Review – eFootball PES 2020

O time entra em campo jogando seguro e garante os 3 pontos

Lançado no começo de setembro, eFootball PES 2020 — o terceiro nome pelo qual a franquia é conhecida no Ocidente — deu os primeiros passes da temporada de futebol virtual deste ano. Com eles, vieram as tradicionais discussões relacionadas a se ele está melhor ou não do que FIFA, questão que não pretendemos responder aqui.

Agora com um foco claro nos esportes virtuais, o jogo da Konami chega às lojas com algumas melhorias bem-vindas, mas não se aventura tanto assim dentro dos gramados. Finalmente apresentando uma interface mais convidativa (e menos parecida com um jogo de PS2), o título ainda aposta no gameplay como sua principal força.

Antes de falar o que é bom nele, vamos tirar o “elefante branco da sala”: sim, como em anos anteriores, PES ainda tem como sua principal fraqueza a falta de licenças. Embora tenha conseguido tirar de seu principal rival os direitos sobre a Juventus, nas configurações normais ainda somos forçados a jogar com uma seleção generosa de times com nomes e escudos genéricos.

Felizmente, tanto no PC quanto no PlayStation 4 é possível resolver isso com facilidade usando as famosas Option Files, compiladas ano a ano pela comunidade de fãs. O que não dá para perdoar muito é a demora da desenvolvedora em atualizar a escalação das equipes, especialmente daquelas que são suas parceiras — o Barcelona, por exemplo, ainda exibia Philippe Coutinho em seu elenco durante nossos testes.

Bola rolando

Dentro do campo a Konami entrega um game bastante responsivo e divertido de jogar, mesmo que conservador em suas novidades. A sensação de jogar eFootball PES 2020 é a de que estamos jogando uma versão ligeiramente mais responsiva e focada nos toques de PES 2019. Isso não é necessariamente ruim, visto que a desenvolvedora finalmente havia encontrado um caminho interessante nas edições anteriores.

Durante meus testes na versão de PC, o que me incomodou em matéria de gameplay é algo intrínseco a jogos de futebol: a maneira como seus companheiros se comportam. Para um game do estilo funcionar bem, é preciso que o jogador diretamente controlado pelo jogador converse bem com aqueles que estão a seu redor — a inteligência artificial tem que andar por aquela fina linha de saber o que você pode fazer, ao mesmo tempo em que não faz tudo sozinha.

Infelizmente, em boa parte do tempo parece que seus companheiros simplesmente não estão muito interessados em cooperar. É muito normal partir em uma corrida pelo meio do campo simplesmente para descobrir que os laterais não o acompanharam — e dá-lhe passar para trás e desacelerar a jogada para não perder a bola.

Da mesma forma, defensores volta e meia decidem ignorar a bola e ficar parados, mesmo quando ela está indo em direção a eles. É bem comum perder o domínio para um adversário porque a seleção automática de personagens não mudou para um jogador no rumo de um passe, teimando em selecionar outro que está bem distante. Infelizmente, também não são comuns momentos em que seus defensores decidem dar as costas para um atacante, deixando o caminho livre para o gol.

Jogabilidade é o rei

Em contrapartida a esses problemas, PES 2020 oferece um sistema de controle de bola bastante divertido e uma jogabilidade baseada em passes rápidos e bom posicionamento. Ao contrário de edições passadas (e, de certa forma, da concorrência), nunca senti que um gol marcado foi exatamente igual ao outro nem que havia uma “fórmula mágica” para pontuar — a estratégia de correr pelas laterais e cruzar na área até funciona de vez em quando, mas não é totalmente certeira.

A sensação é a de que a série está seguindo um caminho estratégico, ao mesmo tempo em que não deixa de lado seu lado mais responsivo que vem das raízes mais arcade. Isso significa que as partidas ainda podem resultar em placares generosos, mas isso não é mais resultado da pura correria e dos dribles fáceis como foi no passado.

Para quem gosta de aspectos que vão além do gameplay puro, eFootball PES 2020 traz de volta o popular modo MyClub, que incorpora uma série de elementos de RPG para manter o jogador engajado. A cada partida você aumenta o nível de seu time, consegue novos olheiros e cumpre condições que podem decretar se um técnico vai ou não permanecer em seu time.

Além do aspecto de gerenciamento, que é ainda mais complexo — e um tanto suscetível a microtransações, infelizmente —, também há torneios contra jogadores de verdade e a possibilidade de deixar uma atleta treinando para melhorá-lo. O modo exige bastante investimento de tempo e dedicação, mas compensa por trazer uma experiência com evolução constante e que dá meios diversos do jogador encontrar satisfação.

A Master League também foi aprimorada, mas, confesso, ainda não é exatamente o tipo de experiência que eu aprecio como jogador (ou seja, minhas impressões sobre ela não influenciam na nota final). Bastante focada no lado do gerenciamento de times, ela promete mais proximidade entre o mundo real e o virtual e um sistema de negociação mais realista.

Nem tudo são flores

Neste texto, você já conferiu algumas críticas a eFootball PES 2020, mas há aspectos além dela que incomodam muito mais. O principal deles se refere à narração, que é marcada pela repetição e por comentários que parecem simplesmente estranhos. Mais de uma vez, defensores como Ederson (do Manchester City) são citados como verdadeiros goleadores que não deixam o placar no 0 a 0, por exemplo.

Também há problemas em relação ao tom: o nome de um jogador pode ser dito de forma mais ou menos animada, contrastando bastante com a narração até o momento. Felizmente, a versão Steam permite escolher entre diferentes idiomas, caso a versão em português brasileiro não seja a de sua preferência.

Por falar em PC, PES 2020 apresenta alguns problemas de desempenho um tanto estranhos e que podem estar relacionados ao frametime. Mesmo rodando em uma máquina poderosa (com um Core i9, RTX 2080 e 32 GB de RAM DDR 4 de 3.200 MHz), o game apresenta alguns slowdowns pontuais, especialmente nos momentos em que a bola volta ao centro do campo após um gol.

Jogando seguro para garantir os 3 pontos

eFootball PES 2020 é um bom jogo de futebol que, apesar de não evoluir muito os conceitos da versão anterior e tem algumas arestas a aparar, proporciona boas horas de diversão. Assim como em anos anteriores, o jogo não é exatamente o motivo para os fãs de FIFA trocarem de franquias, mas deve satisfazer quem procura por essa mistura de “arcade tático” na qual a Konami vem apostando nesta geração.

Com bastante foco no online (que, infelizmente, parece mais vazio na versão de PC), o jogo também tem modos bastante generosos para quem só curte uma jogatina com os amigos ou quer testar suas habilidades contra a inteligência artificial. Com melhorias notáveis em sua interface, o game só peca pela IA instável e por trazer alguns probleminhas de desempenho.

Se você gosta de passar horas no MyClub e as mudanças na Master League parecem interessantes, há motivo de sobra para investir na nova versão. Só tenha certeza de comprar uma edição que tenha suporte ao Option File, caso contrário você continuará tendo que jogar com diversos times com nomes genéricos.

NOTA: 8 de 10, com uma retranca básica

Texto por Felipe Gugelmin