Review – Dying Light 2

Dying Light 2 acerta no parkour, mas não empolga muito no geral

Eu queria ter conseguido me empolgar mais com Dying Light 2. Quando o jogo foi anunciado durante a conferência da Microsoft na E3 2018, ele parecia ser exatamente o tipo de experiência que eu gosto: um RPG focado na narrativa e em diálogos, nos quais suas escolhas como jogador levam a narrativa para caminhos completamente distintos um dos outros.

Infelizmente, os anos — e um processo de desenvolvimento conturbado — fizeram com que o produto final seja uma versão muito mais simplificada do que foi prometido. Não que esses elementos não estejam presentes no título de alguma forma — é só que eles foram reduzidos à sua forma mais básica o possível e, em última instância, parecem mais como ideias colocadas de última hora do que a base do que prometia ser uma experiência incrível.

Não que tudo seja negativo: ao mesmo tempo em que Dying Light 2 parece não se encontrar na parte narrativa, no gameplay o jogo não deixa ao dever. Evoluindo os sistemas de parkour encontrados em seu antecessor, o título convida os jogadores a explorar uma cidade cuja maior parte das estruturas é dominada por zumbis.

O que resta da humanidade vive em telhados e em poucas áreas protegidas, mas a escassez de recursos e a impossibilidade de uma cura faz com que as tensões permaneçam altas e grupos lutem entre si pelo que resta.

Quando tudo dá errado mais uma vez

A história de Dying Light 2 se passa décadas após os eventos do primeiro jogo. Enquanto no passado tudo deu certo e uma cura para a praga zumbi foi encontrada, a humanidade não aprendeu nada: o vírus responsável pelo desastre continuou sendo estudado para fins militares e, mais uma vez, saiu de controle.

Dessa vez, não houve como contê-lo e toda a humanidade foi destruída, restando somente alguns poucos refúgios viáveis para os poucos sobreviventes. Na prática, quem restou no mundo acabou tendo que aprender a conviver com os zumbis e com o fato de que virar deles é questão de tempo — como logo aprende o protagonista Aiden.

Motivado pela procura da irmã de quem se separou durante a infância, ele chega à cidade de Villedor atraído por rastros que indicam que ela está vivendo por lá. Não demora para que sua missão seja bloqueada por um vilão — que parece ter ligações diretas com o passado — e eles e veja infectado pelo mesmo vírus que condenou o futuro da humanidade.

Dying Light 2

Após uma longa introdução, os jogadores se veem obrigados a cumprir uma série de missões que prometem revelar aos poucos informações essenciais para a missão de Aiden. Entre uma tarefa e outra, o jogador é brindado com cenas do passado do herói e subtramas que até tentam trazer alguma emoção, mas são prejudicadas por atuações no mínimo duvidosas.

Talvez nesse sentido Dying Light 2 seja prejudicado justamente por ser um RPG de mundo aberto com pretensões de oferecer centenas de horas de conteúdo. Isso resulta em missões que, se funcionam bem em um primeiro momento, logo se mostram repetitivas e previsíveis — especialmente aquelas que não pertencem à trama principal.

E nem mesmo a narrativa central se salva: o jogo é confuso e não trabalha muito bem o sistema de facções, que prometia ser a parte mais importante da experiência. Há sim diferenças em escolher um ou outro lado, mas elas parecem tão pequenas que, na prática, o que realmente faz a diferença é se você prefere ganhar um ou outro estilo de arma como bônus.

Dying Light 2

Parkour radical em meio ao apocalipse

Se a parte narrativa de Dying Light 2 não é das minha preferidas, a parte mecânica é muito legal. Correr pela cidade em busca de rotas otimizadas, saltar pelos telhados em busca de apoio e se esgueirar por tubos de ventilação em busca de itens é muito divertido. Ouso dizer que, em matéria de movimentação e plataforma em primeira pessoa, o jogo atinge um nível de qualidade único e que ainda vai demorar a ser superado.

O combate também funciona bem, com algumas exceções — e olha que eu não sou daqueles que curte confrontos físicos vistos em primeira pessoa. A Techland optou por incluir uma seleção bastante pequena de armas de longa distância, o que força o jogador a lidar com a maioria dos confrontos com armas corporais, que surgem de forma generosa pelo mapa.

As armas até possuem diferentes níveis de qualidade, mas o fato de todas elas eventualmente estragarem faz com que você nunca tenha muito tempo de se apegar a alguma delas. Os equipamentos podem ser aprimorados com diversas modificações (como dano de fogo/elétrico) que podem ser construídas assim que o jogador adquire as esquemáticas necessárias, que surgem de forma generosa após as primeiras horas da aventura.

Enquanto a premissa básica dos confrontos até que é legal, fato é que falta profundidade a eles, especialmente quando você está enfrentando um único inimigo. Nesse momento fica claro o quanto a inteligência artificial do game é básica, bastante saber circular um oponente para despachá-lo rapidamente. Seja ele humano, chefe ou zumbi especial, a tática sempre funciona e não rende muitos momentos de tensão.

Dying Light 2

De certa forma, algo que prejudica Dying Light 2 é o fato de ele ser um RPG: enquanto as primeiras horas de jogo são tensas e você se preocupa em não ser alvo dos zumbis, isso muda rapidamente conforme o jogador descobre novos equipamentos e sobe de níveis. Depois de certo ponto, os inimigos só se tornam capazes de provocar dano em multidões, com as quais é possível lidar com facilidade — o coquetel molotov é um item que muda completamente o jogo assim que você o obtém.

O único elemento de tensão constante que permanece efetivo é o tempo-limite que o jogador tem para explorar a cidade à noite. Como Aiden está infectado, ele não pode ficar muito tempo longe da luz ultravioleta — caso isso não aconteça, é Game Over na hora.

O tempo-limite também pode ser estendido com o uso de itens que surgem de maneira abundante, mas ainda assim ele rende alguns momentos tensos, especialmente quando você está sendo perseguido por dezenas de criaturas que surgem por todos os cantos.

Dying Light 2 peca pelo excesso

De certa forma, o que provavelmente fez com que Dying Light 2 não clicasse comigo é o fato de que, enquanto os primeiros trailers prometiam uma aventura especial, o resultado final é um tanto previsível.

Enquanto a história é “qualquer coisa”, o mundo aberto também não traz muito benefícios para o jogo — se em um primeiro momento ele parece recheado de coisas a fazer, não demora para que você perceba que é tudo meio parecido e genérico.

Dying Light 2

Sabe aquela coisa de mundo aberto recheado de pontos de interesse que não são tão interessantes assim? Pois é, o título da Techland comete esse pecado e, em muitos quesitos, acaba parecendo mais um jogo do estilo lançado em 2015 do que um produto que aprendeu com lições que deram certo no passado e decidiu apostar mais na qualidade do que na quantidade.

Há muita coisa para gostar aqui: o parkour é especialmente divertido, e os desenvolvedores souberam criar ótimos desafios de plataforma em primeira pessoa. No entanto, a narrativa fraca e o mundo repetitivo fizeram com que essa não seja uma experiência que eu consiga apreciar tanto assim.

Dying Light 2 já está disponível para Xbox Series X, PlayStation 4, Xbox One, PlayStation 5, Nintendo Switch e PC (Steam/Epic Games Store)

Nota: 7 de 10 vezes que morri pra um infectado especial