Crítica – O Retorno de Mary Poppins

O Retorno de Mary Poppins aposta em nostalgia e entrega filme capaz de emocionar toda a família

Cerca de 20 anos após o primeiro filme, os agora adultos Michael Banks (Ben Whishaw) e Jane Banks (Emily Mortimer) se encontram em grandes problemas financeiros após uma tragédia na família. Quando tudo parece perdido, Mary Poppins (Emily Blunt) retorna dos céus para ajudar a família Banks mais uma vez.

O céu de Londres que nos apresenta O Retorno de Mary Poppins é o mesmo que, em 1964, nos apresentou o filme original. A sequência dos créditos iniciais, apesar de simples, é uma clara continuação do que foi iniciado na década de 60. As referências ao primeiro Mary Poppins são o que guia o novo longa, que repete a exaustão a fórmula mágica do primeiro. Toda cena, todo personagem e até toda música são relacionadas a cenas, personagens e músicas do primeiro. O trabalho de Rob Marshall nesse sentido é muito similar ao de J.J. Abrams, quando assumiu o sétimo filme da franquia Star Wars. Marshall faz um repeteco de tudo o que deu certo no antecessor, mas consegue entregar um filme divertido, que emociona os fãs antigos e empolga os novos.

O segredo para o novo Mary Poppins não soar como uma cópia barata do original está na paixão que a todo hora transborda pela tela. Aqui, esquecemos a estratégia de Hollywood de reproduzir franquias a exaustão e acreditamos que esse filme é uma homenagem ao legado da babá perfeita. Porque é. Seja na aparição de personagens clássicos, na adição de uma tradicional personagem dos livros e na participação mais do que especial de um senhor de 93 anos, é possível sentir a alegria dos envolvidos na produção do filme e o cuidado com a memória da personagem.

O ponto alto do filme, como deveria ser, é Mary Poppins. Emily Blunt está perfeita no papel. Capaz de emular a classe única de Julie Andrews (que ganhou um Oscar de Melhor Atriz pelo filme), Blunt ainda adiciona uma camada de melancolia e mistério a personagem, ao se mostrar sentimental quando ninguém a observa, nos intervalos de suas mágicas. É nos Banks, entretanto, que está a maior surpresa do filme. Emily Mortimer constrói uma Jane que, assim como a mãe, é engajada nos problemas sociais da época. Seus protestos, todavia, parecem mais genuínos do que os de sua mãe, que no original ocupam um espaço de alívio cômico. Ben Whishaw rouba a cena com seu Michael, trágico, o ator executa com muita habilidade a difícil tarefa de interpretar um recém-viúvo em um filme infantil. Sua dor é palpável, assim como seu amor pelos seus filhos e seu medo do futuro. Ainda assim, o personagem jamais esquece de ser doce e gentil, se desculpando imediatamente ao se perceber malvado como seu pai.

Lin-Manuel Miranda, talvez a figura pública mais carismática viva, empresta seu charme a Jack, um limpador de lampiões de rua, fazendo papel similar ao de Dick Van Dyke no original. Miranda não é tão bom ator, ou cantor, quanto Van Dyke, mas compartilha com seu antecessor um carisma absurdo e o péssimo sotaque inglês. O novo Mary Poppins até se permite algumas liberdades e empresta alguns minutos para Miranda rimar em uma batida que muito se assemelha ao rap musical criado por ele em Hamilton, adicionando um novo elemento bem-vindo ao filme.

O design de produção do filme é excelente, John Myhre, colaborador antigo de Marshall, cria uma Londres sombria, assolada pela Grande Depressão, que apenas destaca a magia de Mary Poppins. O único ambiente colorido é a casa do Banks, mesmo antes da babá perfeita chegar ao lar. Com esse detalhe sutil, Myhre é capaz de definir o tom dos Banks nesse filme: Há amor e magia ali, eles só estão perdidos. A chegada de Poppins muda isso e nos apresenta inúmeros cenários e sequência coloridas, e aqui há uma óbvia vantagem do filme atual ao antigo. A tecnologia permite efeitos especiais e técnica de animação mais desenvolvidas, mesmo que o filme original ainda mantenha seu charme em certos aspectos.

O novo filme, por vezes, parece se estender demais. Com mais de duas horas, algumas sequências se tornam “barrigas”, que pouco agregam ao filme. A personagem de Meryl Streep, por mais que tenha seu charme, acaba sendo um ótimo exemplo disso. Sua música, entretanto, é das mais divertidas. As músicas do novo filme são boas, mas jamais chegam aos pés das originais, que chegaram a ganhar um Oscar por melhor canção original. Aqui, Emily Blunt brilha mais uma vez e demonstra a ótima cantora que é.

O novo longa consegue ser uma linda homenagem ao legado de uma das figuras mais importantes do cinema norte-americano, agregando um divertido novo capítulo a saga de Mary Poppins. No fim da sessão, por mais que seja um filme muito similar ao original, O Retorno de Mary Poppins ainda é capaz de arrancar lágrimas dos olhos dos espectadores, estejam eles conhecendo a babá perfeita, como os pequenos Banks, ou revendo uma antiga amiga, como Jane e Michael Banks.

Texto por Daniel Vila Nova

Daniel Vila Nova

Fã de literatura, vai de Machado de Assis a Turma da Mônica em uma única sentença. Jogador de RPG, tem todos os consoles da Sony mas jura que não é Sonysta. Adora filmes ruins.