Review – Hell Clock

Os jogos brasileiros têm evoluído em um ritmo inspirador recentemente. Uma indústria que sempre foi negligenciada localmente teve que se manter com edugames e jogos rápidos de celular para pagar as contas por muito tempo, e agora começa a mostrar suas garras pouco a pouco. Dandy Ace, Fobia, Enigma do Medo, Mark of the Deep e Relic Hunters são alguns títulos que começaram a quebrar a barreira local,

A desenvolvedora Rogue Snail (Relic Hunters), tenta mais uma vez levar o Brasil para o mundo, mas dessa vez com Hell Clock, um roguelike de ação, altamente inspirado em Hades e com visual semelhante a Curse of the Dead Gods.

Baseado em uma história real

O título brasileiro transpõe a Guerra de Canudos para um cenário de fantasia onde você assume o papel de Pajeú, que, após o Massacre de Canudos, quer reivindicar sua alma e obter vingança dos responsáveis pela atrocidade.

A história é contada em cutscenes breves e belamente desenhadas, além de diálogos com seu parceiro José Abade e outros personagens que surgem conforme o progresso nas runs e nos três atos do jogo.

O jogo tem dublagem localizada — e por “localizada” não me refiro ao português (já óbvio), mas ao sotaque baiano dos atores, dando autenticidade aos personagens. Como nordestino, apreciei muito o cuidado dos desenvolvedores. Há um esmero claro na apresentação: todas as falas são atuadas, e as cutscenes, ainda que breves, são narradas pelo ator de Pajeú.

Embora o jogo se passe numa visão do purgatório das almas da Guerra de Canudos, figuras históricas como o Marechal Bittencourt e outros membros do exército surgem como chefes entre os Atos, nessa descida ao inferno em busca de Antônio Conselheiro.

Gameplay frenética

Hell Clock é, acima de tudo, um bom roguelike de ação. A movimentação é fluida, com opções de controle (mouse, WASD ou controle), facilitando a transição para fãs de PoE ou Diablo 2.
Diferente de Hades, sua arma não muda durante a run: será sempre uma pistola e uma peixeira, com habilidades escolhidas antes de começar.

Essas habilidades podem ser modificadas por relíquias, ampliando a diversidade do combate. Exemplo: no Ato 1, joguei com uma build de longo alcance (tiros e bombas), mas ao desbloquear espaços de relíquias, migrei para uma peixeira pura — transformando o jogo num “bárbaro whirlwind” ao estilo Diablo.

(O jogo te dá muitas opções de habilidades)

Além disso, há dois sistemas de passivas (um desbloqueado inicialmente, outro revelado depois) e itens equipáveis no Pajeú, obtidos de inimigos ou comprados na mesa de João Abade. Isso fortalece seu personagem a cada run, gerando progressão constante — ainda que mínima no Ato 1.

(O relicário é onde você customiza sua build de verdade)

Ao derrotar os 5 chefes/mini-chefes do Ato 1, o próximo piso fica brutalmente mais difícil, criando uma barreira artificial até você morrer, voltar à base e comprar armas melhores.

O chefe final desse Ato é frustrante: o sistema de tempo (Hell Clock) limita a exploração para fortalecimento, mas se você chegar ao chefe sem farmar dano suficiente, a luta torna-se desnecessariamente longa devido à vida alta e dano absurdo causado por ele. Isso trava a evolução e torna as runs maçantes e frustrantes.

O problema quase desaparece nos Atos 2 e 3. As evoluções de armas ficam mais complexas com modificadores, mas o gargalo do Ato 1 (um longo tutorial) pode afastar jogadores impacientes.

Os chefes são simples porém bem-feitos, exceto o do Ato 1 (no meu caso, com animações quebradas que faziam o cachorro virar 180° repentinamente). Alguns dashes de inimigos também tinham hitboxes maiores que seus modelos.

(As armas do Ato 2 em diante são muito mais interessantes)

Hell Clock surpreende, mas frustra um pouco

Hell Clock é uma base brilhante para um grande jogo: movimentação gostosa, animações impactantes, trilha sonora maravilhosa e ambientação cuidadosa. Mas sofre de problemas de balanceamento (combate e progressão de poder) que, na minha experiência e de colegas, podem atrapalhar muitos jogadores antes da diversão real.

Texto por Alexandre Trevisan

Hell Clock: Hellclock é um roguelike brasileiro ambicioso que reinventa a Guerra de Canudos com dublagem autêntica em sotaque baiano e combate fluido inspirado em Hades. Brilha na trilha sonora imersiva e customização profunda de builds, mas sofre com desbalanceamento crítico no Ato 1, comprometendo sua base promissora. convidadogeeks

7.5
von 10
2025-07-21T17:54:49-0300