Crítica – Os Incríveis 2

Animação diverte, mas não consegue conquistar o público da mesma forma que o primeiro

Há 14 anos atrás, Roberto Pêra e sua família enfrentaram Síndrome, um vilão doentio e com um humor sádico. Depois de derrotá-lo, a sociedade os viu como salvadores, certo? Errado. Super-heróis continuam ilegais, mas isso pode mudar em Os Incríveis 2.

Winston Deavor, responsável por uma importante empresa de telecomunicações, e sua irmã Evelyn têm a ambição de dar a voz a essas pessoas e mostrar suas boas intenções. Através de câmeras presas aos trajes, eles televisionarão todos os salvamentos na íntegra, sem uma possível manipulação da mídia ou dos políticos. Para isso, eles escolhem Mulher-Elástica como a primeira a realizar missões. Isso porque, segundo um estudo realizado por Evelyn, suas missões anteriores apresentaram um sucesso maior que as do Sr. Incrível. Ou seja, agora é hora de Helena lutar contra o crime enquanto Roberto luta contra a matemática, problemas da adolescência e um bebê fora de controle.

Em Os Incríveis, sr. Incrível percebe como sua busca por reviver seus anos dourados o fez esquecer sua maior força: a família. Nessa sequência esses laços são mais aprofundados pois, para dar estrutura a esposa, ele assume responsabilidades que nunca teve antes. Essa situação reflete a realidade atual em que o sistema patriarcal perde força conforme os anos passam e a representação feminina aumenta.

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Helena ganha os holofotes nessa nova história, mas isso não quer dizer que isso seja bom. Esse espaço dado a Mulher-Elástica foi totalmente relacionado a seu desenvolvimento com a personagem Evelyn, mas em nenhum momento a relação de parceria entre as duas parece legítima. É como se tentassem vender uma fórmula que sabem que está em alta, mas sem pensar em como fazer isso.

Flecha e Violeta parecem muito mais confortáveis com seus poderes. Na verdade, suas maiores dificuldades são ligadas ao dia-a-dia escolar. O corredor tem pouquíssimas falas, mas tem rápidas e boas falas. A jovem parece muito mais sociável e expressiva do que vimos no primeiro filme.

Chegou a hora de falar do melhor personagem: Zezé. A grande vantagem de a história não ser ambientada catorze anos depois é que o público não perde a fase de descobertas desse pequeno bebê. Com uma mistura de fofura e humor, Zezé mostra-se poderoso e muito inteligente, o que desperta a curiosidade da estilista Edna Modes (que, infelizmente, tem pouquíssimo em tela).

O vilão do filme traz uma proposta interessante: o entretenimento proporcionado pelas ações dos super-heróis supre parcialmente uma necessidade de experiências ansiadas pela audiência. Essa é uma das questões exploradas pela comunicação e recebe o nome de Teoria de Usos e Gratificações. Apesar de muito interessante, a forma como o vilão foi construído foi muito previsível, o que enfraquece seus argumentos.

Rever a família Pêra em ação e enxergar potencial para novas histórias faz o coração de qualquer amante da Pixar bater mais forte. Porém, considerando o tempo de intervalo entre as animações e o mercado cinematográfico bombardeado todos os anos com super-heróis, é decepcionante uma trama tão rasa. Os Incríveis 2 uma animação que não traz nada marcante ou novo e, como nosso louco Síndrome dizia, “quando todos forem super, ninguém será”.

Texto por Viviane Oliveira