Review – Horizon Zero Dawn

Nasce uma heroína!

No mundo tecno primitivo de Horizon Zero Dawn, tribos pré-históricas coexistem com máquinas inteligentes e aniquiladoras. Os humanos habitantes das aldeias vivem num universo exuberante, cheio de perigos e provações. As criaturas robóticas são tão perigosas e mortais quanto qualquer outra tribo inimiga e, por isso, seu poder deve ser respeitado. Nesse mundo pós apocalíptico, nasce uma exímia caçadora exilada, que deve treinar e se aprimorar ao longo de vários anos para conquistar o merecido lugar em sua tribo. Sua origem é tão desconhecida quanto a origem das máquinas que habitam seu mundo. Sua busca por respostas a levará numa longa e difícil jornada, recheada de emoções, reviravoltas, mistério e batalhas épicas. Seu nome, declarado ainda quando era um bebê, é Aloy.

A jornada de Aloy pode ser comparada com a jornada de uma heroína. Desde o início da história, fica claro que aquela criança aparentemente inofensiva, exilada por sua tribo por ter uma origem questionável, seria destinada a grandes feitos. É possível, em alguns momentos, escolher suas falas, aproximando-se mais de um ideal de personalidade que você deseja que ela demonstre. Apesar disso, ela evidencia um padrão de comportamentos mais altruístas e, além de ser rápida com as flechas, Aloy tem uma língua bastante afiada, se mostrando firme em suas decisões.

Seu guia e protetor, Rost, é o responsável por ensinar sobre tudo aquilo que existe em seu mundo, desde o processo de caça, que necessita de um arco e uma lança; o processo de fabricação de flechas, que é realizado ao reunir uma quantidade de peças necessárias, e até coisas mais simples, como a coleta de ervas presentes na natureza com função curativa e, inclusive, sobre os próprios costumes culturais de seu povo.

Sobreviva num universo encantador

Muito além da habilidade, Aloy se destaca dos demais caçadores e caçadores da tribo Nora pelo seu interesse e potencial de exploração no universo que habita. Desde muito cedo, ela acaba por explorar as ruínas do chamado ‘’Mundo Metálico’’, isto é, as ruínas de uma civilização misteriosa, associada pelas tribos à tecnologia, sendo, portanto, um local de acesso proibido. Em sua pequena investigação ainda quando criança, descobre um dispositivo poderoso, chamado de Focus, capaz de revelar alguns aspectos sobre as tecnologias, como identificar o ponto fraco de adversários e destacar suas rotas até localizar pistas, muito semelhante ao sentido de bruxo utilizado por Geralt em The Witcher 3: Wild Hunt.

A trama principal, muito além de um mero conto numa era pós apocalíptica, nos introduz a uma grande ameaça: alguns humanos estão conseguindo corromper as máquinas, utilizando-as como armas a seu favor. Nesse ponto, a busca por respostas se intensifica e o jogo é tomado mais ainda pelo conflito inteligência robótica x humanidade. Um dos aspectos mais interessantes é que Aloy também descobre um jeito de corromper as criaturas metálicas a seu favor, utilizando-as, como montarias.

A ambientação é única e estonteante, o relevo montanhoso predominante remete aos arduosos picos gelados existentes em Skyrim. Há também longos trechos de campos preenchidos por vegetação dos mais diversos tipos, marcada por suas cores vibrantes, semelhante à vegetação mediterrânea presente no já citado The Witcher 3. A Guerrilla Games, responsável pelo game, fez com que o cenário nos importasse. É praticamente impossível vagar pelo universo de Horizon sem prestar atenção ao seu redor, e não só em razão dos belos gráficos, que, diga-se de passagem, são os mais potentes da geração atual, mas principalmente em função do visual marcante de um universo que deslumbra magia e mistério ao mesmo tempo.

A movimentação, gestos e caracterização de todos os personagens secundários são incríveis e dão ainda mais personalidade ao game. A essência e originalidade que encantam estão exatamente em alguns desses pequenos detalhes. Tanto os humanos quanto as criaturas robóticas são bem desenvolvidos, apresentando um visual único e marcante.

Todas as tribos têm as suas marcas culturais presentes, o que se fica evidente desde uma simples pintura de rosto, até as vestimentas e armas típicas. As máquinas também ganharam sua personalidade própria, assumindo vários tipos diferentes: há os vigias que possuem uma lente de investigação e realizam determinas rotas de inspeção; há também os galopes, criaturas que se assemelham à touros e costumam correr quando surpreendidos. Algumas outras, lembram tigres dente de sabre, sendo tão ferozes quanto. E há, particularmente, máquinas colossais como o ‘’pescoçudo’’, que se assemelha ao já conhecido braquiossauro.

