Review – Hellblade: Senua’s Sacrifice

O que é real?

A britânica Ninja Theory, produtora dos excelentes DmC: Devil May Cry, Heavenly Sword e Enslaved: Odissey to the West conseguiu ao longo de seus catorze anos de desenvolvimento definir três aspectos em comum que envolvem seus games: um combate de classe ninja, personagens fortes com histórias sólidas e uma arte visual única.

Não obstante, Hellblade: Senua’s Sacrifice chega como um jogo ‘’AAA independente’’ em agosto de 2017 para consagrar todos estes fatores ao apresentar a jornada de uma personagem com uma história marcante e bem construída, além de um sistema de combate que instiga o senso de curiosidade do jogador.

Embarque na mitologia nórdica até as profundezas de Helgardh

A protagonista de Hellblade: Senua’s Sacrifice é uma jovem guerreira viking que desenvolveu um grande trauma devido a uma invasão de outra tribo nórdica em eventos passados. A partir disso, ela passa a apresentar sérios sintomas de esquizofrenia, ouvindo vozes constantes em sua cabeça e tendo visões distorcidas da realidade.

A história é toda baseada na mitologia nórdica e é exatamente aqui que se encontra um prato cheio para os fãs dessa cultura. O game apresenta um enredo bem desenvolvido, baseado nos mitos nórdicos reais, além de narrar com detalhes várias dessas histórias por meio do contato visual da heroína com runas nórdicas.

Logo de início, Senua embarca numa viagem sem retorno para Helgardh, também conhecido como Hel ou Helheim, um dos nove mundos da mitologia nórdica. Governado por Hela, este lugar é o domicilio dos mortos, isto é, o lugar de destino dos que morreram sem glória, doentes ou por idade avançada. Nesse submundo, a guerreira busca encontrar a alma de uma das pessoas mais importantes em sua vida, seu amado Dillion.

As vozes que atormentam sua mente atormentam também o jogador. Jogar Hellblade utilizando um headset é uma experiência e tanto, justamente pelo fato de que o áudio e a trilha sonora do game são eficientes em proporcionar a sensação de vivenciar o transtorno psicológico da protagonista.

Um sistema de combate misterioso

A jornada de Senua pelo inferno nórdico é uma jornada de sacrifício, como propõe o próprio título. Por essa razão, não espere encontrar facilidade nos momentos de batalha. O sistema de combate de Hellblade é tão misterioso quanto o universo de Helheim: não há um tutorial, barra de vida, pontos de experiência e nem qualquer outra informação sobre que caminho seguir na tela.Na pele da guerreira, o jogador deve descobrir por conta própria como jogar, contando com apenas algumas dicas fornecidas pelas vozes para traçar seu caminho.

A jogabilidade é, de modo geral, inspirada por outros jogos de ação como Dark Souls, Heavenly Sword e God of War, principalmente em aspectos mais estéticos e de estratégia. Subitamente, Senua é forçada a enfrentar diversos inimigos que vão surgindo em sua frente e até em suas costas, forçando-a a bloquear ataques e utilizar de sua esquiva, o que lembra bastante o combate da série Souls.

O combate contra os diferentes chefes presentes no jogo também deve ser bem calculado. Os deuses mitológicos não são nada fáceis de enfrentar, principalmente se o jogador não estudar minimamente os movimentos de ataque e defesa desses inimigos. Felizmente as vozes dão pequenas dicas ao longo da luta e o mecanismo de foco de Senua também auxilia como um poder extra para enfrentá-los, fazendo com que o tempo fique mais lento.

Outro fator recorrente  no game é a presença de quebra cabeças. É uma pena que em certo ponto eles se tornem repetitivos demais e, por vezes, exaustivos. É frequente a sensação de estar perdido ou de frustração por ter que retornar a um mesmo lugar por várias vezes.

Outro ponto que deve ser questionado é a morte permanente citada pelo game logo no começo. A instrução recebida pelo jogador é que, se Senua morrer muitas vezes, sua jornada acabará e com isso, o save do jogador é apagado. No entanto, mesmo antes do lançamento muitos já diziam ser um blefe, pois isso nunca ocorreu com nenhum jogador. De fato, cada morte da protagonista é punida com uma marca em seu braço, mas nada que afete o progresso no jogo.

Pesadelos são reais, se você acreditar neles

Certamente o ponto chave do game é o transtorno psicológico que a heroína vivencia. ‘’Mas e se estamos sempre sonhando mesmo quando estamos acordados? E se o que vemos é apenas algo criado por nós mesmos? Talvez seja por isso que as pessoas tenham medo de enxergar o mundo por seus olhos. Se você acreditar que a realidade de Senua é distorcida, você deve aceitar que a sua realidade provavelmente também pode ser.’’

Com alguns questionamentos sobre o que é ou não real, o enredo torna-se rico ao abordar um tema que até então é pouco desenvolvido nos jogos eletrônicos de forma geral, os aspectos do adoecimento psicológico. Experenciar algo desse tipo é algo muito provavelmente inimaginável para quem nunca viveu e é por essa razão que Hellblade acerta em abordar a temática de uma maneira interessante e realística, contando com profissionais da área para aprimorar essa experiência.

O veredicto

Para os fãs de mitologia nórdica e de jogos com personagens fortes e histórias complexas, certamente Hellblade: Senua’s Sacrifice é uma ótima escolha. Com um design gráfico extremamente bem feito, digno das produções AAA, o game cumpre o que promete ao apresentar um excelente trabalho de captura de movimentos faciais que fazem com que todo o sofrimento de Senua seja perceptível e real.  Ainda que haja alguns poucos problemas como o fato dos puzzles serem muito repetitivos e do sistema de morte permanente aparentemente ser um blefe, a produção é provavelmente uma das maiores surpresas deste ano.

Hellblade: Senua’s Sacrifice já está disponível para PC e PS4. 

Está análise foi feita através de uma cópia cedida pela plataforma GOG.com

Letícia Motta

Huge nerd. Apaixonada por eSports, JRPG's e ficção científica. Passa as horas vagas nos videogames e PC.