Preview – Enshrouded (Acesso Antecipado)
Sabe aquele jogo que você abre ele pra “jogar rapidinho”, “vou só fazer uma missão” e quando percebe se passaram três horas. Esse é o novo survival da Keen Games, Enshrouded. O jogo promete ser uma mistura de Valheim, Skyrim e Breath of the Wild, e por algum milagre ele consegue entregar na sua promessa com uma certa competência.
Enshrouded foi inicialmente anunciado em 5 de março de 2023, e na época já se criou uma boa expectativa dos fãs dos jogos de survival, os gráficos prometidos eram bonitos, a gameplay muito atrativa e ao contrário de virtualmente todos os seus concorrentes, o mundo de Enshrouded é “feito a mão”, ou seja, cada pedra e cada torre no mundo de Embervale foi colocado ali por um developer, nada de mundo e dungeons criados proceduralmente.
Na minha opinião, esse mundo criado a mão é o aspecto mais forte do jogo. Como tudo foi feito com um objetivo em mente, a narrativa orgânica acontece naturalmente, assim como nos seus jogos de referência mencionados anteriormente, existe aquele fator de “o que é aquilo na distância?” muito bem montado e através desses chamarizes que os desenvolvedores te guiam com excelência pelo mundo, pelas dificuldades, pelos materiais e tudo mais que envolve o universo.
Um survival light
É importante saber que o jogo é ao mesmo tempo um survival e um RPG. Na própria descrição no site oficial, o jogo se autointitula um “Action Survival RPG” e isso se reflete nas mecânicas do mesmo. Não existe uma barra de fome ou sede, como é tão comum em jogos do gênero. Mas não se engane, existem muitos tipos de comidas diferentes, plantações a serem feitas, água a ser coletada, mas tudo para criação de refeições que vão trazer diferentes buffs.
Por exemplo: Uma carne cozida pode te dar +2 de vigor, aumentando um pouco sua vida, facilitando aquele chefe mais chato. Um chá te da regeneração de vida e um pouco de resistência, um mel melhora sua regeneração de vigor e etc…
Aliás, recomendo fazer o chá de camomila, a flor só aparece nas áreas mais no meio do game, mas assim que você encontrar, vire fazendeiro de camomila pra fazer muito chá, é barato de fazer e ridiculamente forte.
Molde o seu mundo
Outro aspecto muito atrativo do jogo é que seu mundo é baseado em “voxels”, isso significa que o mundo pode ser moldado, destruído e reconstruído como quiser.
Há um morro no seu terreno que não gosta? Pega sua picareta ou enxada e tire ele dali. Não está achando a solução de um puzzle? É só destruir a parede do lado do portão fechado e passar sem se preocupar. O jogo te dá muita liberdade em como fazer (ou não fazer) seus desafios.
Essa liberdade se estende para seu modo de construção, que te dá muitas ferramentas e materiais para fazer a casa que você quiser. Se desejar fazer uma caixa de sapato como o nosso querido Otto, fique a vontade, se quiser fazer grandes mansões megalomaníacas, pode fazer também.
Colocando o RP em RPG
Como mencionei mais cedo, Enshrouded se coloca como um “Action Survival RPG” e não é à toa. O jogo tem uma grande árvore de habilidades que vão moldar como seu personagem luta, se movimenta pelo mapa e que armas vão te interessar.
São três arquétipos principais: Força, Agilidade e Magia. Com mais ramificações dentro deles permitindo se especializar entre arco e flecha, armas de uma mão ou duas, cajados ou varinhas.
Todas as classes e estilos de jogos são viáveis e o jogo não te prende em nenhum deles, já que é muito fácil reiniciar a árvore de habilidades e tentar outra build. Enshrouded quer que você teste tudo e encontre seu estilo favorito.
