Novo drama da HBO, Here and Now, se distancia de fantasia e tenta abordar América de Trump

Uma série que serve de exemplo de como politica é um assunto muito delicado de se tratar

Quando foi anunciado em 2016 que Alan Ball(Six Feet Under), estava produzindo um novo drama para a HBO eu fiquei extremamente empolgado. Primeiro porque eu acredito que Six Feet Under é um dos melhores dramas que já vi. É muito bem estruturado e os personagens se desenvolvem de maneira absurda a cada pelo menos 2 episódios.

Sou apaixonado por “The Walking Dead”, e muitos dos outros dramas modernos que temos na televisão hoje em dia, mas creio que desde que virei viúva de “Breaking Bad”, senti uma carência por algo que abordasse uma temática um pouco mais pé no chão como “The Sopranos”, “Six Feet Under”, e até mesmo o próprio “Breaking Bad” faziam.

Quando o dever chamou, eu demorei um pouco para me tocar que “Here and Now” era a nova série de Alan Ball, e uma vez que descobri eu estava extremamente ansioso, e talvez seja isso que tenha sido a razão do problema.

Conhecendo o trabalho de Alan, e sabendo como ele estrutura absolutamente tudo que ele produz, fui esperando algo nos moldes de “Six Feet Under”, ou mesmo “Beleza Americana”, e fui recebido com algo completamente confuso e mal estruturado.

A série tenta fazer uma critica social a “América de Donald Trump”, abordando problemas como preconceito e desigualdade. A série segue a família Bayer-Boatwrights, que é uma família um pouco diferente. Greg e Audrey (Tim Robbins e Holly Hunter) são os pais adotivos de:

Ramon (Daniel Zovatto), o mais novo de seus filhos. Ramon é colombiano, e o mais novo dos filhos adotivos dos Bayer-Boatwrights. Curiosamente Ramon tem uma das únicas tramas capazes de causar algum interesse no expectador, isso sem mencionar que ele é um dos únicos personagens carismáticos e bem escritos dessa bagunça.

Ashley (Jerrika Hinton), é a mais velha das filhas dos Bayer-Boatwrights e foi adotada da Libéria. Ela é dona de uma loja virtual de roupas. Ashley é casada, e tem uma filha. Ashley é uma personagem extremamente mal aproveitada. Havia tanto que poderia ser feito com ela, mas não souberam escrever ela de maneira que ela não fosse estereotipada e forçada. Ashley protagoniza uma das cenas mais forçadas que eu já ví em um seriado.

 Kristen (Sosie Bacon), é a filha mais nova, e a única filha biológica dos Bayer-Boatwright. Kristen se sente excluída por ser a única criança branca da família(sim), e a única filha biológica(sim). Kristen se sente mal, e aparenta sofrer uma certa crise de identidade por conta disso. No decorrer dos episódios é possível ver Kristen tentando descobrir uma maneira de se sentir melhor em coisas novas. De certa forma ela acaba se tornando uma personagem irritante por sempre causar essa impressão de que ela apenas quer aparecer.

 Duc (Raymond Lee), é o mais velho dos filhos dos Bayer-Boatwright. Duc foi adotado quando tinha 5 anos, e apesar de ter se adaptado, ainda se lembra de sua mãe biológica. Ele também é um “Life Coach” extremamente bem sucedido, com direito a livro lançado e renome. Duc, assim como Ramon tem uma história extremamente interessante, que eu vou tentar não dar spoilers, pois é uma das únicas razões para se assistir à esse seriado. Infelizmente na sessão que a HBO nos ofereceu, não foi possível ver o desfecho da história do Duc, mas fica aqui a dica. Prestem atenção nesse personagem

Holly Hunter e Tim Robbins, interpretam os pais dos Bayer-Boatwright, e por alguma razão apesar de serem os personagens principais do seriado, acabam sendo também os menos interessantes. A dinâmica dos pais é morna e sem graça. É quase como se não houvesse química alguma entre a família toda. Não culpo a performance dos dois, pois como mencionado anteriormente eles são atores brilhantes.

O que fica vidente aqui, é que o roteiro não era uma maravilha, e geralmente não tem muito que os atores possam fazer quando esse é o caso. Em alguns momentos os dois nem sequer ao menos parecem ser os protagonistas do seriado, sendo muitas vezes ofuscados por Raymond Lee e Daniel Zovatto.

Uma das coisas que fica mais evidente em “Here and Now”, é a constante necessidade de reforçar que o seriado é progressista. Não existe absolutamente nenhum problema em uma série possuir diversidade, e em ser progressista(o que seria algo realista nos dias de hoje), se isso for feito da maneira correta. E é nisso que “Here and Now” falha.

Se vocês pegarem um seriado como “The Walking Dead”, “The Flash”, ou mesmo o próprio “Six Feet Under”, você só nota a diversidade que ali existe se você parar para notar. É tudo extremamente natural, de forma que você não sente.

No caso de “Here and Now”, é tudo extremamente forçado não apenas na história, mas também  nos diálogos. Existem diálogos nesse seriado que são tão forçados, que chegam ao ponto de fazer você se questionar se uma pessoa diria mesmo aquilo. Existem diálogos que causam tanta vergonha alheia, que fica simplesmente difícil de levar o seriado à sério.

É tudo tão forçado, que a imagem que fica, é a de que Allan Ball queria simplesmente mostrar que ele é contra a “Direita-Alternativa”.

Críticas contra o estado atual do mundo no geral, são sempre bem vindas, mas devem ser executadas com cautela, e de maneira que pareça uma crítica, mas não uma caricatura dos ideais do autor. Fica claro que o produtor se perdeu em seus próprios ideais, e o que tinha potencial de ser uma critica brilhante à “America de Donald Trump”, se tornou apenas um seriado que falha em executar o que se propõe. Para os que adoram uma ótima crítica à sociedade moderna, não esperem um “Six Feet Under” saindo disso.

Here and Now é o novo seriado de Drama da HBO, e estreou no dia 11 de Fevereiro desse ano, e tem 10 episódios gravados para sua primeira temporada.

Texto por Bruno Shepard