Review – CrossCode

CrossCode é um RPG moderno disfarçado com uma capa de nostalgia

Jogos single player que tentam emular o universo de um MMO não são exatamente novidade. Já na época do PlayStation 2 a série .hack se baseava nesse preceito e, mais recentemente, Sword Art Online tem servido de inspiração para muitos games. No entanto, nenhum deles é tão fiel a essa premissa quanto CrossCode, da Radical Fishing Games.

Com um visual inspirado pelos jogos da era 16-bits, CrossCode me trouxe muitas lembranças positivas da época em Ragnarok Online era um grande fenômeno. No entanto, aqui a narrativa é um pouco mais direcionada e não tão focada no grind por elementos raros e níveis — no entanto, esses elementos têm uma presença bem notável.

O game acompanha a história de Lea, uma nova jogadora de CrossWorlds, um famoso jogo massivo que mistura elementos virtuais e reais. Ao mesmo tempo em que os jogadores estão aproveitando a experiência em máquinas remotas, os avatares controlados estão situados no mundo real, em uma ilha criada especialmente para a experiência.

Pouco sabemos sobre a protagonista do no começo, fora o fato de que ela perdeu suas memórias antes dos eventos do game. Também sabemos que ela tem algumas características especiais e, ao contrário dos demais jogadores — alguns deles membros de sua equipe —, parece nunca realmente se deslogar do MMO.

Um clássico moderno

Enquanto as influências de RPGs clássicos ficam evidentes logo ao começar CrossCode, felizmente esse é um game que não se deixa guiar pela nostalgia. Os visuais pixelizados são aplicados na construção de ambientes complexos, nos quais diferenças de níveis de altura influenciam bastante na exploração e descoberta de segredos.

Os movimentos rápidos da protagonista se refletem no sistema de combate em tempo real, que recompensa jogadores mais ousados e habilidosos. Quando uma briga começa, o jogo inicia um contador que determina quando um confronto chega ao fim — e você pode continuar fazendo isso rolar contanto que esteja brigando com novos oponentes.

Esse contador não reseta quando o jogador troca de tela e, conforme inimigos são eliminados, o ranking das recompensas possíveis aumenta. Isso serve como estímulo para tentar eliminar todos os inimigos de uma área o mais rápido possível em busca de recompensas cada vez melhores — em contrapartida, se você morrer durante o processo perde todos os bônus acumulados até aquele momento.

Isso faz com que o combate — ao qual você vai dedicar pelo menos 70% de seu tempo — seja uma eterna relação entre risco e recompensa. Muitas vezes é melhor deixar o contador chegar ao fim (o que recupera sua energia) e garantir sua sobrevivência do que tentar prosseguir e arriscar tudo. Felizmente, falhar não traz grandes punições, além de ser levado novamente para a tela inicial de uma área.

CrossCode review | Rock Paper Shotgun

Nem tudo é diversão

Se a parte de combate e exploração de CrossCode consegue combinar bem elementos nostálgicos e soluções mais modernas, muita coisa ainda está presa às regras do passado. O sistema de quests, por exemplo, ainda está recheado daquelas tarefas bem chatinhas que envolvem “coletar X itens” em determinada área em troca de novos equipamentos ou pontos de experiência.

Da mesma forma, os momentos iniciais da aventura demoram um pouco para engatar. Enquanto o game não é daqueles que prende você em diversas horas de tutorial, ainda há uma dose exagerada de cuidado para assegurar o aprendizado de todas as mecânicas disponíveis no menor tempo possível. Felizmente, quem retorna à aventura para uma segunda jogatina tem a opção de pular diálogos e explicações, então isso acaba não sendo um grande obstáculo no geral.

CrossCode review | Rock Paper Shotgun

Análise: CrossCode | A Casa do Cogumelo

Um senhor RPG

Oferecendo uma história que parece relativamente simples — a busca por itens mágicos que representam diferentes elementos —, CrossCode se desenvolve em uma aventura épica com uma duração considerável. Ainda atualizado pelos criadores, o game é daqueles ao qual dá para facilmente se dedicar mais de 80 horas e, ainda assim, não ver tudo o que ele tem a oferecer.

Não se deixe enganar pelos visuais simples ou pela estética retrô: o título é uma experiência bastante moderna e que pode competir facilmente em qualidade com nomes como Persona 5 e Dragon Quest XI. No entanto, esteja preparado para lidar com um começo um tantinho lento, algo que acaba sendo um padrão de muitos JRPGs, tanto antigos quanto mais recentes.

NOTA: 9/10 por não depender só da nostalgia para ser um bom RPG

Texto por Felipe Gugelmin