Masmorras clássicas, com puzzles e desafios também são inúmeras no mapa, e a forma de liberar mais pontos de interesse para descobrir um pouco mais do mapa, são torres gigantescas que por dentro viram quase que um mini templo de Zeldas antigos, com enigmas simples para você desvendar e chegar no topo.
Se movimente com liberdade
É de se esperar que em um jogo de mundo aberto com um mapa grande você precise ter boa mobilidade ou o jogo corre risco de ficar maçante, principalmente se precisar voltar pela vigésima vez naquela mina de ferro que fica a dez minutos segurando o botão de andar para frente.
Felizmente, Enshrouded concorda com isso e te da algumas formas de mobilização, duas bem divertidas e uma mais direta. O planador e o arpéu permitem acessar o mapa todo, a cada melhoria é possível ir mais longe e rápido.
Já a forma direta é justamente a viagem rápida, possível através de alguns lugares específicos no mapa, seja em uma de suas bases e torres liberadas que mencionei acima. Há apenas um lugar que não é possível usar a viagem rápida e é justamente da onde vem o nome do jogo:
A Mortalha
O maior desafio do jogo vem da “Shroud” ou mortalha em português. Uma névoa azul que cobre boa parte do mapa, onde você irá se aventurar para acessar os principais recursos do jogo. Dentro dela não é possível usar viagem rápida, os inimigos são frequentes e o seu tempo é limitado.
No início, você terá pouco mais de quatro minutos dentro da mortalha, caso o seu tempo esgote, sua vida imediatamente vai para zero e você será revivido em uma chama próxima.
Essa mecânica – que começa sendo algo interessante – sofre de um problema que afeta todo o resto do jogo. Rapidamente, você aprende a trivializar ela, existem poções para facilitar sua vida dentro, além de aumentar seu tempo máximo com melhorias na sua base e se recuperar em pontos específicos dentro da própria mortalha.
Enshrouded tem um futuro promissor
Mesmo com todos os elogios ditos até agora, Enshrouded ainda tem muito trabalho pela frente, como se é esperado de um Acesso Antecipado (Early Access). O combate pode ser aprimorado, devido ao bloqueio ser uma mecânica completamente quebrada, todo combate fica muito simples. É possível bloquear absolutamente tudo e revidar quando for seguro atacar.
A inteligência artificial dos inimigos também precisa de ajuste, ela pode ser facilmente manipulada com um arco e flecha, mesmo que você lute corpo a corpo pelo “desafio”, não é algo que exista frequentemente. Se tiver quatro ou mais adversários em cima de você, só atacam um por vez no corpo a corpo, enquanto o resto te rodeia, criando uma vibe de clube da luta não intencional.
O sistema de baús do jogo é outro elemento que poderia ser revisada, elemento comum no meio survival para guardar todos os seus recursos. Esses que já disponibilizam o uso dos itens automaticamente nas mesas de criação, não é o caso do Enshrouded.
É necessário habilitar uma melhoria para que isso seja possível – até aí ok – a parte mais chata vem com o fato de ter que fazer para todos os báus futuros, adicionando passos extras desnecessários no late game, poderia ser algo como uma melhoria fixa na progressão.
E devo mencionar que, sinceramente não prestei atenção o suficiente na história para dizer algo sobre ela. Contada através de notas e cartas deixadas pelo mundo – semelhante ao estilo da série Souls – não dediquei meu tempo para ler tudo que encontrava, eu só queria explorar o mundo. Quando o jogo chegar na sua versão 1.0 darei uma chance para a história.
Conclusão
Enshrouded é um dos jogos mais divertidos que joguei nesse início de 2024 e um dos survivals mais promissores que tive o prazer de testar. Ainda tem muitas coisas a melhorar, mas dá para ver que os desenvolvedores estão colocando muito amor e dedicação na forma como querem contar essa história e construir o seu mundo. Com certeza irei voltar para o jogo quando novas atualizações chegarem estiver ainda mais expandido.
Enshrouded está disponível para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC (Steam).
Texto por Alexandre “Skeat” Trevisan