Há muito o que fazer e muito o que conhecer em Horizon, não sendo à toa a existência de inúmeras side quests. Assim como em outros games de mundo aberto, como no próprio The Witcher, as quests secundárias adicionam mais conteúdo ao jogo, trazendo histórias e acontecimentos paralelos. Algumas são mais simples e geram menos envolvimento, mas não são menos divertidas por isso. Assim como Geralt, Aloy faz diferença em seu mundo, ela é necessária e as demais pessoas reconhecem sua importância. O destaque fica para as missões de investigação, que, assim como os contratos para a caça de monstros presentes na saga do bruxo, geram um maior sentimento de suspense e desafio.

Em se tratando de jogabilidade, Horizon Zero Dawn é um parque de diversões. Como uma caçadora habilidosa, Aloy é extremamente versátil, podendo utilizar de seu arco a qualquer momento, seja com flechas normais, de fogo e choque; ou mesmo utilizando de sua lança, que tem um poderoso ataque para remover a armadura dos inimigos. Além disso, outros tipos de armas estão disponíveis como estilingues, armadilheiras, lanças corda e diferentes tipos de arcos com precisão e poder de ataque distintos.

Camuflar-se nas matas mais altas é importante, uma vez que, ser visto por vários inimigos, geralmente, não é uma boa opção. Ao ser vista, a caçadora pode desviar dos ataques inimigos rapidamente, bem como fugir do alcance das máquinas. As mecânicas de escaladas e montaria, por vezes, não funcionam perfeitamente e muitas vezes atrapalham por serem um pouco travadas, mas permitem que você se safe de problemas. Ao converter um galope em montaria, por exemplo, você pode fazer com que ele ataque inimigos enquanto está sobre ele.

O desenvolvimento da protagonista ao longo do jogo se dá por meio de três árvores de habilidades, são elas: gatuna, valente e saqueadora. Algumas dessas habilidades são essenciais e permitem ampliar suas capacidades de dano, concentração, em atrair discretamente máquinas mais facilmente e artesanato. Essa última, em particular, é importante na medida em que o crafting é essencial dentro do game: é constantemente necessário montar todos os tipos de munição (flechas, armadilhas, cordas) e aumentar o espaço em sua bolsa para todos os tipos de itens, como recursos, armas, trajes, etc. É importante lembrar que quanto mais recursos acumulados, como cacos e outros itens mais raros, mais chances de comprar itens de mercadores e evitar que a munição se esgote.

Para enfrentar alguns dos adversários mais difíceis, como chefes, certas estratégias são necessárias. É preciso, por exemplo, descobrir suas possíveis fraquezas, por meio do Focus, estudar seu comportamento e pensar na melhor maneira de aproximar-se. Há vários tipos de trajes disponíveis no jogo e melhorias para armas, que podem ser muito eficientes nesse trabalho, alguns trajes aumentam seu potencial de se esconder, outros, fornecem resistência à congelamento, por exemplo. Nesse universo, nenhuma batalha deve ser subestimada, ainda que Aloy seja uma excelente lutadora.

O game ainda conta com uma trilha sonora memorável, que dificilmente será esquecida. Concomitante ao aspecto cultural desenvolvido na história das tribos, a sonoridade remete aos cantos desses grupos tribais à sua deusa Mãe, às sagradas matriarcas e às vozes de guerreiros. Soa quase que como um chamado de despertar para Aloy e o mundo à sua volta, para os desafios e o destino de ascensão que aguardam por ela. Outro ponto ainda que merece ser destacado é o belo tratamento dado às figuras femininas, que assumem posições importantes como líderes e chefes de batalha, trazendo consigo o protagonismo e a representatividade feminina necessárias no cenário de games atualmente.

Horizon Zero Dawn é com certeza um dos exclusivos mais ambiciosos que aterrissaram no PS4. Com um design visual arrebatador, uma protagonista incrivelmente destemida e uma história recheada de ação e mistério, o título deve se eternizar na memória como um dos melhores exclusivos da Sony e, certamente, um dos melhores jogos de 2017. As batalhas desafiantes contra máquinas brutais e o combate incessantemente divertido, fazem com que alguns defeitos de mecânicas passem quase que despercebidos. HZD é daqueles jogos que merecem ter cada segundo devidamente saboreado. Sem dúvidas, se trata uma das mais belas surpresas da história dos games.

Horizon Zero Dawn já está disponível para PS4. 

Letícia Motta

Huge nerd. Apaixonada por eSports, JRPG's e ficção científica. Passa as horas vagas nos videogames e PC.