Review – Assassin’s Creed Mirage

Desenvolvido pela Ubisoft Bordeaux, Assassin’s Creed Mirage tem como objetivo promover um retorno às raízes da série. Isso significa que, no lugar dos RPGs imensos que ofereceu em títulos como Odyssey e Valhalla, a publicadora francesa trouxe às lojas uma aventura focada na furtividade e com um escopo muito menor.

No jogo, acompanhamos a história de Basim, um jovem ladrão de rua que vê seu destino mudar ao se deparar com um artefato misterioso. Subitamente envolto na guerra entre os Ocultos e a Ordem dos Anciões, ele acaba tendo que abandonar a cidade de Badgá e passa anos treinando para virar um assassino silencioso e extremamente eficiente. Anos depois, uma nova ameaça faz com que ele retorne ao local, agora munido de muito mais conhecimento e habilidades.

Assassin’s Creed Mirage faz a furtividade importar

De certa forma, Assassin’s Creed Mirage parece mais um capítulo à parte do que algo conectado à franquia como um todo, o que é muito bom. Embora Basim já tenha aparecido em Valhalla, não é preciso saber nada sobre o jogo de 2020 para conseguir entender seu passado ou suas motivações. Pena que, na prática, elas não são muito fortes.

Desde o começo do game, sabemos que o protagonista convive com visões misteriosas, que só se reforçam quando ele volta a Badgá. No entanto, esse conflito interno fica “no banco do carona” durante a maior parte do jogo que, pelo bem e pelo mal, realmente cumpre o objetivo de voltar às origens da franquia.

O lado bom é que o foco renovado na furtividade funciona e mostra que a série não precisava abandonar tanto sua identidade para continuar relevante em anos recentes. Especialmente na hora de encontrar os alvos principais do jogo, é muito legal ter que se esgueirar silenciosamente em busca de pistas e descobrir os elementos de uma investigação que vão levar aos alvos principais.

Da mesma forma, é interessante o contraste que Assassin’s Creed Mirage tem em relação a Valhalla no que diz respeito a seus combates. Enquanto no jogo de 2020 a melhor tática geralmente envolvia entrar em campo de batalha com o peito aberto e dizimar seus inimigos, no game mais recente, fazer isso é praticamente assinar um bilhete de suicídio.

Esta nova aventura realmente faz com que nos sintamos como um assassino, que tem como suas maiores armas as sombras, a altura e, de certa forma, a inteligência artificial limitada dos inimigos. Embora sejam bem limitados quando estamos escondidos, eles se mostram bem desafiadores quando há mais do que dois no campo de batalha. Pena que há uma variedade muito baixa deles, o que acaba fazendo as coisas um pouco mais fáceis com o passar do tempo.

Review – Assassin’s Creed Mirage
Imagem: Divulgação/Ubisoft

Também ajuda nisso a grande quantidade de ferramentas que Basim vai acumulando com o passar do tempo. Enquanto no começo ele só tem uma lâmina escondida e um conjunto formado por uma cimitarra e um punhal, não demora até que destravemos facas, bombas de fumaça e outros equipamentos bastante úteis (e um tanto superpoderosos).

O personagem também conta com habilidades destraváveis que incluem a capacidade de usar mais itens de cura, visualizar mais facilmente os inimigos ao seu redor ou se mover silenciosamente. Ao final da aventura, você estará bastante poderoso, mas não há a sensação de imortalidade que havia em Valhalla — o que é bem positivo e ajuda a manter a sensação de que a furtividade é a melhor ferramenta possível.

No entanto, nem tudo desse “retorno às origens” funciona bem. A movimentação do personagem e seus recursos de escalada parecem ter regredido até mesmo na comparação com capítulos como Syndicate e Unity, o que resulta em muitos saltos desengonçados e problemas durante as fugas. Da mesma forma, parece que a Ubisoft só tirou elementos do combate do capítulo de 2020 para torná-lo mais complicado, em vez de pensar em uma ideia realmente original e mais bem-desenvolvida.

