Review – F1 2020

Explorando uma nova face da Fórmula 1, o novo jogo da Codemasters continua seu reinado como o principal simulador de corrida no mundo dos games

Hegemonias não são novidades no mundo dos esportes. O Chicago Bulls de Michael Jordan, o Real Madrid de Cristiano Ronaldo ou a Mercedes de Hamilton são bons exemplos de equipes que — por um período considerável de tempo — dominaram suas respectivas modalidades.

Há mais de 10 anos produzindo iterações anuais do simulador de Fórmula 1, a desenvolvedora Codemasters demonstra com F1 2020 o motivo pelo qual sua hegemonia dentro do gênero é tão duradoura.

Os gráficos continuam excelentes — o clichê “olhei para o jogo e achei que era uma corrida de verdade” se mantém de pé –, mas não apresentam diferenças notáveis das últimas edições. A jogabilidade também continua similar a ótima experiência dos jogos passados, mas com o fim do ciclo da nova geração, a impressão que passa é que a série F1 chegou no limite dos consoles atuais.

E o que fazer quando se está no topo do jogo por tanto tempo? Para a Codemasters, a resposta foi dar ao jogador a chance de criar e controlar sua própria equipe de Fórmula 1. O modo “Minha Equipe”, a grande novidade do F1 2020, coloca o player na posição de figuras lendárias do esporte como Bruce McLaren e Jack Brabham — um piloto dono de uma equipe.

O modo adiciona o décimo primeiro time aos grids e cabe ao jogador customizá-lo da maneira que achar necessário. Cor, brasão, motor e patrocínio são apenas algumas das diversas opções disponíveis para customização. Ao assumir o posto de dono de uma equipe, é sua responsabilidade gerenciá-la em todas as áreas. O orçamento da equipe é decidido no começo de cada temporada após fechar um contrato com um dos vários patrocinadores disponíveis.

Cada patrocinador tem um tipo diferente de expectativa: metas ambiciosas garantem recompensas maiores, mas é importante lembrar que no começo do jogo você dificilmente brigará por pole position contra gigantes como Mercedes, Ferrari e Red Bull.

Após fechar seu patrocínio principal para a temporada, você deve escolher um motor para o carro e contratar um segundo piloto. Escolher a melhor tecnologia de corrida e o companheiro de equipe mais qualificados podem garantir sucesso no campeonato, mas gastar todo o seu dinheiro com essas escolhas pode fazer falta no futuro — você também é responsável por gerenciar as demais áreas do time, como a equipe que cuida da cadeia cinemática, da aerodinâmica, do chassi e da durabilidade do carro.

Investir dinheiro nestes departamentos te garantem melhorias no carro e a possibilidade de desenvolver novas tecnologias, é apenas preciso tomar cuidado pois a moral da equipe também é fator importante para o sucesso na temporada — dedicar recursos demais a uma única área fará com que os outros funcionários do time se sintam infelizes.

Por fim, como chefe, é sua responsabilidade organizar o calendário do time e responder as perguntas da imprensa. Como é tradição dos jogos de esporte, cada resposta costuma a dar bônus diferentes para diferentes setores, o que torna cada fala pública uma decisão estratégica. Chamar a atenção para os motores do seu carro pode agradar a equipe de cadeia cinemática, mas talvez o ponto que precise ser melhorado no seu carro seja a aerodinâmica — e um elogio a esse equipe cairia bem.

Complexo, o modo “Minha Equipe” permite a experiência mais imersiva no mundo da Fórmula 1 até o momento. Entretanto, você é obrigado a assumir o volante em todas as corridas e é o seu desempenho na pista que define o futuro da sua equipe. Em um modo tão rico em detalhes e que demanda tanto tempo do jogador para acertar o funcionamento de um time, é frustrante que o game jogue toda a complexidade de gestão de recursos fora em favor de uma métrica de sucesso que se baseia apenas na sua habilidade na pista.

Não se mexe em time que está ganhando 

O restante do jogo segue a máxima do futebol, não mexer no que já funciona. O modo carreira não ganha tanta atenção quanto no jogo predecessor, mas apresenta a possibilidade de uma temporada completa na F2 antes do jogador embarcar na F1 — uma mudança de ares bem-vindas, vide as regras de classificação e pontuação diferentes que existem na modalidade.

A corrida online continua sendo uma ótima opção para aqueles que desejam um desafio maior do que o modo offline e a possibilidade de jogar localmente com uma tela dividida trará alegria para os saudosistas de plantão. Aos novatos, a boa notícia é o modo casual — uma nova dificuldade que é infinitamente mais acessível e ajuda aqueles que não estão acostumados com o simulador a pegar o jeito da coisa.

A decepção, entretanto, fica com a DLC que homenageia um dos maiores — senão o maior — piloto de todos os tempos: Michael Schumacher. Com sete títulos mundiais, o piloto merecia mais do que algumas skins de seus uniformes, um avatar virtual e os seus carros mais famosos disponíveis no jogo. Na edição anterior, o modo “Senna x Prost” era limitado mas fazia um trabalho interessante ao explorar a rivalidade dos dois pilotos através de corridas dentro do jogo. Ao invés de expandir essa ideia, a Codemasters optou por limá-la por completo, retirando a chance dos jogadores de se sentirem na pele do alemão que foi sinônimo de velocidade ao redor do mundo enquanto correu.

A qualidade gráfica e a jogabilidade excelente continuam as mesmas — o que pode ser um pouco decepcionante para os fãs de longa data que desejavam novidades mais robustas nessa área. Mas com um novo modo que permite ao jogador explorar um lado diferente da Fórmula 1 e uma leve aproximação ao público mais casual, F1 2020 é o título definitivo para aqueles que desejam vivenciar todas as emoções de uma corrida da Fórmula 1 — ao menos, até o lançamento da próxima edição.

Daniel Vila Nova

Fã de literatura, vai de Machado de Assis a Turma da Mônica em uma única sentença. Jogador de RPG, tem todos os consoles da Sony mas jura que não é Sonysta. Adora filmes ruins.