Review – Kosmokrats

Divertido e refinado, Kosmokrats entrega desafio e risada na mesma intensidade

Década de 60. Corrida espacial. Construtivismo. Humor satírico. Rússia. Comunismo. Tétris. Pong. Propagandas de gosto duvidoso. Batatas. Kosmokrats é um puzzle-adventure que entrega complexidade e o requinte do melhor humor comunista internético.

Encarnado num descascador de batatas de uma estação espacial que acidentalmente toma o posto de um piloto de drones, o jogador deve completar diversos quebra-cabeças em gravidade zero a fim de construir a frota espacial da poderosa (ou nem tanto) nação-mãe URSS.

A jogabilidade não apresenta grandes mistérios, mas movimentos e físicas simples e intuitivos não são sinônimo de uma experiência fácil. Não é. Com apenas 2 minutos para realizar os objetivos, devemos gerenciar danos às peças em suspensão no espaço, resgatar cosmonautas, desviar de chuvas de asteroides, lidar com debuffs e a lista se estende por mais alguns infortúnios.

Fora das missões, o jogo se passa entre a central de controle e o desenrolar da história. Simples e minimamente interativo, o painel da estação te possibilita, entre outras opções, acompanhar a crescente frota estelar russa, receber relatórios por radiofax, ler jornais que se atualizam no correr da narrativa (em russo, obviamente) e trocar suas Kartoshkas, a ‘moeda’ vigente, por novos recursos, como vodka; essencial à sobrevivência no comunismo espacial.

O jogo, desenvolvido pela Pixel Delusion e distribuído pela Modern Wolf, possui mais profundidade do que aparenta. Entre piadas sobre a então corrente Guerra Fria e sotaques tão maravilhosos quanto cartunescos, atrocidades realizadas em nome do Estado, a iminência de uma guerra nuclear e a promessa de um futuro brilhante que nunca se cumpre também fazem parte do roteiro de Kosmokrats.

As diversas possibilidades de desenvolvimentos e finais ficam registradas no mural do seu centro de controle em forma de medalhas e permitem um mapeamento das consequências de nossas escolhas e resultados em missões e já deixa claro que o jogo conta com forte potencial de replayability.

Isso é ainda mais interessante quando descobrimos que a narrativa também avança quando falhamos algum objetivo e não, não podemos tentar de novo sem reiniciar toda a história. Cada escolha repercute de alguma maneira no game e alcançar a supremacia soviética ou se tornar um canibal faminto e solitário no espaço são realidades mais próximas do que gostaríamos de imaginar.

Por fim, a aventura hilária pode ser igualmente chocante enquanto brinca com diferenças e falhas tanto do comunismo, como do capitalismo. Não faltam interações fantásticas entre soviéticos e estadunidenses que, mesmo fictícias, possuem âncoras históricas reais. Deliciosamente brilhante, camarada.

NOTA: 8/10 vezes que fui descascar batata depois de jogar esse jogo

Texto por Hugo Sppezapria