Bagdá é a estrela de Assassin’s Creed Mirage

O retorno a um tamanho mais compacto também fez muito bem à franquia no que diz respeito à sua ambientação. A maior parte da aventura se passa em Badgá, que é uma cidade com tamanho considerável, mas não exagerado ao ponto de ficar tedioso correr por suas ruas e telhados.

A Ubisoft criou uma versão bem atraente da antiga cidade, que traz distritos bem divididos e com características variadas. O local também se destaca por abrigar colecionáveis, que vão de descrições sobre pontos importantes de sua geografia e arquitetura, até baús com recursos para evoluir equipamentos.

Review – Assassin’s Creed Mirage
Imagem: Divulgação/Ubisoft

Os mais importantes (e interessantes) são aqueles que destravam o acesso a novas armas e roupas, as quais surgem de forma bastante contida. Embora não seja preciso correr atrás deles para completar a aventura, obtê-los é um processo que geralmente está relacionado a algum puzzle interessante que vale a pena conferir.

O mesmo acontece com os upgrades, que podem ser obtidos de maneira relativamente rápida, dependendo de seu estilo de jogo. Durante minha aventura, sequer havia assassinado meu segundo alvo principal e já tinha evoluído ao máximo as adagas que escolhi logo no começo do jogo.

Embora isso tenha facilitado um pouco Assassin’s Creed Mirage, essa decisão não foi a responsável por desequilibrar a experiência. Como não há mais mecânicas de RPG, um assassinato furtivo sempre é 100% eficiente e, por isso, acabará sendo a principal ferramenta usada pela maioria dos jogadores.

De certa forma, o game se viraria muito bem caso só tivesse os equipamentos iniciais e não possuísse nenhuma forma de upgrade. No entanto, é positivo que eles existam, nem que seja para servir como um estímulo para descobrir alguns dos desafios bolados pela Ubisoft ou explorar cantos de Badgá que ficam longe da narrativa principal.

Uma história inconsequente

O que mais me decepcionou em Assassin’s Creed Mirage é o quanto sua história não faz qualquer esforço para ser original. Caso a intenção da desenvolvedora fosse voltar ao que ela fez no primeiro Assassin’s Creed, certamente ela foi bem-sucedida nesse sentido — o que não é necessariamente um elogio.

Review – Assassin’s Creed Mirage
Imagem: Divulgação/Ubisoft

Enquanto o processo de encontrar alvos e exterminá-los é legal, não dá para ignorar que os motivos para isso não são muito bem desenvolvidos. Toda a trama do game pode ser resumida a: a Ordem dos Anciões é ruim, e os Ocultos são bons. Logo, cabe a você exterminar a Ordem e garantir que a paz volte para Bagdá.

Infelizmente, nem mesmo Basim se salva muito disso. Enquanto o material promocional do jogo deu a entender que entenderíamos as transformações que o levaram a virar praticamente outra pessoa em Valhalla, não é bem isso que vemos rolando no game. Pelo menos o personagem compensa isso com boas cenas, e o mundo criado pelo estúdio faz uma retração bem interessante e respeitosa do mundo muçulmano (algo raro em uma produção ocidental).

Também me decepcionei pelo fato de que Mirage não faz muito para progredir a trama da série “no mundo real”, mantendo as coisas estagnadas no ponto em que elas pararam em Valhalla. Por mais confusa que a trama (se é que resta um fiapo dela) que a Ubisoft fez para esses segmentos fosse, senti falta de um maior desenvolvimento nesse sentido.

Jogamos Assassin’s Creed Mirage no PC através de um código fornecido pela publicadora.

O game está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series X|S. Ele pode ser adquirido na PSN usando os cartões de presente disponíveis em nosso parceiro Nuuvem.

Assassin's Creed Mirage: Assassin’s Creed Mirage é bem-sucedido em retornar às raízes furtivas da série, trazendo uma aventura na qual saber se esgueirar pelas sombras e telhados é essencial para sobreviver. No entanto, uma história um pouco simplista faz com que ele não atinja todo seu potencial. Com pouco mais de 20 horas de duração, ele é uma ótima experiência para fãs de longa data que estavam cansados do inchaço exagerado dos capítulos mais recentes da franquia – Felipe Gugelmin Felipe Gugelmin

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von 10
2023-10-24T22:19:04-0300