Review – Calendula

Como jogar um jogo que não quer ser jogado?

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Calendula é o novo jogo indie de terror psicológico da Blooming Buds Studio para PC que tem como premissa  ser um jogo que ‘’não quer ser jogado’’. Com uma proposta inovadora de quebrar a quarta parede e fazer com que os jogadores pensem “fora da caixa”, os criadores desenvolveram uma espécie de jogo que não funciona como deveria e que, ao mesmo tempo, cria uma atmosfera tensa e misteriosa. Segundo o estúdio, Calendula remete à famosa sala vermelha do Black lodge de Twin peaks de David Lynch, um lugar bizarro onde tudo parece estar errado.

Calendula é um jogo que já começa na própria tela de menu, uma vez que, ao tentar iniciar um novo jogo, o jogador se depara com uma mensagem de Fatal error que notifica haver algum problema com o vídeo. Obviamente não há nenhum problema com o computador, mas sim uma espécie de problema com  o próprio  jogo, que aparenta estar funcionando errado. É quase como se existisse uma espécie de entidade na máquina que te impedisse de continuar.

A partir daí tem início um dos dezesseis puzzles existentes no jogo, que deverão ser resolvidos para que o jogador possa avançar e tentar entender o mistério ou o que quer que esteja acontecendo. Além das opções do menu, há um olho com uma mensagem na tela que faz com que o jogador tenha a sensação constante de estar sendo observado, o que contribui ainda mais para o desenvolvimento de uma atmosfera de tensão.

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Dos puzzles simples aos mais complexos e dos mais reais aos surreais, Calendula faz com o que o jogador tenha que pensar além das convenções para chegar a verdade. Também na tela de menu, frases misteriosas aparecem e muitas vezes funcionam como pistas para que o jogador descubra como resolver aquele puzzle. Alguns puzzles são extremamente inteligentes e nada convencionais enquanto outros são chatos e muito intuitivos, no entanto, a fórmula dá certo.

Em Calendula você não faz a mínima ideia de quem é ou qual seu objetivo ou o que deve fazer, o que contribui muito para manter o interesse do jogador do começo ao fim. Ao resolver um puzzle, você desbloqueia uma espécie de cena em que você deve basicamente se deslocar de um lugar até outro que na maioria das vezes são seguidas por cutscenes.

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Você não sabe onde está, o que é bem perturbador. A ambientação funciona bem com a sonoridade de batimentos cardíacos, o cenário é construído por paredes vermelhas, corredores longos com objetos bizarros que giram e portas no fim do corredor que fazem você sentir um arrepio na espinha por não saber o que há depois dali. O mix de tons de vermelho, preto e branco funcionam bem e em muitos momentos há uma sensação de claustrofobia. Infelizmente, não é possível se mover muito para observar detalhadamente os lugares, basicamente o que funciona é ir pra frente e olhar a sua volta. Construído metaforicamente, o cenário é um dos fatores que mais contribui para o mistério do jogo, já que nada nos é dito de lambuja. Os fãs de jumpscares podem ficar um pouco decepcionados já que o jogo não tem a pretensão de desenvolver tensão dessa forma, mas por meio de suas mecânicas e da própria ambientação.

A trilha sonora é mais um ponto posivito para Calendula. Os sons bizarros de vozes, gritos misturados a batidas pesadas e desesperadoras contribuem para o desenvolvimento da atmosfera pesada que permeia o jogo, ao mesmo tempo que contribuem para o terror psicológico. Um dos principais pontos negativos é que o jogo é bastante curto. Você pode terminar o jogo em cerca de meia hora, caso não trave em nenhum puzzle. Ou terminar em uma hora caso trave em algum e pare pra refletir em algum momento sobre tudo que está acontecendo na tela, como no meu caso. De qualquer maneira, infelizmente, Calendula é um jogo bastante curto e que deixa uma sensação de “quero mais” quando termina.

O jogo vale a pena, não só por trazer uma fórmula inovadora e mecânicas que contrariam todas as nossas convenções, mas por criar uma tensão que prende o jogador do começo ao fim, criando um ambiente perturbador e desesperador que nos faz sentir, no final, uma espécie de alívio, o que funciona exatamente como a planta medicinal que dá nome ao jogo, uma planta que traz alívio as dores de quem faz uso. Calendula pode ser um jogo que não quer ser jogado, mas definitivamente é um jogo que quer jogar conosco.

Calendula já está disponível para PC na Steam por R$ 13,99.

Texto por Letícia Motta

Otto

Um rapaz que fez do hobby um trabalho. Sempre interessado em aprender e conhecer mais. Gamer desde criança e aficionado por Board games. Altas madrugadas jogando e trabalhando incansavelmente.