Crítica – Crimes em Happytime

Com premissa interessante, Crimes em Happytime desperdiça seu potencial fazendo mais do mesmo

Um ex-detetive problemático. Uma série de assassinatos misteriosos. Uma Femme Fatale. Corrupção e preconceito. Você provavelmente já viu diversos filmes com esses elementos. Os filmes sobre detetives talvez sejam um dos gêneros mais explorados em todo o cinema, seus clichês são extensivamente conhecidos e suas histórias parecem repetitivas, tantas as vezes que foram contadas. Crimes em Happytime, o novo filme de Brian Henson, filho do lendário Jim Henson, se propõe a parodiar essa fórmula. Vivendo em um mundo habitado por humanos e marionetes, o ex-policial Phil Phillips (Bill Barretta) tem de se aliar a sua antiga parceira, a Detetive Connie Edwards (Melissa McCarthy), para resolver uma série de crimes onde fantoches são as vítimas.

O argumento excelente e original acaba por se perder durante o decorrer do filme, dando lugar a piadas por vezes excessivas e a uma trama pouca inspirada, que não foge muito dos demais filmes do gênero. Existem momentos genuinamente engraçados, e esses, em sua maioria, são criados a partir da ótima química entre McCarthy e Barretta. Ainda assim, na maior parte do tempo, o filme parece mais preocupado em mostrar o quão politicamente incorreto pode ser do que se preocupar em ser engraçado. As piadas sobre sexo e drogas acabam ficando cansativas e arrastadas após o choque inicial.

O design de produção do filme é excelente e tanto os fantoches quanto o mundo que eles habitam parecem reais. Foram utilizadas mais de 125 marionetes na produção e, ao ver os créditos finais do filme, onde cenas dos bastidores são exibidas, é difícil não se impressionar com todo o trabalho exigido para a realização da película. Outro bom destaque é a excelente Bubbles, interpretada pela sempre genial Maya Rudolph, que confere boas risadas sempre que está em cena. O talento de Joel McHale, Agente Campbell, é desperdiçado e o humor ácido e irônico do ator é substituído por uma persona boba que só serve de escada para os protagonistas.

Há certas reviravoltas emocionais e tentativas de comover o público, mas essas são construídas de maneira rápidas e imprecisas e acabam por colidir com a total falta de impacto emocional que alguns acontecimentos do filme deveriam ter. Mais de uma vez, personagens teoricamente importantes para outros personagens do filme morrem e não há qualquer evidência de que aquilo impactou alguém.

A impressão que fica ao final do filme é que Henson não sabia qual caminho seguir, se se entregava a paródia de um gênero ou se seguia as tradições do mesmo. O produto final é uma confusão dos dois, tornando-se um filme comum sobre policiais, que não se destaca como um thriller nem como uma comédia. Ao confundir tópicos adultos com humor, Crimes em Happytime se torna um filme medíocre, que pode até divertir, mas jamais atinge o potencial de sua premissa.

Texto por Daniel Vila Nova

Daniel Vila Nova

Fã de literatura, vai de Machado de Assis a Turma da Mônica em uma única sentença. Jogador de RPG, tem todos os consoles da Sony mas jura que não é Sonysta. Adora filmes ruins.