Review – Marvel’s Guardians of the Galaxy
Guardians of the Galaxy é a redenção da Square Enix no universo dos super-heróis
A iniciativa da Marvel de trazer seus principais heróis para o mundo dos games através de parcerias com grandes desenvolvedoras tem trazido resultados variados. Para cada título elogiado, como Marvel’s Spider-Man, temos jogos criticados como Marvel’s Avengers e coisas um tanto esquecíveis, como Marvel Ultimate Alliance 3.
Desenvolvido pela mesma publicadora responsável pelo jogo duvidoso dos Vingadores, Marvel’s Guardians of the Galaxy chegou ao público repleto de desconfiança. Não somente o trabalho anterior da Square Enix não inspirava muita confiança, como o curto tempo entre o anúncio oficial do game (que ocorreu na E3 de 2021) e seu lançamento dificultou que o público tivesse uma ideia real do que ele oferecia.
Felizmente, bastam algumas horas com a aventura para chegar à conclusão de que não somente ela traz um grande nível de qualidade, como se figura facilmente entre as melhores adaptações do universo Marvel para os games. Adotando o tradicional formato single-player, calcado na narrativa e em uma trama linear, Marvel’s Guardians of the Galaxy é um jogo muito bem-resolvido e com uma trama bem amarrada, que só sofre um pouco pela quantidade notável de bugs.
Dos quadrinhos para os games
Embora o jogo nos apresente ao elenco dos Guardiões da Galáxia que ficou marcado nos cinemas — Senhor das Estrelas, Drax, Gamora, Rocket e Groot —, as inspirações da trama estão muito mais calcadas nos quadrinhos. A grande saga espacial Aniquilação dá as bases da narrativa, que acontece 12 anos depois os Chitauri controlados por Thanos terem varrido a galáxia antes de serem parados por uma reunião improvável de heróis.
Nesse contexto, os Guardiões da Galáxia são um grupo formado há pouco tempo, que ainda está se adaptando à chegada de Drax e Gamora. Isso fica evidente através dos diálogos trocados pelos heróis, que não medem palavras na hora de expressar suas desconfianças ou na hora de trocar farpas com seus colegas.
E justamente essas falas são um dos pontos mais fortes do jogo, desenvolvido pela Eidos Montréal: os personagens raramente ficam em silêncio, sempre dando pitacos sobre a missão que está sendo realizada ou as ações que o jogador toma. Quando você desvia do caminho principal, por exemplo, inevitavelmente vai ter que ouvir alguém te apressando a voltar à rota principal ou tirando sarro do caráter acumulador de suas ações.
Esses diálogos mudam de forma sutil conforme você avança na história e os acontecimentos forçam a aproximação entre os personagens. Enquanto as provocações continuam, elas se tornam mais amigáveis e dão espaço para um maior senso de camaradagem, contribuindo para trazer veracidade às transformações pelas quais os personagens passam, que os transformam em verdadeiros Guardiões da Galáxia — mesmo que por acidente.
Narrativa tradicional
Marvel’s Guardians of the Galaxy é um jogo bastante linear, no qual tudo acontece em ritmo acelerado, mas não difícil de entender. A Eidos Montréal tira proveito da temática espacial para nos apresentar a cenários bastante variados, incluindo visitas a planetas inóspitos e a centros populacionais que reúnem algumas das figuras mais estranhas e complicadas da galáxia.
Enquanto os momentos de ação e exploração se destacam no roteiro, também há trechos puramente narrativos, que ajudam a desenvolver melhor o passado de personagens e os impactos da grande ameaça que deve ser combatida pelos protagonistas. Durante a aventura temos controle exclusivo do Senhor das Estrelas, que conta com um par de pistolas de energia como sua arma principal — e botas com foguetes que garantem mais mobilidade durante as batalhas.
Embora os demais personagens não possam ser controlados diretamente, é possível dar comandos específicos a cada um deles de forma relativamente livre — entre cada um, é preciso respeitar um timer antes de dar novas ordens. Cada um de seus companheiros possui uma especialidade: Gamora é ótima para causar grandes danos, enquanto Groot pode paralisar inimigos temporariamente, Drax destrói rapidamente a resistência dos adversários e Rocket possui uma série de armamentos que ajudam no controle de multidões.
Enquanto o sistema de combate funciona, não achei ele particularmente complexo ou desafiante: após desbloquear algumas habilidades, é fácil perceber quais delas funcionam melhor e cair numa rotina de destruição desenfreada. O jogo até tenta trazer mais complexidade na forma de resistência elementais, mas quem ignorá-las não vai encontrar grandes barreiras para seu avanço, ao menos na dificuldade normal.
Outro elemento que influencia nos combates são as melhorias que podem ser feitas nos equipamentos do Senhor das Estrelas. Para isso, será preciso coletar e usar diversas peças encontradas pelos ambientes, que surgem em abundância tão grande que, nos capítulos finais, me vi acumulando milhares delas sem ter nenhum propósito prático para tanto.
