Crítica – A Garota na Teia de Aranha

Meio sequência, meio reboot, A Garota na Teia de Aranha abandona os comentários sociais de seu predecessor e se entrega a uma ação pouco inspirada.

Lisbeth Salander está de volta. O filme é uma continuação indireta de Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres(2001), de David Fincher, se aproveitando do universo estabelecido, mas mudando os atores e outros pequenos pontos. Nele, a hacker, interpretada por Claire Foy, é contratada para reaver um projeto ultrassecreto do governo americano. Com a ajuda de seu antigo amigo, Mikael Blomkvist(Sverrir Gudnason), Lisbeth se depara com uma conspiração que envolve segredos governamentais, hackers e seu misterioso passado.

O segundo capítulo americano da saga Millenium se debruça sobre o passado, mostrando o perigo de deixá-lo mal resolvido, como se isso fosse um convite para invadir a vida de quem deseja esquecê-lo. Esse papel é prestado pela misteriosa família de Lisbeth, que ao desenrolar da trama, parece cada vez mais presente na cabeça, e na vida, da protagonista.
É uma pena que o mesmo paralelo possa ser traçado na vida real, ao se falar da produção do filme, que continua a saga começada por David Fincher. Se Claire Foy consegue se destacar como Lisbeth e se desvencilhar da personagem criada por Rooney Mara, o mesmo não pode ser dito dos demais atores e principalmente de seu diretor, Fede Alvarez, que joga para o lado todo os panoramas sociais retratados na saga para criar um filme de ação e espionagem que pouco lembra o crítico thriller de Fincher ou os romances de Stieg Larsson, escritor da série.
Ao optar por uma abordagem mais simplistas das tramas e dos dilemas morais presentes na série Millenium, Alvarez acaba produzindo um filme visualmente belo e com boas cenas de ação, mas que parece mais do mesmo, mais um filme de ação que será esquecido em poucos meses. Ciente de que Salander é muito ligada sua luta contra abuso sexual e físico de mulheres, o diretor incluí no longa um momento que pouco tem relevância a história, onde Lisbeth salva uma esposa vítima de seu marido. Mas é apenas isso, não há maior desenvolvimento ou repercussão na trama.
É Claire Foy, entretanto, que dá vida ao filme, encarando Lisbeth como a mulher dura e forte que é, mas sem confundir fortitude com insensibilidade. Lisbeth sofre, sofre como qualquer humano, e é isso que a torna tão forte. A possibilidade de sofrer e continuar lutando. Nos momentos finais do longa, em uma conversa emocionante com uma figura de seu passado, Foy realiza a proeza de mostrar os sentimentos em uma figura tão dura como Lisbeth, sem nunca parecer forçada ou falsa.
Os demais atores pouco conseguem fazer com o que lhes é dado, Sverrir Gudnason é um Mikael que quase não tem oportunidade de aparecer, sendo um mero detalhe em uma franquia que antes era co-protagonista. Já LaKeith Stanfield, interpretando o agente do FBI Alona Casales, é constantemente exaltado como um ótimo agente, mas a todo momento falha ou é enganado por todos, brilhando apenas nas cenas de ação.
Em certo momento, um dos personagens diz a Salander que tem medo que o passado o engula. Infelizmente, o filme parece incapaz de fugir das comparações com o seu passado, mesmo que tenha mudado todos seus atores. Com boas cenas de ação, A Garota na Teia de Aranha parece esquecer o seu material fonte, tornando-se um filme genérico, mas que é capaz de divertir.
Texto por Daniel Vila Nova

Daniel Vila Nova

Fã de literatura, vai de Machado de Assis a Turma da Mônica em uma única sentença. Jogador de RPG, tem todos os consoles da Sony mas jura que não é Sonysta. Adora filmes ruins.