela posição de rei vão percorrer diversos pontos do continente provando seu valor e, com isso, vão ascender em popularidade e se aproximar do trono.

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Enquanto os protagonistas não ligam para isso inicialmente, eles se veem obrigados a participar por um “detalhe” da magia do rei. Ela protege de tentativas de assassinato todos os competidores em posições mais altas, fazendo de Louis alguém efetivamente imortal — então, enquanto um novo atentado não é possível, é preciso fazer de tudo para garantir que ele não vai ser o vitorioso.

Esse pequeno resumo da premissa central da história compreende aproximadamente as primeiras 10 horas de Metaphor: ReFantazio que, embora seja um jogo meticuloso em apresentar seus cenários, tem um ritmo excelente. Isso porque a história é bem desenvolvida e sabe respeitar o tempo e a inteligência do jogador, estabelecendo aos poucos as bases de eventos cujo ápice acaba sendo satisfatório porque conseguimos acompanhar bem todas as suas etapas.

Mate monstros e faça amizade

Conforme as horas se passam e aprendemos mais sobre o mundo de Euchronia — marcado pela disparidade e o preconceito entre as raças que o habitam —, também ganhamos mais liberdade de ação. É nesse sentido que o game se aproxima mais de Persona, fazendo com que os jogadores tenham que seguir um calendário estrito que determina os próximos passos de sua história.

Review - Metaphor: ReFantazio

Em Metaphor: ReFantazio, os limites de tempo são explicados pelo fato de estarmos participando de uma grande corrida, então faz sentido que a percamos caso sejamos “deixados para trás”. Entre uma tarefa obrigatória e outra, você pode realizar tarefas secundárias (que existem aos montes), estreitar seus relacionamentos com amigos e participar de atividades que aprimoram as “características nobres” do protagonista.

Enquanto no começo do jogo parece que há coisas demais para fazer em pouco tempo — e realmente há —, com o passar do tempo fica mais fácil gerenciar suas tarefas e decidir o que merece sua prioridade. Nesse sentido, o game acaba sendo mais flexível que Persona tanto por trazer um sistema de viagens rápidas bastante útil, quanto por desenvolver questões como relacionamentos de forma mais direta e relativamente rápida.

As alianças que fazemos pelo caminho não somente fazem sentido dentro da história, como também destravam a base do ótimo sistema de combate do jogo: os Arquétipos. Eles servem como um sistema de classes intercambiáveis, sendo que cada um traz golpes, forças e fraquezas únicas — bem como combinações de poderes ligados a outras opções.

Review - Metaphor: ReFantazio

Enquanto a base é semelhante às criaturas que capturamos em Persona e Shin Megami Tensei, a execução é muito mais flexível. A partir do momento em que um Arquétipo é desbloqueado, todos os membros de seu grupo podem usá-lo, permitindo uma maior experimentação e otimização de seu estilo de batalha.

Embora inicialmente a ideia de fazer um grupo equilibrado possa parecer tentadora, vale a pena dedicar um tempo descobrindo as combinações que mais aproveitam as fraquezas dos inimigos que estão em seu caminho. Isso é verdade especialmente nos chefes, que podem ser incrivelmente difíceis — ou fáceis — dependendo das especializações que você escolheu.

Em matéria de desafio, Metaphor ReFantazio se encaixa em um ponto bastante intermediário nas séries da Atlus, e não depende tanto assim da exploração de fraquezas para funcionar. Embora elas ainda sejam importantes, ataques básicos têm uma utilidade aprimorada, e as habilidades conjuntas acabam tomando o protagonismo na hora de realmente causar estrago.

Também vale citar os momentos de “combate em tempo real”, que são mais um “encurtador” de caminho do que algo realmente profundo. Conforme inimigos se tornam mais fracos do que seu time, você pode eliminá-los usando um ou dois golpes bem dados, obtendo suas recompensas sem nem abrir a interface por turno. Também é possível a mecânica como uma “porta de entrada” para os combates mais tradicionais, que vão lhe conferir bônus iniciais, como encontrar seus adversários atordoados.

Uma jornada que vale a pena

Apesar de ter a palavra “metáfora” no nome, o novo game da Atlus não esconde que seus temas principais lidam com preconceitos, injustiças e disparidades que existem “porque sim” e não são desafiadas. Ele não faz isso de maneira nada sutil — o que poderia ser um defeito em outros jogos, mas aqui funciona bem pela importância que tais questões possuem, especialmente no momento atual do mundo.

Review - Metaphor: ReFantazio

Com várias reviravoltas interessantes e companheiros carismáticos, Metaphor: ReFantazio é uma jornada longa, cujo final se estende um pouquinho mais do que o necessário. No entanto, seu mundo repleto de figuras marcantes e monstros gigantescos conhecidos como “humanos” é semelhante a um bom e longo livro: por mais páginas que ele tenha, quando ele chega ao final fica aquela sensação de que a jornada que empreendemos valeu a pena.

Com áudio em inglês e japonês, e legendas nas mesmas línguas e em PT-BR, o game possui uma ótima adaptação, e vale a pena ser conferido em nosso idioma. Agora fica a esperança de que os projetos futuros da Atlus também ganhem uma dublagem nacional, o que certamente ajudaria a torná-los ainda mais populares no Brasil.

Metaphor: ReFantazio está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC (Windows Store e Steam). Jogamos no PC com uma chave fornecida pela SEGA.

Metaphor: ReFantazio: Metaphor: ReFantazio é um jogo excelente que mostra que a Atlus, embora não deixe totalmente a influência de Persona de lado, consegue fazer jogos excelentes fora de sua série mais famosa. Caso você aprecie uma história densa e divertida, e tenha pelo menos 80 horas disponíveis, essa é uma jornada da qual você certamente não vai se arrepender Felipe Gugelmin

9.5
von 10
2024-10-28T15:58:45-0300