Crítica – Pantera Negra

Pantera Negra chega com muitos desafios por ser o primeiro filme da Marvel focado em um super-herói negro. O elenco, quase que completamente composto por atores negros, traz o mesmo peso e expectativa que o filme da Mulher Maravilha trouxe em 2017.

Dirigido por Ryan Coogler (Creed, Fruitvale Station: A Última Parada), Pantera Negra segue os eventos de Guerra Civil, com o retorno do príncipe T’Challa (Chadwick Boseman) a Wakanda, uma nação que vive no meio da África se escondendo do mundo como um país de fazendeiros quando na verdade é a nação mais avançada, para ser coroado rei.

O filme brilha desde o primeiro momento. Wakanda é apresentada como um personagem extra do filme, Coogler consegue não só introduzir o país fictício, como criar uma nação verdadeira e real.

A mística e cultura de Wakanda são apresentadas de maneira orgânica e natural, sem correr ou ser superficial. O que permite entender como funciona sua política interna, suas tradições e a base de sua economia como se estivéssemos assistindo a um documentário da National Geographic. Vale dizer que a trilha sonora ajuda a ambientar e trazer Wakanda a vida.

O bom roteiro e a história sólida trazem temas e perguntas importantes sobre autoconhecimento, a ideia de legado, o conflito entre as tradições e o novo, fugindo dos padrões Marvel permitindo emoções e seriedade quando necessário. O humor, quando surge é natural dos personagens e sobre os personagens.

E falando em personagens, Ryan Coogler permite que os seus personagens cresçam e se tornem inteiros, todo o elenco principal consegue transmitir pessoas reais, guiados por Chadwick Boseman(T’Challa), Lupita Nyong’o(Nakia), Danai Gurira(Okoye) e Michael B. Jordan(Erik Killmonger), vemos na tela pessoas completas, entendemos suas ambições, motivações e suas crenças fundamentais, que buscam responder à pergunta central do filme “quem é você? ”. Mesmo os personagens secundários da história transmitem essa ideia e conseguem ser completos.

O que tem sido um grande problema para a Marvel, seus vilões fracos e esquecíveis, é resolvido neste filme. Michael B. Jordan traz a vida um antagonista que consegue ser tão completo e complexo quanto o elenco de heróis. Erik Killmonger talvez seja o melhor vilão já introduzido em um filme da Marvel, fazendo o outro lado da moeda ao T’Challa de Chadwick Boseman.

As cenas de ação possuem dois propósitos no filme: agem como um ótimo elemento de transição entre os atos, sendo na medida certa para um filme com elementos de espionagem e política. E servem para demonstrar as diferenças e personalidades dos personagens.

O ponto fraco do filme acaba sendo Andy Serkis (Ulysses Klaue), que parece esquecer que é um bom ator quando não está coberto com seu equipamento de mocap. Com Pantera Negra, Ryan Coogler e seu elenco sensacional derrubam todas as dúvidas que poderiam existir, e cumprem com todas as expectativas geradas.

O fato de que não vemos um filme com o formato Marvel, focado e permitindo o crescimento de seus personagens que guiam a história e brilham como seres únicos, graças tanto ao talento do diretor quanto do elenco central, faz com que Pantera Negra seja hoje um dos melhores filmes, se não o melhor, já lançado, e que pode trazer uma nova era dos filmes da franquia Marvel.

Texto por Fernando S Nicolino