Felizmente, o combate convencional é compensado por um sistema narrativo profundo e que traz algumas oportunidades de mudar o rumo de certos trechos do jogo. Logo no terceiro capítulo, por exemplo, você precisa decidir qual de seus companheiros vai ser oferecido como “moeda de troca” para um possível antagonista — dependendo de sua decisão, isso pode resultar em um trecho de exploração furtivo ou em um combate em grande escala.
No entanto, suas decisões não chegam a impactar o resultado final da trama: você sempre vai chegar ao mesmo final (com pequenas variações) e encontrar as mesmas figuras, mas alguns acontecimentos no caminho se desenrolam de forma diferente. Infelizmente, essas diferenças só poderão ser aproveitadas por quem decidir jogar o game uma segunda vez — algo que nem todas as pessoas estarão dispostas a fazer.
Além da história, outra atração de Marvel’s Guardians of the Galaxy são seus coletáveis: é possível formar um guarda-roupa vasto de roupas inspiradas pelo cinema e por arcos dos quadrinhos, bem como coletar uma série de itens bem escondidos que aprofundam a trama. Ao serem encontrados, eles proporcionam conversas adicionais com os membros de sua equipe, muitas delas essenciais para entender o motivo pelos quais eles decidiram se juntar ao grupo.
Dublagem de alto nível
Confesso que sou daqueles chatos que, em geral, preferem a dublagem original porque ela é “mais fiel às intenções dos autores”. No entanto, me vi mordendo a língua em Marvel’s Guardians of the Galaxy: o trabalho de voz e legendas em português segue o mesmo nível daquele em inglês, muitas vezes chegando a superá-lo.
Usando a mesma equipe de dubladores que dá voz aos Guardiões nos filmes, a Square Enix fez um excelente trabalho de adaptação para o português brasileiro. Todo o trabalho de atuação está muito bem feito, e todas as piadas foram adaptadas de forma genial, mantendo a intenção dos autores ao mesmo tempo em que funcionam para o público brasileiro.
Enquanto inicialmente coloquei o jogo em português com a intenção de somente conferir o que havia sido feito, desde que mudei as opções não voltei mais ao inglês original. Para os puristas, também há a opção de somente manter o áudio na versão original, trabalhando com legendas no idioma de sua preferência.
Nem tudo funciona tão bem
Marvel’s Guardians of the Galaxy é facilmente um dos jogos mais bonitos de 2021, trazendo uma série de efeitos de alta qualidade e suporte a uma implementação muito bem feita de Ray Tracing — que, claro, depende de um hardware parrudo para rodar. Para compensar as altas exigências, a Eidos Montréal também implementou a versão mais recente da tecnologia DLSS, que funciona de forma surpreendentemente eficiente.
No entanto, isso não quer dizer que a parte técnica do jogo é perfeita — longe disso. Em minha jogatina me deparei com diversos momentos em que o game simplesmente congelava (e era preciso reiniciá-lo a partir da Área de Trabalho), cenas em que os diálogos necessários não eram reproduzidos (o que exigia voltar ao último Check Point) e alguns bugs visuais meio bizarros.
Nada disso foi suficiente para destruir a aventura — não houve um ponto em que o progresso se tornou impossível, por exemplo —, mas os problemas são notáveis o bastante para causar incômodo. De forma semelhante, sinto que os desenvolvedores não mandaram tão bem nos trechos em que você controla a Milano, a nave espacial dos Guardiões: falta sensação de impacto de seus tiros, e o sistema de mira é meio confuso de dominar.
Felizmente, as questões técnicas são algo que a equipe de desenvolvimento pode resolver — algo que espero que aconteça logo, visto os relatos de que muitas pessoas com placas da série GTX 1000 não conseguem jogar direito nem nas especificações mínimas. No entanto, ao menos por agora, é bom ficar ciente de que o game pode não se comportar como o esperado em todos os momentos caso você queira jogar a versão PC (que serviu de base para nosso review).
Um dos jogos mais divertidos do ano
Apresentando uma história bem amarrada, personagens com desenvolvimento satisfatório e uma boa dose de combate e exploração, Marvel’s Guardians of the Galaxy é um dos jogos mais divertidos de 2021. Com um ritmo muito bem balanceado e momentos que alternam entre o humor, a ação e diversas reviravoltas, o título cumpre bem o papel de adaptar as aventuras dos heróis espaciais para um ambiente jogável e interessante.
Seja você um fã do grupo ou um apreciador de bons jogos de ação, vale a pena dar uma chance para o título — que vai, no mínimo, fazê-lo esquecer do desastre que foi Marvel’s Avengers. Com duração aproximada de pouco mais de 20 horas, a campanha traz um alto nível de qualidade e é uma das experiências mais marcantes de 2021.
Marvel’s Guardians of the Galaxy está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X, Nintendo Switch e PC (Steam).
Nota: 9 de 10 cachorros espaciais