A grande ironia do sucesso de Lethal Company

O jogo que cresceu exponencialmente nas últimas semanas traz uma temática cômica

Hoje em dia, muitas pessoas consideram jogar vídeo game como um hobby, algo para passar o tempo e principalmente fugir da rotina de trabalho e cuidar da casa. Muitos jogos te levam para as mais diversas aventuras e locais, sejam eles fictícios ou bem próximo a realidade transporta a pessoa para um lugar bem longe de onde ela gostaria de estar. Agora, o que acontece quando é um jogo que remete completamente ao seu dia a dia e ainda faz você se divertir? Esse é o caso de Lethal Company.

Um jogo independente desenvolvido e publicado pelo estúdio Zeekerss. O título recebeu holofotes da maneira mais assustadoramente rápida possível nas redes sociais e streaming, até algumas semanas atrás ninguém conhecia o estúdio ou até mesmo de onde surgiu. Esse jogo, que aborda um tema tão simples e cotidiano, acabou se tornando uma febre gigantesca no mês de novembro de 2023 e o mais bem avaliado na Steam, ficando acima de Resident Evil 4 Remake e Baldur’s Gate 3.

Entretanto, não escrevi esse texto com o intuito de análise/review, mas sim do quão irônico é jogar um jogo que remete tanto à precariedade do funcionário, exploração de empresas, além das preocupações monetárias diárias. Para, no fim do dia, eu acabar me divertindo com meus amigos. Mas antes, preciso explicar como funciona o jogo.

Alguns colegas de trabalho

A rotina (de Lethal Company)

Lethal Company é um jogo online cooperativo de até quatro jogadores em primeira pessoa, no qual o objetivo é cumprir a meta monetária dentro do prazo dado. Para isso, é necessário ir em diferentes planetas para coletar diversos tipos de sucata e utensílios de valor. Chegado ao prazo, você vai até a empresa para vender os itens na esperança de bater a meta e, caso atingida, um novo escopo e prazo são dados, mas normalmente com um valor bem maior que o anterior e dentro da mesma quantidade de dias.

Caso haja superávit da meta, o lucro é do grupo para comprar algumas ferramentas – que, sinceramente, deveriam ser cedidas pela empresa –, oferecendo uma ajuda irrisória para cumprir a tarefa. Além disso, se quiser se arriscar em planetas que garantem itens de maior valor, também cai na sua conta.

Porém, coletar essas sucatas não é uma tarefa fácil como parece por escrito. Nesses planetas, há criaturas extremamente perigosas que podem acabar com você e todo o seu grupo em segundos. Qualquer erro, barulho ou descuido pode ser letal para os mais descuidados. Em caso de qualquer fatalidade, o corpo largado no planeta irá causar prejuízo para a equipe, porque…sim.

É preciso explorar e superar o medo

Dado esse contexto, é possível relacionar diversos fatores com o nosso dia a dia como um trabalhador. Isso que não havia mencionado que você chega no planeta às oito da manhã, caminha até o local e é preferível sair de lá antes das seis da tarde. Não por você ser um CLT, mas por conta do planeta que fica mais perigoso quanto mais tardio for a sua estadia. Se chegar à meia-noite, sua nave vai embora independentemente.

Todo o processo de caminhada da nave até o local e vice-versa, é uma rotina tão perigosa e estressante quanto pegar o ônibus para ir e voltar do trabalho. O único “home office” da equipe é quem fica na nave olhando o radar e ajudando os outros que estão no presencial, mesmo assim, nem ele está seguro.

Um dos perigosos extraterrestres

Apesar de não ter reuniões diárias, uma caixa lotada de e-mails, atividades do RH ou a cobrança constante do chefe, as criaturas dos planetas se tornam os problemas do dia a dia. Dos variados tipos, esses monstros atormentam e atrapalham o desesperado grupo que está humildemente na busca por alguns itens de valor. Extraterrestres com características e funcionamentos únicos, eles são a chave para tornar a sua coleta em uma enorme dor de cabeça.

Contudo, depois de alguns dias no início do novo trabalho, você vai se acostumando com essa rotina. Decora o caminho de ida e volta; começa a saber o que fazer e o como fazer; aprende a enfrentar todo o tipo de monstro; para no final ter o seu suado dinheiro. Tudo isso presente da maior insalubridade e péssimas condições de trabalho. Tanto faz se sobrar somente um membro da sua equipe vivo, o importante é bater a meta. Afinal, temos mais medo de ser demitidos do que de morrer.


Agora, falando do jogo, Lethal Company tem me divertido muito jogando com meus amigos e assistindo os mais diversos clipes pelas redes sociais. Um dia, um deles me chamou para jogar com a seguinte mensagem: “Estou saindo do meu trabalho pra ir pro outro daqui a pouco”. Chega a ser engraçado pensar que esse é o jogo que está mais fazendo sucesso em pleno final de ano.

Otto

Um rapaz que fez do hobby um trabalho. Sempre interessado em aprender e conhecer mais. Gamer desde criança e aficionado por Board games. Altas madrugadas jogando e trabalhando incansavelmente.