Folheando – Fort of Apocalypse vol.1 (Editora JBC)

A segurança repousa no pior lugar

Em sua concepção, histórias de zumbi serviam como uma metáfora crítica da sociedade. Assim como o sci-fi, a realidade é extrapolada para mostrar como elementos cotidianos estão deturpados. Os mortos-vivos demonstram como a civilização, mesmo que perdida, ainda se apega à velhos hábitos como consumismo exagerado ou a segregação racial. O mangá Fort of Apocalypse, se apega a metáfora de zumbis para discutir como a humanidade pode perder sua civilidade, tudo depende de um ponto de vista.

A obra de Kazu Inabe e Yuu Kuraishi conta a história de Maeda Yoshiaki, um jovem rapaz que é acusado por um assassinato que não cometeu e é encaminhado para um reformatório juvenil. Enquanto Maeda luta para se adequar à sua nova realidade, o mundo do lado de fora da prisão sofre com um vírus que transforma as pessoas em canibais violentos. Fort of Apocalypse não tenta pegar leve no grotesco, seja ele do comportamento real das pessoas quando colocadas em um confinamento ou na violência causada por esses infectados comedores de carne humana.

Muitos mangás tentam criar um ambiente divertido, onde o leitor sente-se confortável com o passar da página, porém esse não é o caso. Fort of Apocalypse provoca o asco e desconforto, e por incrível que pareça, isso é bom. Nenhuma situação descrita na trama é feita para ser digerida facilmente, afinal a narrativa é contada pelos olhos de um inocente que foi colocado em um ambiente de pessoas violentas, e se isso não fosse suficiente, potencializado por um fator externo. É uma história sobre sobrevivência, onde saem de cena os sobreviventes badass de The Walking Dead e assumem garotos com o menor número de recursos possíveis. Existe uma página inteira onde um dos companheiros de cela de Maeda aplica uma série de golpes em um zumbi e a criatura ainda continua viva com o pescoço torto por conta do ataque.

O mangá é bem maleável e fino, ele traz os três primeiros capítulos da obra, a tradução foi bem feita e todas as partes são bem legíveis, seja nos balões quanto nas indicações existentes de banners ou mensagens que ficaram originalmente em japonês nas páginas. Não é uma leitura recomendada para os de estômago fraco, pois algumas páginas podem ser bem desconfortáveis.

Fort of Apocalypse é um conto aflitivo, onde cada página traz um mistério sobre a possibilidade da sobrevivência de cada um dos personagens. A história ainda coloca o leitor em um questionamento interessante: “O que você escolheria? Ficar preso com criminosos violentos ou estar livre e lutar contra zumbis?”. Vale lembrar que a segunda opção não é a facilidade romantizada por Hollywood, cheia de headshots e armas em abundância.

Fort of Apocalypse é o 3º lançamento de 2017 da Editora JBC com um total de 10 volumes, uma obra que deixa os leitores intrigados após terminar o primeiro volume, não apenas sobre a continuidade de sua história, mas também sobre um posicionamento nas desventuras perturbadoras descritas em suas páginas.

Fort of Apocalypse já está disponível nas bancas, livrarias e lojas especializadas por R$14,90

Kaio Augusto

Uma pilha gigante de referências. Perdido entre produções orientais e ocidentais, seja nos games, música,literatura, cinema ou quadrinhos. Gasta horas pensando em aventuras de RPG de mesa, teorias malucas ou apenas o que fazer em seguida.