Review – Spiritfarer

Porque tudo que é vivo, morre

A morte talvez seja um dos elementos mais inerentes aos videogames. Desde Pacman se dissolvendo ao ser pego por fantasmas até a brutalidade nas mortes de The Last of Us Parte II, jogar sempre ensinou a relação entre ter vidas e perdê-las ou até mesmo ceifa-las. Porém, alguns jogos indies recentes começaram a trazer o luto como tema principal da narrativa, questionando o sentimento por trás dessa perda. E talvez, no meio de tantos títulos que já tentaram conversar sobre aqueles que ficam quando entes queridos se vão, Spiritfarer seja o mais belo e tocante deles.

Na trama, o jogador é colocado no papel de Stella que chega em seu primeiro dia de trabalho como a barqueira do mundo dos mortos. A garota, junto de seu gato Daffodil, precisa encontrar o próprio barco e trabalhar para oferecer aos espíritos conforto para que consigam fazer a travessia para o outro mundo de forma pacífica e confortável.

Como dito na introdução, o que chama a atenção em Spiritfarer é que logo se descobre que é um daqueles jogos extremamente relaxantes. Ao contrário de outros games que abordam jogabilidades parecidas de gerenciamento de recursos misturado com relações interpessoais, como Stardew Valley ou Animal Crossing: New Horizons, aqui não há nenhum tipo de marcador que demonstre que você está atrasado para conseguir realizar suas tarefas. Sendo até bem melhor fazer as coisas em seu próprio tempo, pois assim ocorrem mais descobertas da relação da protagonistas com as almas.

E os personagens são outro ponto muito forte em Spiritfarer. Ao se revelarem perante Stella, os espíritos se tornam animais antropomorfizados, com um design único que consegue expressar muito bem a personalidade. Exemplo disso é de Gwen, uma corça que anda cheia de pompa e elegância que acompanha uma modo de pensar mais sarcástico, ou Giovanni, um leão metido a sedutor que esconde algo tocante quando ele decide partir.

Este roteiro atento a detalhes, misturado com um visual e qualidade de animação belos de encher os olhos, fazem dos momentos da partida se tornarem cenas cheias de emoção que precisam ser sentidas ao invés de apenas descritas.

Com todas essas vantagens do seu lado, quem acaba ficando um pouco para trás é a jogabilidade. Para que a história avance, cabe ao jogador investir algumas horas de coleta de recursos, planejamento do ambiente do barco e viagens com muita, mas muita pesca mesmo.

Para os fãs dos jogos de “fazendinha”, Spiritfarer é um prato cheio, mas para quem busca novos momento da história, esses momentos podem acabar cansando. Nada que algumas pausas e voltas não resolvam, afinal o conjunto da obra é energia o suficiente para continuar.

Em um oceano de jogos indies, Spiritfarer é uma daquelas obras que reluz e se destaca de longe. Uma experiência para quem busca algo mais do que algumas horas de jogo, sendo capaz de fazer rir e pouco tempo depois arrancar lágrimas em cenas tocantes.

Esse é um daqueles games que precisam ser espalhados e sempre que alguém quiser uma recomendação do que jogar, cabe a pergunta “já jogou Spiritfarer?” Nota:  9/10 momentos de aquecer o coração.

Kaio Augusto

Uma pilha gigante de referências. Perdido entre produções orientais e ocidentais, seja nos games, música,literatura, cinema ou quadrinhos. Gasta horas pensando em aventuras de RPG de mesa, teorias malucas ou apenas o que fazer em seguida.