Review – Final Fantasy XV

 um mistura de saudosismo e modernidade

Muito do sentimento saudosista com relação à saga Final Fantasy se deve ao marco que essa franquia foi capaz de criar ao longo desses quase 30 anos. Pioneira em alguns dos principais avanços da história dos games, com suas histórias emocionantes, trilhas sonoras memoráveis, o design impecável e a construção de personagens inesquecíveis, os RPGs da Square conquistaram e continuam a conquistar fãs ao redor do mundo.  Foram dez anos de espera pelo mais recente game, Final Fantasy XV, e o sentimento após os primeiros contatos  é de que a espera valeu a pena.

Fazer jogos no final dos anos 80 e em 2016 são coisas bem diferentes e a Square Enix faz com que isso pareça bem evidente. O público fã da franquia FF desde os primórdios cresceu, novas tendências surgiram, o mercado de games já não é mais o mesmo do que era quando os primeiros títulos foram lançados. Mudanças vem e, em grande parte, vem para o bem. A franquia não só cresceu ao longo dessas décadas, mas amadureceu e se adaptou aos novos estilos de jogos, sem deixar de lado os detalhes únicos que marcaram a vida dos seus milhões de fiéis.

Final Fantasy XV é exatamente o resultado de dez anos de amadurecimento e de adaptações. É como um tutorial de como adequar tão bem uma franquia nostálgica, que obteve sucesso com uma fórmula específica, mas que claramente também faria sucesso se funcionasse de outras formas. O novo jogo chega misturando fantasia medieval com tecnologia contemporânea e mantém a mensagem universal da saga sobre amizade, sobre a importância que as pessoas podem ter em nossa vida. ‘’ No I wont be afraid, just as long as you stand, stand by me’’, a música interpretada por Florence, que toca logo no inicio do jogo, define a experiência que vivenciaremos a partir daí, Noctis precisa de seus amigos mais do que nunca e eles o mantém forte.

A longa história de FF XV é sobre guerra, sobre perdas, sobre esperança e sobretudo, companheirismo. Não é à toa que a Square Enix lançou dois contos paralelos ao game, o filme Kingslaive o anime Brotherhood, que servem como complementos incríveis aos fatos narrados ao longo do jogo. Eos é um mundo fictício similar à Terra moderna, na qual existem várias nações: Lucis, Tenebrae, Niflheim, Solheim e Accordo. Com exceção de Niflheim, cada uma delas já possuiu um cristal protetor, que lhes dava um poder político substancial, porém as guerras travadas entre eles fizeram com que todos os cristais fossem perdidos, com a exceção do de Lucis.

Um armistício é declarado entre as nações de Lucis e Niflheim, encerrando uma guerra fria que foi travada sobre a posse do último cristal do mundo. Um tratado de paz é definido e, como parte dos acordos, o príncipe Noctis deverá se casar com a princesa Lunafreya de Tenebrae. São esses os eventos que dão início aos eventos do game. Na pele de Noctis e ao lado de seus melhores amigos e protetores, há uma jornada a ser cumprida, mas não sem muitos (bons) obstáculos pela frente.

O protagonismo de Noctis funciona muito bem, assim como o de Ignis, Prompto e Gladios. A mencionada mensagem de amizade, aparece o tempo todo. É incrível a química e camaradagem existente entre os personagens. Na pele de Noctis, é praticamente impossível se sentir sozinho. Seja explorando o belo mundo de Eos, cujos cenários muitas vezes nos fazem perder muito tempo só admirando; seja viajando no Regalia (o carrão de Noctis), seja durante os combates ou caçadas contra os mais variados monstros, eles estarão lá, tirando fotos, cozinhando, coletando itens, fazendo piadas ou reclamando do calor. E você provavelmente vai se apegar a eles.

O combate a as mecânicas são excelentes e divertidos e funcionam perfeitamente em conjunto ao novo mundo aberto, lotado de amplos cenários. O sistema de combate deixa de ser o queridinho e já conhecido combate por turnos e se transforma na versão mais realista utilizada por Kingdom Hearts e FF Type-0. Dinâmico, veloz, animado e emocionante, o novo estilo não deixa a desejar em nada. Translocação é a principal habilidade do Príncipe Noctis e faz com que muitas vezes tenhamos vontade de usá-la mesmo nas lutas contra os monstros mais fracos.

Para vencer batalhas é importante a capacidade de manter um fluxo constante e adaptável de ações apropriadas, realizando os combos corretos e pensando de maneira estratégica, especialmente contra inimigos mais fortes. As cenas de luta são integradas homogeneamente com os ambientes sem nenhum carregamento ou transição. Uma barra indicadora aparece na tela toda vez que o jogador se aproxima de algum inimigo; se ele não foge antes do tempo designado, um combate é iniciado e os inimigos irão atacar o grupo.

O sistema de cobertura contextual permite que os jogadores se protejam de ataques, recuperem sua vida ou ativem ações com armas específicas. Noctis pode se translocar para essas coberturas, possibilitando a realização de combos e de ataques que dão muito mais dano. Esquivas e bloqueios podem ser feitos, entretanto, bloquear gasta pontos de magia e Noctis não consegue se desviar automaticamente, com cada desvio precisando ser sincronizado com o ataque inimigo. Infelizmente, só é possível controlar as ações do protagonista, mas existem alguns comandos específicos de luta para designar aos seus companheiros.

As magias e invocações (summons) estão presentes em momentos muito pontuais. Há um tipo de magia que só pode ser utilizada por Noctis e outra focada em energias elementais que podem ser refinadas em frascos de feitiços. Estas são guardados no inventário do jogador e podem ser úteis em batalha ou para melhorar armas. Já os monstros que podem ser invocados são organizados em classes e subdivididos em um sistema de classificação, com Leviatã estando entre os mais poderosos. Eles devem ser derrotados em batalha ou adquiridos de forma diferente para poderem ser utilizados pelo jogador.

A variedade de possibilidades em FF XV encanta. São inúmeras Quests além da principal, caçadas diversas com uma incrível variabilidade de inimigos (o que certamente lembra de The Witcher), sendo alguns deles monumentais, lindos cenários a serem explorados num mundo aberto recheado  de segredos, como tesouros. A trilha sonora, segue o ritmo do jogo e se mantém nostálgica e contemporânea ao mesmo tempo. Rodar as estradas contemplando os cenários, correr com os Chocobos pelos grandes campanários e explorar as mais sombrias dungeons são algumas das coisas mais legais que você pode realizar, enquanto evolui seu personagem.

Isso não quer dizer que o novo game não tenha falhas. Por vezes, a história deixa algumas pontas soltas e a narrativa se enrola, mas nada que comprometa toda a experiência oferecida, que continua valendo muito a pena. O trabalho de localização, muito bem feito, por sinal, nos deu de presente todo o jogo com legendas em PT-BR, oferecendo uma jogatina ainda mais imersiva. FF XV é, acima de tudo, um misto de saudosismo e modernidade, de tradição e inovação, de passado e futuro, certamente um prato cheio para os fãs e para os novos jogadores da saga.

Final Fantasy XV já está disponível para PS4 e Xbox One.

Letícia Motta

Huge nerd. Apaixonada por eSports, JRPG's e ficção científica. Passa as horas vagas nos videogames e PC.